segunda-feira, 12 de junho de 2023

B Fachada – Rapazes e Raposas (2020)

 

Uma ausência prolongada desembocou num disco surpresa e trouxe de volta o mais galante bardo da nossa praça. O disco é excelente, como seria de esperar, mas é a primeira vez que Fachada não inventa novas linguagens.

Há seis anos que não ouvíamos falar de B Fachada. Desde o último disco, de 2014, deu apenas alguns concertos esporádicos, nada de digressões, esteve entregue a um auto-proclamado «ermitério», longe da cidade, perto da natureza, com tempo de sobra para ver crescer os seus rapazes e estudar o habitat das raposas.

E, sem aviso prévio, sem singles nem antecipações, às 00h01 de uma segunda-feira de Julho, surgiu online este novo álbum. E foi a melhor notícia que recebemos este ano: o regresso de um dos melhores da nossa praça é sempre motivo de alegria, que se adensa ao constatar que é um regresso em excelente forma. Não seria de esperar outra coisa, Fachada não ia voltar só para cumprir calendário. Se voltou, é porque tem algo relevante para partilhar connosco.

Do ponto de vista lírico – que é onde Fachada mais assumidamente se distingue dos pares – continua de pena afiada, mordaz como sempre, com os seus contos, fábulas e parábolas sobre mundanices como namoros e mamocas, a vida secreta dos herbívoros ou a pobreza do espírito humano. Cantando sempre na sua métrica e língua própria – o fachadês – e sem nunca ceder à rima fácil.

Quanto à estrutura e composição, a curiosidade é que este é talvez o disco menos arrojado e inventivo de B Fachada. Pelo menos desde 2009, com Fim de Semana no Pónei Dourado, que ele tinha vindo a criar caminhos novos. Primeiro à guitarra, depois com a viola braguesa, depois ao piano, depois com os sintentizadores, depois uma parede de som com braguesas e sintetizadores, com as melodias entrelaçadas a criar verdadeiros mantras de inspiração minhota… Desta vez, não inventa novas linguagens e permite-se navegar, aperfeiçoando, as fórmulas que previamente criou. E se uns dirão que isto é preguiça criativa, outros defendem que Fachada reconhece agora que atingiu um patamar de excelência com o qual pode estar confortável, sem que isso signifique acomodar-se a uma zona de conforto.

É que, apesar de ser o disco que menos novidade traz, é um álbum altamente coeso, com todas as 15 canções numa bitola altíssima, não há nenhum momento em que a qualidade baixe, mesmo que ligeiramente. São 15 canções óptimas, mas se for preciso escolher a melhor: “Lambe-Cus”. Ou talvez “O Anti-Fado”. Se calhar “Prognósticos”. Ah, e há ainda o regresso a um personagem criado há 10 anos, nas “Memórias de Paco Forcado #2”.

O melhor é não escolher uma e ouvir tudo de uma assentada, várias vezes, porque a nossa impressão do disco só tende a melhorar a cada nova escuta.

B Fachada prova, mais uma vez, que é o mais eloquente bardo desta geração, conjugando airosamente o tradicional e o futurista, o erudito e o popular.  Com este disco, dificilmente irá conquistar novos seguidores, mas é uma delícia para os fãs de sempre.



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