O The Dead Daisies chega totalmente diferente ao seu quinto disco. O motivo para essa mudança foi a significativa alteração na formação, com o vocalista John Corabi e o baixista Marco Mendonza sendo substituídos por ninguém menos que Glenn Hughes. E aqui valem duas observações: o Dead Daisies nunca foi uma banda propriamente dita, mas sim um projeto criado e liderado pelo guitarrista David Lowy. Essa particularidade está por trás da alta rotatividade de músicos do grupo, que nesse disco conta com Hughes (vocal e baixo), Doug Aldrich (guitarra, ex-Whitesnake e Dio) e Deen Castronovo (bateria, Revolution Saints e ex-Journey, além de diversas outras bandas).
O segundo ponto é que um músico do gabarito de Glenn Hughes não pode ficar sem produzir material inédito. Isso seria um desperdício tanto para a sua carreira quanto para os fãs. O último álbum solo de Hughes, Resonate, saiu em 2016. O mais recente disco do Black Country Communion, BCCIV, é de 2017. E ao ouvir Holy Ground fica evidente como todo mundo saiu ganhando com a chegada de Hughes.
O som do Dead Daisies ficou mais funkeado, tem mais groove e balanço com a chegada de Glenn Hughes. Ficou até mesmo mais imponente, grandioso, uma espécie de hard rock clássico produzido nessa realidade estranha que estamos vivendo. São ao todo onze faixas gravadas no La Fabrique Studio, na França, com produção de Ben Grosse (Dream Theater, Depeche Mode, Marilyn Manson).
Hughes domina a atenção em todo o álbum. Cantando de maneira sublime aos 69 anos, conduz o Dead Daisies em um dos seus melhores trabalhos – o disco, na verdade, é tão bom que tem possibilidades de ser apontado como o melhor da banda em um futuro próximo. “Holy Ground (Shake the Memory)” abre a audição sem romper tanto com o álbum anterior (Burn It Down, de 2018), mas a partir de “Like No Other (Bassline)” a ascendência de Hughes fica claramente perceptível. O quarteto está executando um hard mais cadenciado, impecável instrumentalmente, com refrãos fortes, melodias excelentes e tudo isso amparado por uma das vozes mais emblemáticas do rock.
As faixas entregam momentos ótimos um atrás do outro. “Come Alive” derrama groove, “Bustle and Flow” coloca Doug Aldrich e seus riffs em destaque, enquanto “My Fate” é uma balada densa e melancólica onde Hughes é mais uma vez o destaque. “Unspoken” traz sutis influências de AC/DC em uma canção que nasceu pronta para ser cantada a plenos pulmões em estádios de todo o planeta. Os ecos da banda dos irmãos Young soam mais fortes em “Righteous Days”, que conversa sem filtros com o universo da banda australiana.
Dois dos grandes momentos ficaram para o final. “30 Days in the Hole”, clássico imortal do Humble Pie, ganhou um arranjo mais lento e menos selvagem que o original, com Glenn e Deen Castronovo dividindo os vocais em uma releitura muito em feita. E “Far Away” encerra o álbum com uma epopeia musical de mais de sete minutos onde Hughes mostra porque é chamado pela alcunha de The Voice of Rock. Que cantor, que músico, que artista!
Holy Ground chega como um dos grandes discos desse 2021 que está apenas começando. O álbum é excelente em todos os níveis e um presente principalmente para os fãs de Glenn Hughes.
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