quinta-feira, 6 de abril de 2023

Resenha Pop Obskura Álbum de The Low Frequency in Stereo 2013

 

Resenha

Pop Obskura

Álbum de The Low Frequency in Stereo

2013

CD/LP

Oriundos da gélida Noruega, o quinteto The Low Frequency in Stereo era uma daquelas bandas difíceis de se rotular. Talvez por preguiça de alguns críticos musicais, foram associados ao chamado pós-rock, sabe-se lá o que isso realmente queira dizer. Sua proposta musical era um amálgama de influências bacanudas, mas bem distintas entre si, como Dick Dale, a space age music de Esquivel, o Pink Floyd do período Syd Barrett, The Doors e as batidas repetitivas e hipnóticas de bandas alemãs como Neu! e Can. Surgido bem no comecinho dos anos 2000 na cidade de Haugesund, o grupo era formado originalmente por Per Steinar Lie (baixo), Per Hansen (guitarra), Hanne Eidsvåg Anderson (teclados, sampler) e Ørjan Haaland (bateria). Alguns anos mais tarde, Per Hanse foi substituído por Njål Clementsen (que também era vocalista) e, de quebra, a banda ainda foi reforçada por uma quinta integrante, Linn Frøkedal (teclado, guitarra e voz).

Seus dois primeiros álbuns, lançados entre 2002 e 2004, e o EP Astro Kopp, que saiu em 2005, eram basicamente instrumentais e muito pouca coisa nesses trabalhos realmente saltava ao ouvidos. O material da banda começou a ficar mais interessante mesmo a partir do disco The Last Temptation of… The Low Frequency Stereo Vol. 1, de 2006, o primeiro a trazer vocais de forma genuinamente regular. Esse LP foi sucedido pelo excelente Futuro, de 2009, que traz o que, possivelmente, é uma das faixas mais acachapantes da primeira década do século XXI: “Solar System”. Esta, por sua vez, ganhou uma versão ao vivo com doses extras de anfetamina e adrenalina no ótimo vinil duplo ao vivo Live at MoldeJazz, que conta com a participação especial do saxofonista Kjetil Møster, que também tinha emprestado seu talento em Futuro. O canto do cisne do The Low Frequency in Stereo foi o disco Pop Obskura, de 2013. Produzido pela própria banda, ao lado de Jørgen Træen, e lançado pela Long Branch, um sub-selo da gravadora independente alemã SPV Records, trata-se de um álbum cerebral que, mesmo salpicado de doses generosas de psicodelia experimental, consegue ser bastante acessível e até mesmo pop em alguns momentos. É impossível não se sentir fisgado de imediato com a faixa de abertura, “Elevated / Desecrated”, uma canção que consegue emular algo que só poderia existir em nossos sonhos mais delirantes: o encontro entre a batida motorik de Klaus Dinger, uma linha de baixo pulsante ao estilo Joy Division e o órgão Farfisa do saudoso Richard Wright. “Elevated / Desecrated” também ganhou, em 2018, um belo remix numa pegada etérea e psychopop feito por outra banda norueguesa, o Closing Eyes. A viagem prossegue através de “Colette (Subie Subie)”, uma efêmera, porém deliciosa (e um tanto quanto estranha também) bobagem pop sessentista. As marolas da década em que talvez você não tenha estado caso se lembre dela também podem ser ouvidas em um dos pontos altos do disco, “Cybernautic”, faixa escolhida para ser a “música de trabalho” de Pop Obskura e que traz ao fundo zumbidos fantasmagóricos que parecem saídos de um Theremin e ruídos eletrônicos roubados de algum disco dos Silver Apples. Para resumir, “Cybernautic” pode ser definida como sendo o tipo de faixa em que que o ouvinte pode atingir estados alterados de consciência enquanto dança. Bem diferente, portanto, da estridência noisey de “Black Receiver”, uma experiência de pouco mais de três minutos e meio que nos remete ao som de uma emissora de rádio mal sintonizada. “Satellites in Sight” é a canção que abre o lado B (caso você tenha em mãos a edição em vinil) e aqui o drive é por conta do baterista Ørjan Haaland, que, tal como um maquinista de uma imaginária locomotiva futurista, nos conduz em uma viagem sem paradas no meio do caminho por uma interminável estrada de ferro que cruza o espaço sideral. Já “Ionic Nerve Grip” justapõe jazz, dub e spoken words (cortesia de Njål Clementsen), com o coro de vozes de Hanne Anderson e Linn Frøkedal ao fundo criando um clima de tensão. “White Echo” é um aceno ao Velvet Underground, embora seja também o único momento em todo o disco em que o The Low Frequency in Stereo retorna às suas origens como banda de rock instrumental. O álbum se encerra com “Second Hand Nation”, canção dominada pela cozinha entrosada formada por Haaland e Steinar Lie, mas com uma dramática melodia de órgão elétrico em rota de colisão com os vocais suaves e etéreos de Linn e Hanne. Um final e tanto. Com Pop Obskura, o The Low Frequency in Stereo havia conseguido suas credenciais para dar início à sua jornada rumo a conquista de mercados maiores. O grupo obteve as bençãos de David Fricke (editor sênior da Rolling Stone) e de veteranos do rock como Michael Stipe (ex-R.E.M.). Mas a banda encerrou suas atividades justamente depois de lançar seu melhor e mais maduro trabalho e que, inclusive, lhes garantiu uma indicação na categoria “Melhor Álbum Pop” no Spellemannsprisen (uma espécie de “Grammy norueguês”). Atualmente seus ex-integrantes se encontram dispersos atuando em outros projetos musicais, como Les Dunes, Action & Tension & Space, Misty Coast e The Megaphonic Thrift. Mas nenhum desses grupos conseguiu ainda reeditar o êxito criativo e a consistência dos últimos trabalhos do Low Frequency, em especial Pop Obskura.

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