Grande pioneiro do blues brasileiro, Celso Blues Boy deixou uma discografia repleta de clássicos e formada por álbuns excelentes como Som na Guitarra (1984), Marginal Blues (1986) e Celso Blues Boy 3 (1987). Porém, o álbum que ficou para a posteridade foi Indiana Blues (1996).
Sexto disco de Celso, Indiana Blues levou quatro anos para ser gravado e traz um som mais maduro que os trabalhos anteriores. Tendo como grande chamariz a participação do lendário B.B. King em uma das faixas (e o Blues Boy de seu nome é uma homenagem a King, de quem sempre foi muito fã), Indiana Blues é um álbum fundamental para entender os caminhos do estilo em terras brasileiras.
Além de ser um guitarrista com um feeling enorme e de um domínio técnico incontestável, Celso Blues Boy era também um excelente compositor e um grande letrista. Isso intensifica a identificação com canções como as lindas “Onze Horas da Manhã” e “Tempos Difíceis”, que falam de forma direta com o ouvinte ao contar histórias e trazer situações que são comuns ao músico e ao seu público.
Os bons momentos se sucedem no rock and roll “Cachorro Louco”, na instrumental que dá nome ao disco, na acústica “Homem das Ruas” (onde fica claro que, além de um guitarrista sensacional, Celso também era um vocalista com enormes recursos) e no hard blues de “Amor Vazio” (com um piano safado dando um toque todo especial, além da famosa frase “sentindo calor, tremendo de frio"). “Baby Blue” fecha o disco com Blues Boy cantando em um registro e de uma forma semelhante a Zé Ramalho, o que deixa a canção ainda mais incrível.
“Liberdade” é uma parceria de Celso com Raul Seixas, com quem chegou a tocar no início da carreira. Raul deixou uma carta endereçada a Celso, que lhe foi entregue após a morte do baiano. Nela, Raul relata a amizade entre os dois e a experiência que sentiu ao conhecer o bluesman, que musicou trechos do relato do maluco beleza.
Há também em Indiana Blues versões para clássicos presentes em outros discos de Celso Blues Boy. As releituras para “Tempos Difíceis” (lançada em Som na Guitarra), para o hit “Aumenta que Isso é Rock and Roll” (também de Som na Guitarra, e aqui turbinada por um arranjo de metais), a belíssima “Sempre Brilhará” (de Celso Blues Boy 3, aqui em uma arrepiante versão acústica) e “Amor Vazio” (também do disco de estreia) estão em pé de igualdade com as gravações originais, e em alguns casos inclusive às superam.
E claro, Indiana Blues tem “Mississipi”, com participação de B.B. King e cuja letra conta a lenda de Robert Johnson e seu pacto com o diabo. Uma música inspiradíssima, com uma letra sensacional e um dueto de guitarras entre os dois Blues Boys: Celso, o brasileiro e fã, e B.B., o original nascido no delta do Mississippi, aqui abençoando um de seus discípulos mais fiéis.
Indiana Blues é um disco pra lá de excelente. O único ponto a se lamentar é a dificuldade em encontrar o álbum nos dias de hoje. A edição mais recente foi lançada em 2001 pela Spotlight Records, o que faz do disco um item bastante raro. Isso, somado ao fato de o trabalho não estar disponível nos serviços de streaming, limita o alcance da obra de Celso Blues Boy para a geração atual de ouvintes, que por pura falta de conhecimento acaba privada de conhecer um dos melhores álbuns já gravados por um músico brasileiro e, provavelmente, o maior clássico do blues feito no Brasil.
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