Helloween, o disco, é o primeiro trabalho dos alemães em seis anos – desde My God-Given Right (2015) -, o primeiro com Kiske desde o controverso Chameleon (1993) e o retorno de Hansen, que não tocava em estúdio com a banda que criou desde o clássico Keeper of the Seven Keys Part II (1988). Pra não dizer que essa formação não havia registrado nada ainda em estúdio, vale citar o single "Pumpkins United", lançado em 2017. O disco foi produzido pela dupla Charlie Bauerfeind (Angra, Blind Guardian, Saxon) e Dennis Ward (Pink Cream 69, Place Vendome, Tribuzy).
Cercado de altíssima expectativa por todo o contexto que o cercou, Helloween chegou às lojas dia 18 de junho e traz doze faixas em pouco mais de uma hora de duração. Jens Johansson, tecladista do Stratovarius, faz uma participação especial em “Skyfall”, primeiro single do trabalho e já conhecida dos fãs. Eliran Kantor, autor de capas belíssimas para nomes como Testament, Soulfly e Evile, deixou a expectativa mais alta ainda (como se isso fosse possível) com uma arte absolutamente espetacular para a capa, desde já uma das mais belas que o metal já viu.
Mas, e a música? O que o Helloween fez em seu novo disco foi transitar por todas as fases de sua carreira, dosando de maneira equilibrada elementos tanto da fase clássica com Michael Kiske e Kai Hansen e que deu origem ao power metal na dobradinha fantástica de álbuns da saga Keepers, como também do período com Andi Deris à frente, quanto trilhou caminhos mais pesados e flertou com estilos como o hard rock. Dessa maneira, o disco entrega um bem pensado fan service direcionado aos verdadeiros e fiéis admiradores da banda que acompanharam todas as suas fases, e não apenas aos que ouviram somente os tão falados Keepers. Essa característica, em especial, pode causar a primeira quebra de expectativa em relação ao disco, já que ele pouco tem da sonoridade límpida e cristalina de Keeper of the Seven Keys Part II, que é o trabalho com o qual o maior número de pessoas associa o Helloween.
Com vocais bem divididos entre Kiske e Deris, com ambos brilhando sem a companhia do outro em algumas faixas, o disco traz Hansen mais focado nas guitarras e com poucas intervenções vocais. “Out of the Glory” abre o álbum entregando tudo que se esperava, com o trio de vocalistas se revezando no protagonismo e causando uma agradável sensação no ouvinte. “Fear of the Fallen” mantém o nível alto e é uma das mais agressivas do disco, enquanto “Best Time” derrama os tradicionais baldes de melodia e tem um certo tempero AOR, aproximando-se do que Kiske e Hansen fizeram tanto no Unisonic quanto no Place Vendome. Percebe-se sem muito esforço a diferença de abordagem da banda nas faixas encabeçadas por Andi Deris – invariavelmente mais violentas e com um clima mais rock and roll – e as que trazem Michael Kiske à frente – onde os elementos característicos da sonoridade mais clássica do grupo sempre marcam presença.
Outro grande momento está em “Rise Without Chains”, grudenta como uma canção do Helloween deve ser. “Indestructible” é ampara nas boas linhas vocais e no trabalho de guitarra, enquanto “Robot King” ultrapassa os sete minutos e remete ao período inicial da banda, em uma grande composição assinada por Michael Weikath. A cereja do bolo está no encerramento com a intro “Orbit” e com “Skyfall”, que em seus mais de doze minutos de duração sintetiza tudo que o fã do Helloween sonhava ouvir desde que a reunião com Kiske e Hansen foi anunciada: guitarras cheias de melodia, vocais inspirados, primorosa performance instrumental e um refrão feito pra cantar junto.
Helloween é um álbum que celebra todo o rico legado da banda alemã, uma das mais influentes e inovadoras da história do heavy metal. A expectativa altíssima pode frustrar um pouco, já que é um disco que demanda algumas audições para ser absorvido por completo. Pessoalmente não vou negar que esperava mais do que ouvi, mas mesmo com uma certa dose de desapontamento é inegável dizer que estamos diante de um dos mais marcantes e importantes discos dos últimos anos, e que dá início a um novo capítulo na história dos alemães. Espero que a banda siga com essa formação, que já é histórica, equilibre melhor suas qualidades nos próximos álbuns e apare os exageros evidentes que algumas canções deste disco possuem, o que torna a audição um tanto cansativa em certos momentos.
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