O quarto disco de Elliott Smith tem uma produção mais cuidada e uma mais extensa paleta de timbres. As canções são as de sempre: doces e tristes, lindas de morrer.
Os três primeiros discos de Elliott Smith – despojados e artesanais – aconteceram na obscuridade do circuito independente. Tudo mudou com o inesperado sucesso do single “Miss Misery”, nomeado para o óscar de melhor banda-sonora e perdendo para Céline Dion (impossível concorrer com a ogiva de azeite do Titanic). Assina então com uma major e grava pela primeira vez num estúdio profissional.
Tudo se conjuga então em XO: grandes canções, uma produção polida e arranjos sofisticados. Os temas começam despidos (quase só guitarra acústica e voz) mas vão-se agasalhando pelo caminho: um piano de feira aqui, uma discreta guitarra eléctrica ali, um baixo e uma bateria acolá. A estética orgânica, tipo pipa de carvalho, deve muito aos Beatles, de longe a sua principal referência. Há mesmo uma citação de um clássico dos fab four: a linha de guitarra de “Baby Britain” é pedida emprestada a “Getting Better”. As bonitas harmonias vocais, onde Elliott é Lennon e McCartney ao mesmo tempo, são agora mais complexas. O tema que encerra o disco, “I Didn’t Understand”, é a capela, deslumbrando-nos com a sua doçura celestial.
As canções ficam logo no ouvido mas a sua construção é quase sempre complexa e engenhosa. Veja-se o exemplo de “Sweet Adeline”. Acordes maiores soando tristes? Só o príncipe do desalento o consegue. O truque é acompanhar os acordes com notas que descem sempre os degraus da sua escala, criando assim a tal disposição melancólica.
“Waltz #2” tem uma elegância quase erudita, Chopin para indies. As palavras não lhe ficam atrás: “ela não mostra qualquer emoção, olha para o vazio como uma boneca de porcelana morta”. Não se deixem enganar pela doçura da voz de Elliott, ela esconde sempre o mais sombrio negrume: as drogas mascarando a dor, o amor trucidado pela vertigem da auto-destruição. A beleza em Elliott Smith nunca é paz, é maldição.
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