terça-feira, 9 de maio de 2023

Resenha Further Out Álbum de Ken Baird 2009

 

Resenha

Further Out

Álbum de Ken Baird

2009

CD/LP

Quando eu cadastrei o músico canadense, Ken Baird, aqui no site, não estava cadastrando alguém que eu tinha grande familiaridade com o som, muito pelo contrário, conhecia basicamente só de nome, porém, lendo alguns elogios aqui e outros ali, decidi que era a hora de conhecer de fato a sua música. Entre o ano de 1996 e até esse momento em que eu escrevo essa resenha, o músico lançou 5 discos – sendo Further Out, o último, deles em 2009. Uma pena toda essa demora para um próximo registro, pois Ken em seus 2 discos mais recentes mostra uma clara evolução em seu som e estava indiscutivelmente em sua melhor fase. Mas claro, não vou descartar a hipótese que pode haver razões mais sérias e que eu desconheço que fazem com que o músico esteja recluso tanto tempo. 

Se a sua ideia for ouvir um rock progressivo intrincado e aventureiro, bom, talvez esse disco o fruste bastante, mas se a experiência que você esteja procurando seja a de uma música sincera e feita por um compositor que sabe como atingir o coração daquele ouvinte que busca algo mais simples, espontâneo e natural, nesse caso, é exatamente o que Further Out vai lhe entregar. Dentro das seções progressivas, há algumas abordagens musicais intrínsecas ao gênero como o pop e até mesmo o AOR.  Dito isso, Further Out pode ser considerado um disco de pop progressivo? Bom, não acho que seria nenhum absurdo quem assim o definisse.  

Mas podemos comparar a música de Baird com a de quem? Que soe na linha dele, não sei dizer exatamente, mas podemos sentir que as suas músicas soam como as de Neal Morse soariam se fossem menos técnicas e pomposas, digamos assim. Afinal, enquanto muitas bandas e artistas progressivos evidenciam um exibicionismo em suas músicas, Ken funciona sempre dentro de uma musicalidade mais acessível. Ainda que, suas composições também sejam cheias de detalhes, a dinâmica que ele escolhe para que tudo se desenvolva o torna diferenciado dentro de um gênero muitas vezes conhecido e execrado - não por mim - pelo seu excesso.  

“Spinning Wheels” já começa o disco muito bem e indicando o tipo de atmosfera que serão encontradas em suas músicas. A melancolia instrumental combina muito bem com os vocais que, apesar de simples, soam edificantes e com ótimo frescor. Possui uma harmonia comovente e apaixonante. Outros destaques são os refrãos e o solo de guitarra cheio de emoção. “A Thousand Years”, com apenas três minutos é a menor peça do álbum. Seu foco maior está em um piano introspectivo. Os vocais de Ken mais uma vez estão ótimos e cheio de sinceridade. Destaque também para alguns coros com vozes infantis que soam muito apropriados. “The Sound of Rain”, principalmente por conta do teclado, inicialmente direciona o disco para uma vibração mais folk. Inclusive, o teclado é o principal instrumento aqui para que a música tenha uma atmosfera tão interessante. Mais uma vez, Baird mostra que sabe fazer refrãos cativantes e que grudam facilmente na cabeça do ouvinte.   

“Stainless Skies”, encontramos aqui alguns problemas que podem fazer com que o disco esfrie um pouco. No geral, a peça soa bastante comedida por meio de uma amálgama volúvel, porém, ainda assim consegue entregar de forma pontual momentos cativantes e charmosos. Por ser mais repetitiva do que as músicas anteriores, acaba soando um pouco entediante. A harmonia mais bonita da faixa está nos primeiros versos de cada refrão. “Where I Came From” recoloca o disco nos trilhos do pop progressivo de qualidade. É uma música muito cativante, onde eu destaco principalmente as invertidas bastante apropriadas de uma flauta de influência celta. A guitarra também entrega algumas belas linhas. “As the Highway Greets a Friend” começa em um ritmo rock and roll bem legal, além de trazer alguns vocais muito bons – consigo perceber um trabalho vocal que se localiza entre Mariusz Duda e Steve Wilson. Possui uma ótima variação entre suave e pesada, além de mais um refrão cativante. Próximo dos 3 minutos, a música sofre uma mudança drástica de direção, se tornando – por alguns segundos – uma peça de cenário mais dramático antes de voltar para o refrão.  

“Reflections in the Lake”, ao lado de “A Thousand Years” forma a dupla de músicas mais introspectivas do disco. Uma belíssima melodia criada por violão e teclados permeiam a peça enquanto Ken entrega ótimos vocais. Eu consigo imaginar tranquilamente essa música em algum disco do Steve Hackett. “Everything to Lose” começa por meio de piano e voz, mas não demora para que toda a banda entre na peça e ela passe a se desenvolver dentro de uma linha mais sinfônica. Novamente, o refrão é daqueles ótimos para cantar junto. Pouco depois dos 3 minutos, há um solo de piano que vai entrando aos poucos no campo do jazz, sendo seguido pela adição de flauta que puxa a harmonia mais bonita de toda a peça conforme todos os instrumentos retornam. “Further Out” é a faixa título, a que encerra e com os seus 10 minutos também é a maior do disco. Uma música grandiosa e melancólica, além de tocada e cantava de uma maneira apaixonante. Primeiramente, parece ser apenas uma entrega simples de um grande número pop progressivo, mas aos poucos, tudo vai ganhando mais magia. O solo de teclado por volta dos 1:47 começa a direcionar a música para uma estrada mais progressiva e sinfônica. O vocal principal é acompanhado de excelentes backing vocals, até que aos 4 minutos, a peça silencia, permanecendo apenas um teclado sombrio, relaxante e atmosférico, então que alguns sintetizadores puxam com ele algumas batidas como se estivesse emergindo a peça aos poucos, o baixo por meio de linhas sólidas também se agrupa à faixa, a ajudando a ficar cada vez mais edificante. Por último, a vocalista, Sue Fraser, que havia emprestado até esse momento do disco seus vocais celestiais apenas como elemento de apoio, o coloca em primeiro plano – inclusive, ela poderia ter sido mais bem utilizada no álbum. Mais um solo espacial de teclado direciona a faixa para o seu final. Sem a menor dúvida, o álbum chega ao fim com a sua melhor música.  

Tirando a sua faixa de encerramento, "Further Out", que é de fato uma peça poderosa, as demais ofertas aqui variam entre mais ou menos atraentes, porém, dentro de uma consistência onde, exceto por, “Stainless Skies”, tudo soa intrinsecamente em uma qualidade inquestionável dentro da proposta musical oferecida por Ken. No geral, um disco de rock progressivo baseado em canções e composições envolventes.  

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