No final dos anos 1960, a cultura e as política fervilhavam em todo o mundo. O movimento hippie e a sua filosofia de “paz e amor”, estavam no ápice, influenciando a cabeça de milhões de jovens. O rock amadurecia e passava por transformações, se desdobrando em outras vertentes como o hard rock e o rock progressivo que estavam em plena ascensão. Os Estados Unidos e a finada União Soviética travavam uma “guerra fria” que dividia o planeta em capitalistas e comunistas, e criavam um estado de tensão de uma possível Terceira Guerra Mundial. Falando em guerra, no Vietnã, os norte-americanos ainda insistiam numa guerra contra os vietnamitas que se arrastava por anos e que já havia ceifado a vida de milhões de pessoas, apesar do clamor mundial por um basta naquele conflito.
Enquanto isso, em Birmingham, na Inglaterra, um grupo de quatro jovens cabeludos, que via com desprezo tanto a filosofia hippie quanto as lideranças políticas internacionais, davam início aos primeiros passos da carreira musical da banda Earth, em 1968. Formada por Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarra), Gezzer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria), a Earth fazia inicialmente um som calcado no blues rock, mas que aos poucos, foi ganhando volume mais alto e mais peso, uma tentativa para que público que frequentava os bares onde a banda tocava, parassem de conversar e prestassem a atenção na apresentação da banda.
Em agosto de 1969, Jim Simpson, então empresário da Earth, conseguiu agendar shows na legendária casa noturna Star Club, em Hamburgo, Alemanha, mesmo estabelecimento onde os Beatles haviam tocado no início da carreira. Foi durante a temporada em Hamburgo que Ozzy, Tony, Geezer e Bill descobriram que já havia uma outra banda também chamada Earth. Foi então que eles decidiram mudar o nome da banda. Por sugestão de Gezzer Butler, fã de filmes e romances de terror, mudaram o nome de Earth para Black Sabbath. O novo nome foi baseado num filme italiano de 1963, I Tre Volti Della Paura (As Três Máscaras, no Brasil), de Mario Bava (1914-1980), estrelado por Boris Karloff (1887-1969). No Reino Unido e nos Estados Unidos, o filme foi exibido nos cinemas sob o título Black Sabbath (Sabá Negro, em português).
À esquerda, o cartaz do filme I Tre Volti Della Paura, que nos países de idioma inglês foi rebatizado como Black Sabbath, título que inspirou o nome da banda. |
Com o novo nome e inspirado nele, o quarteto direciona a orientação musical da banda para temas mais sombrios, que aliadas ao som pesado que praticava, começou a ampliar o número de fãs. Há quem afirme que o foco em temas ocultistas, teria sido uma estratégia promocional para a banda ganhar fama e conquistar o seu espaço no cenário do rock pesado, que naquele momento tinha na linha de frente o Led Zeppelin e o Deep Purple.
Ao custo de 600 libras, o Black Sabbath grava em outubro de 1969 cerca de doze músicas em dois dias, no Regent Sound Studios, em Londres. O material foi gravado ao vivo no estúdio, sob a coordenação do produtor Rodger Bain, que no processo de mixagem acrescentou sons de sinos, chuva e trovões. Com material gravado suficiente para lançar um álbum, o empresário Jim Simpson conseguiu um contrato com a gravadora Vertigo, que teria apenas o trabalho de lançar e distribuir. Dois meses depois, a banda lança o seu primeiro single, “Evil Woman”.
Propositalmente ou não, o Black Sabbath lançou o seu primeiro e homônimo álbum no dia 13 de fevereiro de 1970, uma sexta-feira. Conforme a banda havia optado desde que havia mudado de nome, a sonoridade pesada somada ao clima soturno e denso das letras, dão o tom de todo o álbum. Temas como guerra, caos social, morte, conflitos entre bem e mal, desfilam pelas onze faixas de Black Sabbath.
Para fazer jus ao conteúdo musical, a capa mostra uma casa de um moinho de Mapledurham Watermill, no Rio Tâmisa, Inglaterra, como se lembrasse uma casa abandonada. Em primeiro plano, uma mulher com uma aparência aterradora, estática, e com um olhar fixo para que a vê. Seria uma bruxa ou uma alma de outro mundo?
Imagem recente da casa que aparece na capa do álbum Black Sabbath. |
O álbum começa com som de chuva, trovão e badaladas de sinos, criando todo um clima de suspense e angústia ao ouvinte. Em seguida entra a banda fazendo um som pesado, lento e tenso, aumentando ainda mais o estado de tensão em quem ouve o álbum. Considerada a primeira música autenticamente heavy metal, “Black Sabbath” teria sido inspirada numa suposta experiência ocultista de Geezer Butler quando a banda ainda se chamava Earth.
