sexta-feira, 14 de abril de 2023

Resenha Caravan Álbum de Caravan 1968

 

Resenha

Caravan

Álbum de Caravan

1968

CD/LP

Ainda que, longe de soar com o mesmo brilhantismo atingido em discos seguintes, a estreia da banda Caravan pode ser considerada facilmente uma estreia muito boa, suas músicas no geral são interessantes, mas há alguns problemas nesse disco que não existe possibilidade algum de serem ignorados, a mixagem é fraca e a produção - feita pela própria a banda – me faz pensar se eles realmente estavam gravando algo para ser lançado profissionalmente, ou somente era uma brincadeira despretensiosa, para que alguns detalhes cruciais para o bom desenvolvimento de um disco profissional fossem meio que ignorados aqui. Na versão remasterizada de d002, tudo soa melhor, inclusive, é essa que tenho aqui para fazer a resenha no momento, mas achei válido comentar esses pontos baixos da versão original.   

Se você está mais interessado em uma música progressiva, talvez esse disco não entregue a dosagem necessária para suprir sua demanda, afinal, diferentemente de outros álbuns e que seriam lançados no auge do grupo, aqui temos muito mais um disco de música psicodélica e que encontra o rock progressivo apenas em alguns lugares pontuais.  O disco apresenta 8 faixas, a maioria das vezes, descontraídas. Os vocais são equilibrados, a seção rítmica entrega um trabalho muito orgânico, enquanto as guitarras são bem executadas e as teclas possuem uma onipresença de órgão e ocasionalmente piano.  

“Place Of My Own” já inicia o disco mostrando que a entrega musical da banda ainda está fortemente enraizada na música psicodélica dos anos 60. Uma bateria isolada logo ganha a companha dos demais instrumentos e os primeiros vocais. Durante o interlúdio instrumental, o destaque é do órgão. “Ride” começa por meio de uma percussão, enquanto uma guitarra suave vai surgindo e aumentando o seu volume lentamente. Novamente, um som bastante psicodélico e até certo ponto, de tendências enigmáticas, os backing vocals possuem alguns efeitos de eco e que faz com que há um aumento de sensação de viagem na experiência auditiva. Certa vez li, que segundo palavras do próprio Pye Hastings, essa peça foi inspirada no tipo de som que o Traffic produzia naquele período.  

“Policeman”, aqui quem assume os vocais é Richard Sinclair – também as guitarras, enquanto Pye muda para o baixo -, sendo ele, também, o compositor da peça. É bastante nítido que tanto os seus dotes composicionais, quanto vocais ainda se encontram meio mirrados, digamos assim. De qualquer forma, a peça tem uma melodia bem legal e um estilo de composição que faz com que venha o Syd Barrett em mente.” Love Song With Flute” é um dos destaques do disco. Tem as melhores harmonias vocais do álbum em uma estrutura musical excelente. Vale destacar também a participação do convidado, Jimmy Hastings - irmão mais velho de Pye -, que entrega um trabalho de flauta sensacional.  

“Cecil Rons”, sem dúvida alguma, pode ser considerada uma das músicas mais insólitas de todo o catálogo da banda. Há um bom método de equilíbrio entra a sua loucura sonora e uma dissonância caótica de alguns gritos desesperadores. Na sua parte final, há um estranho, porém, eficaz trabalho de órgão. “Magic Man” é mais uma música muito bonita e com fortes raízes psicodélicas. Os vocais conduzem a peça de forma distinta, enquanto a melodia tem a sua beleza elevada principalmente pelos trabalhos de teclas que criam criativas progressões de acordes.  

“Grandma's Lawn” é talvez a música do disco que possui o maior DNA do rock psicodélico dos anos 60. Dave mais uma vez desfila com o seu órgão de forma ácida. Mesmo sendo bastante simples, mantem o nível do álbum. “Where But For Caravan Would I?”, era inicialmente uma música composta por Brian Hopper e Pye Hastings para a Wilde Flower, sendo retrabalhada e lançada aqui. Com quase 9 minutos, é de longe a música mais longa do álbum. Até perto dos 2 minutos e meio é uma música bastante relaxante, então entra uma jam poderosa que eleva a energia da faixa com o órgão sendo o instrumento que lidera a trilha até o ritmo relaxante regressar junto de vocais evocativos. O refrão é bastante envolvente. Por volta dos 7 minutos e meio há novamente alguns ataques de órgão que permanecem até o fim da música.  

Apesar de ser um disco que fica aquém do que a banda faria em seus próximos, pelo menos, 4 álbuns, essa estreia mostra claramente alguns vislumbres promissores em relação ao que o grupo estava preparando para o futuro. Não é a melhor porta de entrada se você procura a essência do Caravan, de qualquer forma, há uma entrega musical muito boa.  

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