quinta-feira, 6 de abril de 2023

Resenha New Meaning Álbum de Tempers 2022

 

Resenha

New Meaning

Álbum de Tempers

2022

CD/LP

Tempers é um duo de música alternativa de Nova Iorque, mas com conexões europeias. O guitarrista Eddie Cooper, por exemplo, morou na Alemanha durante algum tempo; por sua vez, a vocalista Jasmine Golestaneh, nascida na Florida, tem ascendência letã. O que uniu os dois foi a paixão que partilhavam pelo Kraftwerk e pelo krautrock, considerados por ambos as fundações do som do Tempers, que eles próprios definem como sendo um “dark synth pop com influências do pós-punk”. Como se pode ver, não é por acaso que a audição de seu mais recente trabalho, o álbum New Meaning, lançado no ano passado pelo selo Dais Records, pode confundir o ouvinte, que pensará tratar-se de algo vindo do lado de lá do Atlântico e não da Grande Maçã. 

Em entrevistas, a dupla admite outras influências, que vão de Joy Division a Nirvana, passando pelo shoegaze. Pode-se ouvir ecos indisfarçáveis dessas referências em seu álbum de estreia, Services, de 2015. Mas as guitarras foram ficando menos angulares e abrasivas no disco seguinte, o depressivo e arrastado Private Life, de 2019. A partir daí o som do Tempers foi se movendo em direção a climas mais glaciais, todavia menos parecidos com a neve lamacenta e escorregadia do inverno novaiorquino do que com os congelantes dias sem sol de algum país nórdico. Do trabalho anterior, New Meaning herdou as guitarras mais econômicas, comprometidas com climas e texturas, e os vocais ainda mais gélidos e monótonos de Jasmine. Tanto a voz dela quanto o trabalho de Eddie na guitarra soam aqui como se deslizassem despretensiosamente sobre bases eletrônicas robóticas, frias e alienantes, mas, ainda assim, melódicas e cativantes. O disco abre com um pastiche de Sisters of Mercy, “Nightwalking”, no qual Jasmine Golestaneh canta “eu sei que sigo em frente… mas eu não estou certa de para onde estou indo”, evocando a atmosfera de um sonho estranho e sombrio. A base rítmica faz a música soar como uma marcha a passos lentos e hesitantes em direção a algum tipo de recôndito escuro. O soturno começo é quebrado, em seguida, pela canção que mais se aproxima de algo que pode ser chamado aqui de pop: “Unfamiliar”, o single escolhido para puxar o lançamento de New Meaning. Apesar de ser uma música mais upbeat, “Unfamiliar”, liricamente falando, é quase uma continuação de “Nightwalk” (“eu sonhei com outro lugar… então, eu poderia ter sido outra coisa… mas eu estava tão perdida quanto eles”). Um vídeo promocional dessa faixa está disponível no YouTube. Já em “It Falls Into You”, um dos pontos altos do álbum, Jasmine se utiliza de overdubs para uma rara exploração das diferentes nuances de sua voz, com as linhas vocais ora entrando e desaparecendo de forma quase fantasmagórica, ora se sobrepondo em camadas. Outro momento de destaque é “Song Behind a Wall”, a faixa que talvez melhor se enquadra na maneira como a própria banda descreve sua identidade musical (vide primeiro parágrafo). Ela é seguida por “Carried Away”, que soa como uma espécie de Pet Shop Boys com depressão (e não, caro leitor, isso não é uma crítica negativa). A cereja do bolo fica justamente para o final, com “Sightseeing”, que soa como se o Depeche Mode e os Chemical Brothers tivessem escrito uma música juntos e convidado Bilinda Butcher para cantar. Apesar de quase totalmente desconhecido no Brasil, o Tempers já desfruta de uma boa reputação no exterior, pois existe um pouco de bochicho em torno da dupla na América do Norte e na Europa. No segundo semestre do ano passado, Eddie e Jasmine tocaram em palcos do México e, também, da Inglaterra, da Alemanha, da Grécia e de Portugal. New Meaning é, até o momento, seu trabalho mais celebrado, além de ser o que está abrindo portas em diferentes mercados. Não chega a ser uma obra-prima indie, mas vale a conferência, com absoluta certeza. Indicado para se dançar sozinho trancado no quarto, com as luzes totalmente apagadas.

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