sábado, 22 de abril de 2023

Resenha Si Todo Hiciera Crack Álbum de Crack 1979

 

Resenha

Si Todo Hiciera Crack

Álbum de Crack

1979

CD/LP

Eu sempre fico extremamente surpreso quando me deparo com algum disco de rock progressivo de qualidade incrível lançado no fim dos anos 70, embora, quando a origem do disco é a Espanha, as coisas fiquem mais compreensíveis, tendo em vista que as bandas passaram a se expressar mais livremente após a morte do ditador Francisco Franco no final de 1975, tanto que basicamente todos os grandes álbuns de rock progressivo 70’s espanhóis foram lançados a partir da segunda metade da década. Todas as suas 7 faixas são encantadoras, usando sempre de uma bela harmonia entre guitarra, violão, teclado e flauta. Entre as suas influências, o Genesis é a mais forte – principalmente, pela maneira sensível dos acordes nos trabalhos de teclas –, mas também há algumas reminiscências de Jethro Tull bastante aparente quando o uso de flauta é quem lidera a música. 

“Descenso En El Mahëllstrong" começa por meio de alguns belíssimos e delicados toques de violão e um piano com bastante influência na música espanhola sendo tocado por cima de um barulho de água corrente. A música ganha mais intensidade com a entrada da flauta. Uma peça instrumental que já deixa claro que estamos diante de um disco de muita qualidade. Seção rítmica pulsante, flauta e piano que parecem bailar entre si e uma guitarra no final que traz a faixa para um clima bastante introspectivo. “Amantes De La Irrealidad”, agora sim, uma faixa com vocais – cantados em espanhol. A voz masculina apoiada por uma voz feminina quase operística já impressiona antes mesmo da música começar de fato. O trabalho das teclas em geral é lindo, assim como algumas linhas de guitarra e flauta, enquanto isso, mais uma vez a cozinha constrói uma pavimentação sólida em toda a faixa. A partir dos 4:15, a peça entra em uma sonoridade atmosférica que dura quase dois minutos e então chega ao fim.  

“Cobarde O Desertor”, violão e alguns vocais intensos e distintos iniciam a peça. Sabe quando uma música não é ruim, mas mesmo assim não consegue nos capturar? Eis aqui um exemplo clássico disso. É uma espécie de música pop complexa, com uma boa linha de baixo e bateria bem construída, além de um trabalho de teclas que, embora um pouco excêntrico, também fazem com que o ouvinte diferencie uma música igual a essa de uma peça pop comum. De qualquer forma, é a faixa no disco que menos me cativa. “Buenos Deseos”, os primeiros 13 segundos que antecedem o vocal me fazem lembrar dos cubanos da Anima Mundi – embora seja mais certo a Anima Mundi lembrar esse trecho, já que é uma banda que surgiu mais de duas décadas depois deste disco. De qualquer forma, é pouca coisa e eu nem estou me lembrando a música ao certo, acho que é em algum interlúdio da “Springs Knock’s on the Door of Men”. Mas voltando ao que interessa, aqui a banda embora ainda tenha uma abordagem sinfônica, há também fortes traços folks. O coral, embora seja feito por teclados, consegue transmitir quase a sensação de ter pessoas cantando. Uma coisa que gosto muito nesse disco são as suas linhas de baixo, sendo que essa faixa talvez traga as melhores de todo o álbum.  

“Marchando Una Del Cid (Partes 1 y 2)” começa primeiramente por meio de uma bateria em ritmo de marcha militar, mas logo ganha a companhia dos demais instrumentos, sendo a flauta o principal deles, inclusive, ela é que lidera o andamento – tendo a companhia bem próxima do piano. Mas real é que todos os instrumentos estão brilhantes na música. Considero essa a melhor introdução entre as faixas do disco. Os vocais aqui são muito intensos. Destaque também para o interlúdio que inicia por volta de 2:50 e que é de uma sonoridade muito poderosa. No geral, é mais uma peça sinfônica muito bem construída. “Si Todo Hiciera Crack” é a faixa título e a peça mais longa do disco com os seus pouco mais de 13 minutos. O piano deixado pela faixa anterior vai emergindo aos poucos e servindo como abertura aqui. A banda entrega uma variação incrível entre momentos de pura melancolia e linhas instrumentais mais aventureiras. Os vocais femininos que só estiveram apoiando os principais e masculinos, aqui tem uma participação muito mais sobrestante. O trabalho das guitarras e violões entregam linhas muito otimistas e graciosas, enquanto os teclados sejam, provavelmente, o que tem de melhor na peça, tanto em seus momentos solos, ou quando “apenas” preenchem a música com tapetes de ideias sinfônicas maravilhosas. Sem dúvida, é onde está o ápice criativo do disco. “Epílogo”, bom, o nome já sugere o que temos aqui. Com menos de 2 minutos, se trata de uma peça bastante rica em flauta e de uma seção rítmica cheia de requinte, além de algumas ótimas e pontuais ideias de piano.   

Si Todo Hiciera Crack é sem dúvida alguma, um dos melhores e maiores feitos da história do rock progressivo espanhol. É realmente muito triste ver um grupo dessa qualidade basicamente desaparecer após ter lançado apenas um álbum – ainda que isso fosse bastante comum nos anos 70. No geral, a banda entrega um som complexo, de muitas nuances, bastante animado e inspiradíssimo, além de vocais cheios de paixão. É uma obra-prima? Só não digo que sim por conta de “Cobarde O Desertor”, que embora não seja ruim – longe disso inclusive -, não bate na mesma frequência das demais.  De qualquer forma, imperdível para qualquer amante de rock progressivo sinfônico. 

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