A faixa seguinte, “The Wizard”, segundo Geezer Butler, teve como inspiração o mago Gandalf, de Senhor dos Anéis. Há quem afirme no entanto que a inspiração foi um traficante que fornecia drogas para a banda. O principal destaque desta música é a performance da gaita em estilo blues, executada por Ozzy Osbourne, que acompanha simultaneamente os movimentos dos outros instrumentos formando um só bloco sonoro. “Behind The Wall Of The Sleep” é outra faixa do álbum com inspiração literária, desta vez num conto escrito em 1919 por H.P. Lovecraft (1890-1937).
Fechando o lado A da versão LP de Black Sabbath, “N.I.B”, cujas iniciais significariam “Natitvity In Black”. Mas o real significado diria respeito a um apelido de Bill Ward, em referência à barba do baterista que parecia uma ponta de caneta (“pen nib”, em inglês). Além dos incríveis riffs e solos de guitarra de Tony Iommi, outro elemento atrativo da base instrumental de “N.I.B.” é a linha de baixo executada por Butler com efeito de pedal wah-wah, um recurso mais comum com guitarras. A letra faz referência a Lúcifer que se propõe a dar tudo para quem se dispuser a segui-lo.
Abrindo o lado B, “Evil Woman”, uma música da banda Crow, e que o Black Sabbath regravou para o seu primeiro disco. Enquanto a versão original do Crow é um blues rock com arranjos mais melódicos, mais elaborados, com direito a um naipe de metais que dá uma alegria à música, a versão do Sabbath é mais pesada, econômica e crua. Na edição americana do álbum, “Evil Woman” foi trocada por “Wicked World”.
Com um início acústico e uma letra curta, “Sleeping Village” dá início ao uma maratona instrumental, com trechos em andamentos e ritmos diferentes, permitindo a cada membro da banda mostrar as suas habilidades. O longo improviso instrumental de “Sleeping Village” se emenda com “Warning”, última faixa do álbum.
Black Sabbath, da esquerda para a direita: Bill Ward, Geezer Butler, Ozzy Osbourne e Tony Iommi. |
Longa, com pouco mais de dez minutos de duração, “Warning” foi originalmente gravada por Aynsley Dunbar Retaliation. Assim como na faixa anterior, em “Warning”, a banda faz um improviso instrumental, só que bem mais longo. Aqui, a banda mistura elementos de blues, jazz e hard rock. Tony Iommi está magnífico nesta faixa: faz solos de guitarra fantásticos como um veterano, embora tivesse na época apenas 21 anos de idade. Quem o ouve fazer os solos com tanta destreza, não imagina que ele havia perdido a ponta de dois dedos de sua mão esquerda num acidente de trabalho, a mesma mão que ele faz os solos no seu instrumento.
A recepção ao álbum Black Sabbath não foi das mais afáveis, muito pelo contrário. O jornalista Lester Bangs, da revista Rolling Stone, por exemplo, foi irônico: “Igual ao Cream! Mas pior”. Robert Christgau, do jornal The Village Voice, de Nova York, classificou o álbum como “necromancia de merda”.
Mesmo com uma recepção tão negativa, Black Sabbath conseguiu se firmar na 8ª posição na parada de álbuns do Reino Unido. E conseguiu tal posição sem promoção de marketing da gravadora, apenas na base do “boca-a-boca”. Nos Estados Unidos, ficou 23º lugar na Billboard 200, e naquele país chegou à marca de 1 milhão de cópias vendidas.
Foi com o passar do tempo que Black Sabbath teve a sua reputação elevada e o seu reconhecimento como marco relevante da história do heavy metal. Em 1989, a revista Kerrang! pôs o álbum na lista dos 100 Maiores Álbuns de Heavy Metal de Todos os Tempos. A revista Q afirmou que o álbum é tão influente que permaneceu como modelo para bandas de heavy metal, mesmo após trinta anos de lançamento.
Em 2012, Black Sabbath foi classificado em 243º lugar da lista dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone. A publicação elegeu ainda Black Sabbath como 5º melhor álbum de metal de todos os tempos.
Faixas
Lado 1
1."Black Sabbath"
2."The Wizard"
3."Behind The Wall Of Sleep"
4."N.I.B."
Lado 2
5."Evil Woman" (cover de Crow) Larry WeigandDick WeigandDavid Wagner
6."Sleeping Village"
7."Warning" (cover de The Aynsley Dunbar Retaliation) Aynsley DunbarAlex DmochowskiVictor HicklingJohn Moorshead
Todas as músicas foram creditadas a Tony Iommi , Geezer Butler , Bill Ward e Ozzy Osbourne , exceto onde indicado.
Black Sabbath: Ozzy Osbourne (vocais e gaita), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria).
."Black Sabbath"
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