sexta-feira, 12 de maio de 2023

Disco Imortal: Radiohead – OK Computer (1997)

 

Álbum imortal: Radiohead – OK Computer (1997)

Parlophone/Capitol Records, 1997

Não demorou muito para que seu lançamento desse álbum chave na carreira do Radiohead fosse comparado ao elogiado "The Dark Side of the Moon" do Pink Floyd, devido a muitos de seus elementos, com certeza, o de ser um álbum revolucionário para música.mesma carreira da banda e por aquele fator artístico, não tão conceitual quanto o do PF, mas algo complexo e bizarro com o qual se vangloriava. Ambas as placas têm muito em comum, mais do que você pode imaginar.

A comparação pode ter uma certa lógica, no sentido de que, assim como aquela grande obra do Pink Floyd que veio em um momento preciso para a banda de Waters e Gilmour, superando em muito o fantasma da falta de Barrett, esta do Radiohead conseguiu unir claramente um mão cheia de inventividade, atmosferas únicas e nível de composição que o tornam hoje, mais de 20 anos após o seu lançamento, uma delícia de ouvir continuamente. E afastando-se vários quilômetros de seus antecessores The Bends e Pablo Honey.

Corria o ano de 1997 e este Lado Negro da Lua dos “novos tempos” tinha a seu favor a tecnologia e o visionário produtor Nigel Godrich, um assistente de luxo ao som único desta placa. Stanley Donwood e Thom Yorke com a arte da capa contribuíram com a sua, com esta estranha colagem de imagens um tanto surreais, simbologias emprestadas da língua universal esperanto e inglês, finalmente traduzidas por Yorke como slogans de anti-exploração, capitalismo e comercialização. O fato do terror da era da tecnologia e da invasão da Internet também se reflete no nome do álbum, como se avançasse o fato de que essa plataforma ia ser cada vez mais preponderante em todas as áreas, algo que poderia virar loucura ( se ainda não estiver).

Mas vamos para o registro, as músicas. Quando o revêmos do princípio ao fim parece ser um disco que anda numa linha, depressivo, sombrio, desdenhoso e até arrogante, mas não, há canções que encaram outras como pólos totalmente opostos. A entrada 'Airbag' pretendia ser uma segunda parte de 'Planet Telex' do The Bends com a intenção de se destacar do resto do álbum. “É muito mais comovente” comentou Colin Greenwood, se é que se pode chamar isso de comovente, um experimento de bateria digital falando sobre salvação, 'nascer de novo' após um acidente de carro; começo esperançoso, embora o duplo sentido esteja sempre no Radiohead.

'Exit Music (for a Film)' começa a desmanchar esse álbum e fazer a diferença, uma música totalmente emotiva, foi pensada para a trilha sonora de Romeu e Julieta, para o final arrasador, os mellotrons e a bateria que chegam com um o acúmulo de desesperança com a voz de Yorke a torna uma das mais melodramáticas do disco, beirando o exagero talvez, mas única.

Enquanto 'Let Down' surpreende com seu refrão mágico e cativante e fala de existencialismo derrotista, 'Karma Police' derruba qualquer coisa feita com violões e pianos até aquele ponto pela banda (impossível não lembrar daquele vídeo do homem desesperado correndo para sempre até explode um carro -seu perseguidor- que derramou gasolina). Aqui a devoção ao Beatle e aos anos setenta Neil Young da banda é derrubada com todas as suas letras, uma música que com certeza eles não previram resultados e que até um Elton John teria desejado. Se essa não era a maturidade do grupo, então o que.

Se o disco tinha que ser culpado por alguma coisa, é que era quase letárgico e de baixas rotações, mas havia 'Electioneering', por exemplo, agitando ritmos muito mais 'saltitantes' de chocalhos, pandeiros e guitarras e Jonny Greenwood no final atacando fora como um demônio. 'Climbing Up the Walls', apesar de sua onda volátil, treme totalmente também com suas guitarras, outra demonstração de que este foi um disco lento, mas que levou o rock a outra dimensão quando deu vontade.

O caso de 'Paranoid Android' é fora de qualquer roteiro e totalmente inesperado, uma música com trechos, genial pelas melodias, pelos solos de guitarra, pela estrutura bizarra, pela letra, pelo vídeo, é uma infinidade de coisas que o imortalizaram como a "rapsódia boêmia" dos anos 90. A grande obra do Radiohead e o burro de carga da artilharia grossa do disco. Tem parte da vida real, e é um tema bem "Thom Yorke'", apesar de cada uma das partes da música ter sido escrita por um Radiohead diferente, uma das que chama a atenção é aquele capítulo de uma vida história de Yorke em um bar de Los Angeles, com vários personagens estranhos chapados de cocaína e com uma mulher que se tornou violenta ao se molhar com a bebida, lançando um olhar que deixou marcas na cabeça de Yorke (o momento, com alguns curativos mais e menos ,

Para o final, joias de grande calibre aguardam: 'No Surprises' talvez um pouco superestimada para o resto do álbum, mas uma bela canção alimentada por glockenspiels e falando novamente do existencialismo e do tédio humano total, 'Lucky' nos mostra coisas maiores, um bom empresário da comparação da banda com o Pink Floyd, aqui a influência é clara, os refrões são devastadores, os sons dos aviões (a capa francesa deles era um avião que estava desabando) a atmosfera, uma beleza, de chorar. Por fim, 'O Turista' fecha com sutileza e elegância um dos momentos mais brilhantes da carreira do grupo.

A partir de então o zelo experimental da banda de Oxford não apaziguava, em 1997 este álbum conseguiu elevá-los acima do brit boom de bandas como Oasis e Blur que vinham declinando após seu sucesso estrondoso, e Radiohead, por outro lado, superou mesmos, e fê-lo com excelência, com engenho, com enorme trabalho e um talento que todos conhecemos hoje. Talvez, como é opinião de muitos, concordando em vários aspectos, seja o último grande álbum de rock britânico até hoje.


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