O nono disco de Calexico é uma amálgama de influências, caótico mas  bem equilibrado. Um disco para ouvir com atenção.

Há mais de 10 anos que os Calexico surgiram como a banda indie com inspirações mexicanas. Este é já o nono álbum de Joey Burns e John Convertino e The Thread That Keeps Us soa a deserto, no Estado natal dos dois músicos, Arizona, uma amálgama de influências latinas, mexicanas, de blues e jazz, uma mescla de Americana com Tex-mex e indie.

Logo aos primeiros acordes de “End of The World With You” sabemos de imediato que estamos a ouvir Calexico e o grande caldeirão de influências é revelado em “Voices in The Fields”, onde reconhecemos o drama dos fogos florestais da Califórnia, que apanharam os Calexico a meio das gravações.

Ao longo do disco vamos tendo guitarras secas ou bamboleantes, inspiração mariachi, faixas em espanhol e músicas só instrumentais, wild wild west moderno, country contemporâneo, cowboys dos tempos atuais a deixar pegadas de botas pontiagudas numa estrada poeirenta, uma guitarra preta e cerveja de lata.

“Bridge to Nowhere” é uma quase balada e “Spinball” parece tirada da banda sonora de um filme do Oeste com traços pós-modernos. “Flores y Tamales” é verdadeiramente latina, cantada em espanhol (e uma das nossas preferidas e uma delícia que podia estar na banda sonora de Narcos) e “Unconditional Waltz” é de facto uma valsa de inspiração mariachi. “Eyes Wide Awake” tem potencial para fazer o público levantar os braços e cantar em coro num festival e em “Dad in the Water” temos de repente uma guitarra potente e uma voz cavernosa ao melhor estilo do rock n’roll americano.

Como se as 15 faixas que compõem o disco não fossem já suficientes para apresentar um trabalho muito consistente os Calexico ainda oferecem sete faixas extra, algumas instrumentais mas todas uma experiência sonora intensa de mistura de sons, distorções e existencialismo.

Há uma liberdade criativa neste disco que o torna menos polido que os trabalhos anteriores mas também mais real. A crueza de algumas faixas, cheias de arestas, dá ao disco um toque de inspiração. Há mais sonoridades misturadas, mais confusão, mais caos mas é precisamente este cruzamento entre tantas inspirações que o diferencia dos discos anteriores e que merece uma audição cuidada, para se apanharem todas as variantes das guitarras chorosas aos metais.