terça-feira, 9 de maio de 2023

Sylvan Esso – Free Love (2020)

 

Free Love, ao fim de algum tempo, torna-se numa adição para os nossos ouvidos. Mal acaba a derradeira faixa do projeto, temos vontade de ouvir tudo do início e arranjamos todas as desculpas possíveis para dançar, nem que seja por um bocadinho.

Amelia Meath é responsável pela voz e Nick Sanborn é responsável por toda a parte instrumental. Os dois artistas formam a dupla Sylvan Esso e, para além disso (… e mais importante do que isso…), formam também um lar. Pois é: Amelia e Nick são casados (deram o nó em 2016), e o que os uniu desde o início foi a música. Nós gostamos destas histórias.

Em 2012, Amelia era cantora backup de Feist, e foi nesse sentido que acompanhou a artista canadiana na sua atuação na edição do Coachella desse ano. Pouco tempo depois, Amelia avisaria Feist de que a iria «abandonar», de modo a seguir os seus próprios projetos musicais. Foi nesse contexto que Amelia e Nick, que já se conheciam há sensivelmente dois anos (de acordo com os próprios), começaram a fazer música e, pelo meio, se apaixonaram. Numa entrevista recente a Feist, a artista indie recorda essa época com um sorriso e uma gargalhada ainda maior: «She’s like, ‘Yeah, I think I’m in love. And we’re going to make a wicked record! (…) I remember her being like, ‘It’s sort of electronic music and he’s going to make beats and I’m going to sing and it’s going to be massive and amazing.’».

Free Love é o terceiro álbum de originais do duo eletronic-pop Sylvan Esso. Lançado no passado dia 25 de setembro, sucede a What Now, que, em 2017, foi nomeado para o Grammy de Best Dance/Electronic Album, num ano em que foi Flume a levar esse trofeu feito de restos de disco balls para casa.

Estamos perante um trabalho manifestamente curto, de apenas 29 minutos distribuídos por 10 canções, no entanto, o que não lhe falta é energia e eletricidade. O processo de audição de Free Love é veloz, as faixas sucedem-se umas às outras rapidamente e a voz de Amelia, entrelaçada nas criações eletrónicas de Nick, é presença constante. Ficamos com a ideia de que Amelia Meath aproveita todos os momentos deste registo para cantar, descansado apenas nos períodos pontuais, mas intensos, em que os beats de Nick ganham vida própria.

Existe sempre uma sensação de equilíbrio entre as tarefas dos dois músicos. “Ring”, a segunda faixa do LP, é um bom exemplo disso, sobretudo nos refrões. “Ring” é, aliás, um dos bons momentos de Free Love, mas não é, naturalmente, o único.

As faixas seguintes, “Ferris Wheel”, “Train” e a potente “Numb” assumem contornos mais elétricos, dançáveis e, de certa forma, hipnotizantes. Estas passagens são intensas, estão cheias de apontamentos pop e projetam, na nossa cabeça, a vida noturna de uma cidade iluminada a neon lights, onde a vida não para e as pessoas caminham pelas ruas dançando loucamente.

Free Love, ao fim de algum tempo, torna-se numa adição para os nossos ouvidos. Mal acaba a derradeira faixa do projeto (“Make It Easy”), temos vontade de ouvir tudo do início, e arranjamos todas as desculpas possíveis para dançar, nem que seja por um bocadinho. Não nos podemos esquecer, porém, de que essa é uma situação típica de álbuns deste género musical, no entanto, em Free Love, esse desejo é mais forte (talvez porque a química quente que vive entre Amelia e Nick provoca isso em nós?).

O álbum começou a ser montado no início de 2019. Naturalmente, há um ano, todas as questões com que lidamos hoje em dia não passavam de meras distopias. O termo «Covid-19» não existia e as palavras «confinamento» e «distanciamento» eram usadas noutros contextos. Os Sylvan Esso não puderam imaginar que Free Love iria ser lançado nas condições que agora conhecem, e também não tinham como adivinhar que os temas abordados ao longo do álbum iriam fazer tanto sentido num mundo profundamente diferente.

O álbum acaba por abordar vários momentos das relações e convivências humanas – o amor, sobretudo. Num momento de magia, essas relações convergem para a sexta faixa do álbum, “Free”, fonte de inspiração do título do projeto. “Free” é um apontamento musical muito bonito: o poema que sustém a canção é bonito, a voz de Amelia é bonita e a progressão musical da faixa é bonita, até acabar abruptamente, como se a cantora, com vergonha, tivesse sido apanhada por alguém a cantarolar.

Seguem-se “Frequency” e “Runaway”, que voltando, a dar energia e movimento ao álbum, preparam a chegada de “Rooftop Dancing”, uma das músicas mais interessantes de 2020, se tivermos em conta tudo aquilo que fomos obrigados a viver durante os últimos tempos.

Como qualquer outra canção sobre Nova Iorque, “Rooftop Dancing” traz essa forma citadina até ao interior dos nossos sentidos, dando-nos a sensação de que estamos, efetivamente, em NY, num parque soalheiro, junto ao Hudson, ou no terraço de um típico prédio nova-iorquino. Esta é uma faixa alegre, cheia de esperança e que faz com tenhamos apenas vontade de dançar, sorrir e viver.

Os Sylvan Esso são autênticas fontes de eletricidade e todos reconhecem que a música que a dupla produz é rica em energia. Apesar de ter sido um trabalho pouco inovador, Free Love foi muito bem recebido pela crítica, sobretudo porque é difícil não gostar da relação que a banda estabelece com os seus seguidores. A comunidade de fãs que Amelia e Nick formaram ao longo dos últimos anos está com certeza desejosa de, num futuro próximo, poder estar junto da banda num concerto ao vivo, onde não dançar será proibido.


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