Este é mais um daqueles grupos que, por engano, costumam entrar no saco da NWOBHM, e não. Você vai me dizer onde foi tudo isso em 1986, ano da edição de "Across the Water", para o independente francês High Dragon.
Kooga foi uma banda do País de Gales que começou sua jornada em 1981, principalmente com covers de Free, Bad Company, Thin Lizzy, ZZ Top e Rory Gallaguer, além de alguns de sua autoria. Seu líder era Neville Macdonald, cantor e guitarrista principal. David Howells no baixo e Martin Williams na bateria. Além do Ian Palfrey inicial na guitarra, que será substituído pelo definitivo Neil Garland nos teclados. Essa mudança de membro e instrumento definirá a nova onda do Kooga. E de um clássico hard rock blues, passarão a um Pomp/AOR muito mais atual e coerente com os tempos. Eles se apresentam regularmente e ganham um bom número de fãs, lotando o lendário Marquee várias vezes. Em 1986 eles lançaram seu debut, que comprei alguns meses depois em Amsterdã. Lembro que fiquei agradavelmente surpreso ao ouvi-lo, porque mal sabia nada sobre eles.
A primeira coisa que chamou minha atenção foi a voz magnífica de Macdonald na abertura "Across the Water". Uma voz herdeira das de David Coverdale, Paul Rodgers ou Frankie Miller, com um armamento instrumental compacto. Hard Rock Pomp conectou com o que Baby Tuckoo havia feito um ano antes, mas também claramente com Magnum. A este respeito, “Lifeline” é um exemplo perfeito do que se tem dito, com fortes raízes britânicas ao estilo de Catley/Clarkin. Só que as funções destes são desempenhadas maravilhosamente pelo próprio Neville. Também um guitarrista muito capaz, que sabe manter o tema tenso.
Eles não esquecem a importância dos teclados em seu estilo, e em "Fall From Grace" podemos apreciar a produção impecável do álbum. Som muito orientado para o hard rock, e com todos os seus elementos bem conhecidos. Neil Garland faz um trabalho excepcional, discreto, mas onipresente. Como na introdução de "Lay Down Your Love" e seu desenvolvimento subsequente, quase Whitesnake de "Slide it in". Ou seja, com um pé no hard rock blues e outro no FM/AOR. Fórmula que atingiria a meta para os de Coverdale um ano depois. Kooga vai nessa corrente mais de uma vez, e se tivessem continuado navegando por aquelas águas, talvez a flauta tivesse soado, quem sabe... "Lockjaw" é um instrumental fibroso de contundência total e pomposa. Howells e Williams são uma dupla rítmica no estilo de Chris Glen e Ted McKenna (MSG),
O álbum roda sem problemas com canções incontestáveis, como "She Walks in Beauty". David Coverdale no comando da Giuffria? Não é uma lucubração, é este tópico, sem ir mais longe! "Gabrielle" (5'53) entra totalmente no campo de tiro de Magnum, mas também futuro Dare, Ten ou Giant. Algo que pode dar uma ideia do valor superlativo do Kooga. O disco termina euforicamente com "Like I've Never Know" (6'12), outra barragem colossal e dura de Pomp, substituindo a subestimada e requintada Lone Star (Reino Unido). A magnitude sísmica de Kooga, (ainda mais na segunda face), é avassaladora.
Em 1987 participaram do Festival de Reading. No ano seguinte lançaram o single "Don't Break My Heart". E em 1989 eles se separaram, depois de terem passado o seu momento. Neville Macdonald terá sucesso moderado com Skin na próxima década. E aqui termina mais uma história agridoce do típico caso "podia ter sido e não foi". Fica "Across the Water", uma pequena joia que vai ganhando mais com o passar do tempo. Tempus Fugit / Carpe Diem. Amém.
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