quarta-feira, 26 de abril de 2023

Review: Epica – Omega (2021)

 


Existem duas grandes referências quando falamos de metal sinfônico: Nightwish e Epica. Enquanto os finlandeses alcançaram o topo de popularidade com Tarja Turunen, mantiveram a qualidade lá em cima nos discos gravados com Anette Olzon e se reinventaram com a chegada de Floor Jansen, os holandeses mantém desde o início uma formação sólida onde se destacam três integrantes: a vocalista Simone Simons, o guitarrista e vocalista Mark Jansen e o tecladista Coen Janssen. E dá pra colocar mais uma variante nessa equação: quanto o último disco do Nightwish, Human. :||: Nature., dividiu os fãs, em seu novo álbum o Epica apresenta um de seus trabalhos mais complexos e sensacionais.

Omega é o sucessor de The Holographic Principle (2016) e The Quantum Enigma (2014), seus companheiros na trilogia metafísica da banda. O disco tem como conceito central a ideia de que os seres humanos estão se distanciando cada vez mais uns dos outros, quando, na verdade, prosperamos muito mais quando trabalhamos juntos. O título faz uma alusão a isso, com as letras explorando a teoria do Ponto Ômega, que descreve a busca pelo nível mais elevado da consciência humana e defende que quando isso acontecer todas as mentes do planeta se fundirão em uma só, fazendo da humanidade um único ser que habita o planeta, inclusive fora de nossos corpos e mentes. Quando atingirmos esse estágio, alcançaremos o ponto final da evolução humana. E aqui vale outra vez citar o Nightwish, já que a evolução também foi o assunto do penúltimo disco da banda, Endless Forms Most Beautiful (2015), cujo conceito se baseou nas teorias apresentadas e defendidas por Charles Darwin e Richard Dawkins.

Produzido pela própria banda e por Joost van den Broek (Ayreon, Blind Guardian, Powerwolf), Omega apresenta doze novas canções e é um disco relativamente longo, com 70 minutos de duração. Há duas suítes – “Kingdom of Heaven Part III – The Antediluvian Universe” e “Omega – Sovereign of the Sun Spheres” – e o álbum conta com as participações especiais de Marcela Bovio (backing vocal, vocalista da outra banda de Mark Jansen, o Mayan), Linda Janssen (backing vocal, esposa de Coen Janssen), Zaher Zorgati (traduções e vocais em árabe, vocalista do Myrath), Paul Babikian (narrações) e Vicky Psarakis (narrações, vocalista do The Agonist). E, no lado orquestral, a banda trouxe um coro de vozes eruditas, um coro infantil e a Orquestra Filarmônica de Praga.

Toda essa grandiosidade é traduzida em um álbum que explora a sonoridade naturalmente rica e complexa do Epica com a excelência habitual. Há belas melodias, arranjos criativos, alternância de movimentos e uma performance arrebatadora. A banda construiu a sua identidade ao longo dos anos, e Omega é mais um passo nesse processo, uma afirmação da forma de fazer música do Epica, sem maiores inovações porém com uma qualidade inquestionável.

Agressivo e melódico, o som do Epica é marcado pela grandiosidade e pelo contraste entre a voz limpa de Simone Simons e o gutural agressivo de Mark Jansen, tudo isso amparado por uma união poderosa entre metal e música clássica. Logo após a breve intro, “Abyss of Time – Countdown to Singularity” já deixa isso claro e cativa de imediato com belos coros, Simone brilhando e um trabalho muito legal de guitarra na parte central. “The Skeleton Key” tem cara de single e deve se transformar em uma das preferidas dos fãs, enquanto “Seal of Solomon” e “Freedom – The Wolves Within” mostram que a união entre o metal e o erudito, quando bem feita, é linda de se ouvir.

Os momentos altos se sucedem. “Gaia” é redonda do início ao fim e deve se transformar em hit sem muito esforço. A atmosfera étnica de “Code of Life” remete aos impérios lendários de séculos atrás, e seu clima árabe traz o Epica trilhando um caminho pouco explorado pela banda em sua carreira.

O grande destaque é a longa “Kingdom of Heaven Part III – The Antediluvian Universe”, a peça central de Omega. Seus mais de treze minutos mostram o Epica explorando ao máximo os seus poderes, com harmonias, melodias e coros construindo uma canção grandiosa e imponente. Um exercício de composição primoroso, que coloca na mesa todos os atributos que transformaram o grupo holandês em uma referência do metal sinfônico.

A parte final do álbum traz Simone brilhando na balada “Rivers”, o lado metal vindo à tona com força total em “Synergize – Manic Manifest”, outro potencial single em “Twilight Reverie – The Hypnagogic State” e um belíssimo encerramento com a magnífica “Omega – Sovereign of the Sun Spheres”.

Sem exageros, Omega é um disco excelente de uma banda excepcional. A prova de que o Epica merece todo o reconhecimento que alcançou, e que ainda possui potencial para cativar ainda mais fãs. 

Um dos grandes álbuns de 2021.

 


Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

A história de…« I Can’t Explain » (The Who)

Lançado no final de 1964, "I Can't Explain" foi o primeiro single do Who. Sua história, na verdade, remonta a um ano antes. Es...