Resenha
Alaska
Álbum de Between The Buried And Me
2005
CD/LP
Quando falamos de metal progressivo, poucos nomes serão os de bandas que conseguem ter uma sonoridade tão exclusiva mediante a um leque extenso e variado de influências em que todos eles conseguem se unir para criar algo bastante coeso, como o da Between the Buried and Me. Isso muitas vezes acaba até mesmo dificultando um pouco na hora de categorizar a banda, por isso, o metal progressivo com incursões de death metal muitas vezes pode ser usado para falar de forma superficial sobre o grupo – isso depois da banda começar a abandonar o seu lado metalcore -, deixando o restante para que o ouvinte tire suas conclusões quando se deparar com algum dos seus discos. Falando em específico de Alaska, estamos falando de um álbum, em que, a menos que você seja um completo classista do metal progressivo e fechado a uma nuance muito grande, certamente você vai ficar impressionado com o que vai encontrar aqui – por mais que a banda ainda não tenha atingido o seu pico criativo, algo que aconteceria em seus álbuns seguintes. A banda costuma acertar em cheio na produção e aqui não é diferente. Em qualquer outro universo, talvez as guitarras pudessem ser vistas se certa forma um pouco agressiva demais, porém, falamos de uma banda que está sempre atingindo vários picos de metal extremo. A seção rítmica se faz bastante presente por meio de linhas quase sempre aventureiras e de uma solidez incrível. Os vocais variando entre agressividade pura e ensejos sutis também soam muito apropriados durante todo o disco. “All Bodies”, quando conheci a banda, ela já estava com um som consolidado e maduro dentro do seu metal progressivo cheio de nuances. A linha tênue entre o prog metal e o metalcore dos dois primeiros discos e que fazia parecer que a banda estava confusa em relação a que caminho seguir, finalmente parece começar a ter uma certa clareza logo na primeira faixa de Alaska. Começa de maneira muito agressiva, porém, é possível notar um certo refinamento em seu som, inclusive, com capacidade de agradar até mesmo ouvintes que se conectam apenas com músicas do mainstream. “Alaska” é uma peça de sonoridade mais magra e trituradora do que a anterior. O lado metalcore da banda emerge com toda a sua força, mas mesmo assim, é possível perceber algumas intenções progressivas na peça. Talvez seja de uma fúria um pouco exagerada, mas não chega a ser uma música ruim. “Croakies And Boatshoes”, o mesmo “problema” da peça anterior é encontrado aqui. Apesar de possuir uma influência progressiva até mesmo mais evidente que a faixa título, também é dentro da estrada do metalcore que a música de fato funciona. Apesar de possuir menos de dois minutos e meio, nota-se uma boa variedade de riffs. Mesmo possuindo a mesma fúria e agressividade da faixa anterior, aqui acho que tudo opera de uma forma mais interessante. “Selkies: The Endless Obsession”, é uma três das peças que passam dos 7 minutos de duração. Uma viagem progressiva cheia de agressividade. De forma feroz, a banda mostra pela primeira vez e com muita clareza o tipo de som que eles querem entregar em seus próximos álbuns, incluindo até mesmo alguns acenos aos space rock. Uma música cheia de nuance, feita por meio de linhas notáveis de guitarra, seção rítmica sólida e até alguns teclados muito bem acentuados. O solo de guitarra que direciona a música para o seu final não poderia ser mais bem apropriado. Esse é aquele tipo de música, que de tão grandiosa, impossibilitaria uma nota baixa para esse disco mesmo que as demais peças fossem descartáveis. “Breathe In, Breathe Out”, com pouco menos de um minuto. É apenas um pequeno interlúdio de guitarra, que apesar de bonito, não entendo bem qual a sua real função no disco. “Roboturner”, é mais uma das faixas que passam dos 7 minutos de duração. É um dos momentos mais agressivos do álbum. A peça disponibiliza alguns riffs avassaladores de guitarra, bateria e baixo criam uma cozinha fervorosa e intensa. Os vocais uivantes, às vezes soam até mesmo aterrorizantes. Nenhuma outra música do disco consegue entregar um clima tão macabro, trevoso ou coisas do tipo. Novamente, a banda mostra muito do novo caminho que está disposta a seguir. “Backwards Marathon”, junto com, “Selkies: The Endless Obsession”, é onde a banda mais consegue transmitir para o ouvinte as suas nuances progressivas, além de ser a mais longa do álbum com quase 8 minutos e meio. Já começa em alta voltagem por meio de uma seção rítmica impactante, riffs brutais de guitarra e vocais cheio de ferocidade. Excelentes mudanças de ritmo também são um dos atrativos da peça. É onde pela primeira vez, o trecho de maior destaque de uma música da banda se encontra em uma dinâmica mais silenciosa em vez de em alguma passagem mais pesada. Essa ponte atmosférica, é simplesmente assustadora e brilhante. A aparte instrumental que encerra a peça, começando por volta de 7:22, é lindíssima, com toda a banda entregando um material pesado, melódico e muito bem orquestrado. “Medicine Wheel” é uma faixa instrumental que segue uma linha bem mais suave e muito pouco metálica. Bastante melódica, a banda entrega mais uma vez, um som que indica sua intenção de mudança de ares, buscando cada vez mais se conectar com a música progressiva e mostrando que este disco é definitivamente uma ponte para isso. “The Primer” direciona o disco para uma sonoridade pesada novamente. Impressionante como a banda consegue criar alguns riffs de guitarra que emanam beleza, mesmo sendo executado sobre uma seção rítmica furiosa e vocais rosnados. Por volta dos 3:35 há uma mudança de andamento que considero o destaque da peça, onde mesmo com os vocais ainda agressivos, a banda entrega uma base pesada, mas também muito harmoniosa que é lindíssima. Possui um final bem tranquilo e diferente por meio de duas guitarras trabalhando de forma sutil. “Autodidact” é uma música pesada, insana, caótica e virtuosística. O ataque de bateria é explosivo e avassalador, as linhas de baixo são bastante firmes e as guitarras pesadíssimas e destruidoras, tudo sempre sob os vocais raivosos de Tommy Rogers. Se fosse pra eleger a faixa mais experimental do álbum, certamente seria essa. Ao mesmo tempo em que parece passar uma imagem tempestuosa, tudo também soa meio anárquico. “Laser Speed” é a última música do disco e traz um final até um pouco inusitado. Não é progressiva e nem pesada, mas uma peça acústica muito bonita, onde o violão é acompanhado por uma seção rítmica simples. Uma faixa divertida que pode servir como uma espécie de “créditos finais” do disco, um momento para que o ouvinte relembre tudo o que ouviu até chegar aqui. Alaska pode não ser um álbum do mesmo nível de alguns que seriam lançados anos depois, porém, é um fragmento de transição importantíssimo dentro da discografia da banda, já mostrando muitos esboços de uma musicalidade mais progressiva e que seria encontrada em discos como Collors e The Parallax II. O metal progressivo quando utilizado aqui, ainda acontece por meio de uma amálgama de ensaios no campo do metalcore, porém, de uma forma que já demonstra uma riqueza instrumental ainda inédita em discos do grupo, afinal, em Alaska, a banda consegue refinar elementos díspares de uma manheira bastante requintada.
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