quinta-feira, 4 de maio de 2023

“Thick As A Brick” (Island Records, 1972), Jethro Tull

 


Na época em que foi lançado, o álbum Aqualung (1971) foi classificado pela crítica musical como “álbum conceitual” devido ao fato do disco ser dividido por duas linhas temáticas distintas. Enquanto o lado 1 trata sobre os aspectos da natureza humana, tendo como o mendigo chamado Aqualung e a prostituta colegial Cross Eyed Mary como personagens centrais, o lado 2 tem uma abordagem voltada para a religião e o espiritualismo, sob uma visão bastante crítica e pessimista. Não haviam dúvidas para a crítica musical sobre Aqualung: se tratava de um “álbum conceitual”, segundo a sua visão.

Tal classificação deixou o vocalista, flautista e líder da banda Jethro Tull, Ian Anderson, bastante irritado. Anderson discordava completamente da classificação. Dizia que Aqualung não era um “álbum conceitual”. Em resposta à classificação da crítica, só para provocar, Anderson decidiu que o próximo álbum do Jethro Tull seria um “álbum conceitual”. Sobre isso ele disse: “Vamos dar a todos a mãe de todos os discos conceituais”.

E o Jethro Tull cumpriu a promessa ao lançar em 3 de março de 1972, Thick As A Brick, seu quinto álbum de estúdio. Thick As A Brick era a tal prometida “mãe de todos os discos conceituais”. Gravado no Morgan Studios, em Londres, em apenas duas semanas, Thick As A Brick possui apenas uma homônima e “quilométrica” faixa, dividida em duas partes, uma para cada lado da versão LP do álbum, totalizando no final pouco mais de 44 minutos duração.

Embora Aqualung seja encarado por alguns como um disco de rock progressivo, a crítica afirmou que Thick As A Brick era a primeira incursão do Jethro Tull ao rock progressivo. De fato, além da longa faixa – recurso comum em discos de rock progressivo – o Jethro Tull fez uso em Thick As A Brick de instrumentos musicais que são comuns em álbuns do estilo como o cravo, xilofone, saxofone, violinos e naipe de cordas.

Mas além de ser uma provocação aos jornalistas que teimavam em afirmar que Aqualung era um “álbum conceitual”, Thick As A Brick era também um deboche ao próprio rock progressivo. Já em 1972, Ian Anderson enxergava que o rock progressivo tomava um caminho em direção ao exagero e ao preciosismo descabido por meio de bandas como Yes, Emerson Lake & Palmer e Genesis, que levariam o estilo à sua decadência em meados dos anos 1970, não só por causa do desgaste, mas também pela ascensão de novidades como o punk e a moda da disco music que estavam conquistando o gosto musical da juventude da época. 

Jethro Tull em 1972, da esquerda para a direita: John Evan, Ian Anderson,
Barriemore Barlow, Martin Barre, Jeffrey Hammond.


A letra - que assim como a música, é também imensa - é um poema de um personagem fictício chamado Gerald Bostock (na verdade escrita por Ian Anderson), um garoto de oito anos de idade que narra como seria o processo da vida humana, desde a infância (com as brincadeiras de criança), passando pelas descobertas da adolescência, pelos compromissos da idade adulta até chegar à velhice, e encerrando o ciclo da vida com a morte. Toda a música é sustentada por várias mudanças de ritmos, passando pela folk music, rock, jazz e até marcha militar. Há várias passagens que são apenas instrumentais, tendo como função de encerrar um trecho cantado e anunciando um outro que está por vir.

Um caso à parte a respeito de Thick As A Brick é a capa, que imita muito bem os famosos e sensacionalistas tabloides ingleses. Além de servir como abrigo para o disco, a capa contém cerca de doze páginas, muito bem diagramadas de um jornal fictício intitulado The St. Cleve Chronicle, cujos textos foram escritos por Ian Anderson, pelo baixista Jeffrey Hammond-Hammond e pelo tecladista John Evan. Datado em 7 de janeiro de 1972, o jornal fictício é muito bem diagramado, possui uma aparência séria. Mas à medida que se vai lendo os textos, percebe-se que o conteúdo do jornal é recheado de textos absurdos e surreais, com forte inspirado na famosa trupe inglesa de humor Monty Python.

E a maior curiosidade do jornal fica por conta da matéria principal da publicação, que denuncia o menino Gerald Bostok, autor do poema e vencedor do concurso de poemas da fictícia de St. Cleeve, como um impostor. Segundo o jornal, a ideia do poema seria de uma menina adolescente, amiga do garoto. No texto, Gerald confessa que sua amiga o ajudou a escrever o poema. A história fica mais maluca e absurda ao se levantar a hipótese de que a amiga o teria assediado e o influenciado a escrever o poema.  

Embora Thick As A Brick tenha apenas uma longa música dividida em duas partes, o que a princípio seria comercialmente inviável, esse detalhe não foi capaz de afugentar o público. O álbum alcançou o 1° lugar na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos e 5° lugar no Reino Unido. Thick As A Brick também foi 1° lugar na parada de álbuns do Canadá, Dinamarca e Austrália, e 2° na parada da Alemanha.

Ainda em 1972, o Jethro Tull iniciou uma turnê para promover Thick As A Brick, onde a banda inglesa tocou o álbum na íntegra. No entanto, as apresentações contaram com breves pausas para mostra de esquetes de comédias calcadas em performances teatrais, entre a primeira e segunda parte da longa e única música do álbum.

Para o disco seguinte, Ian Anderson e seus colegas de banda decidiram que o próximo trabalho também seria um “álbum conceitua”. Assim como Thick As A BrickA Passion Play, de 1973, trazia apenas um longa e única música, dividida em duas partes pelos dois lados do disco, trazendo como a história de Ronnie Pilgrim, um homem que enfrenta uma jornada espiritual após a morte.

Faixas

Lado 1

1."Thick as a Brick" (parte 1) (Ian Anderson/Gerald Bostock)

Lado 2

2."Thick as a Brick" (parte 2) (Ian Anderson/Gerald Bostock)

 

Jethro Tull:  Ian Anderson (vocais, flauta, guitarras, violino e saxofone), Martin Barre (guitarras), John Evan (piano e órgão), Jeffrey Hammond-Hammond (baixo e vocais) e Barriemore Barlow (bateria e percussão).



Ouça na íntegra o álbum Thick As A Brick


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