quinta-feira, 8 de junho de 2023

CHINAWITE - Run For Cover (Mausoleum, 1984)

 

Quem diria que uma humilde banda de Sheffield chamada No Escape profetizaria com tanta precisão sons que mais tarde se tornariam mundialmente famosos na Sunset Strip de Los Angeles. O maior mérito desses garotos, formados em 1981 já como chineses, era esse dom da antecipação. O que não é pouco, mas não o suficiente para chegar ao topo. O seu álbum, editado pelo Mausoléu Belga, (uma espécie de NEAT mas com melhor gosto), também não deu em nada. Tampouco é considerado básico para o movimento lixo da NWOBHM - na verdade, passou sem penalidade ou glória -. E ver sua capa horrível não me surpreende. Mas tinha aquela palavrinha nojenta que os críticos de rock com ares da época tanto gostavam de usar: Frescor. Um ponto jovial e alegre que marcou uma nova forma de ver o hard rock. O segredo para o sucesso do mais tarde chamado hair metal, Um catchall que se adapta a todas as loucas dos anos 80, independentemente do estilo que as caracterizasse. É assim que a história é escrita jogando hosts. Chinawite estava entre tudo.



Algumas guitarras pesadas, refrões agora glam, agora AOR, boas melodias pesadas ou um power pop elegante. E o mais importante, a naturalidade do momento.

Eles eram Brian Glaves (vocais), Ian Von Coolburger e Al Thompson (guitarras), Gary North (baixo) e Kevin Oxley (bateria). Em 1983 conseguiram inserir as canções "Blood on the Streets" e "Ready to Satisfy" na compilação do Mausoleum, "Metal Prisoners". Que já havia sido seu single anterior na Future Earth Records. Nessa compilação eles dividiram um disco com outros ilustres zé-ninguém: Seducer, Acid, Ace Lane e Factory.

No ano seguinte editam "Run for Cover" querendo conquistar o mundo. Me chame de louco, mas para mim a faixa-título parece puro Waysted / Tyketto com os refrões de qualquer banda desonesta de Hollywood. Sua devoção ao Kiss é refletida em "Feelin'", e, com o ocasional clichê, ele passa no teste do algodão (removedor de maquiagem). Os quase seis minutos de "Slow Train" contêm belos riffs de guitarra (acima da média do Reino Unido no momento, pessoal) e um som muito parecido com o White Lion, acredite ou não. Incluindo a voz de Brian Glaves. Lembro que falta um ano para o lançamento de "Fight to Survive".

Um riff clássico do Rush serve como a espinha dorsal de "Lookin' for Action", outro teaser para Mike Tramp e amigos. Os guitarristas criam ouro em cada intervenção, soando claramente americanos. O "Operator" original, com seus cativantes "ganchos AOR" e hangouts Cheap Trick Power Pop, se destaca. Com um baixo simples, bem Gene Simmons, mas eficaz.

Virando o prato, "Runnin' High" me surpreende em sua proposta White Lion mais do que nunca. Isso poderia estar em "Pride", mas este foi no Atlântico ...... Não Mausoléu! Há uma "pequena" diferença. De qualquer forma, o que Chinawhite conseguiu é incrível, e seu resultado é anterior ao dos leões albinos. Dito isso, verifica-se que "Take no Prisoners" não está longe de "Out of the Cellar" de Ratt, lançado no mesmo ano...errrr, também pela Atlantic. Sheffield realmente não encolhe instrumentalmente com a comparação. Em "Midnight Cafe" eles inserem teclados na forma AOR pura, que é o que eles teriam feito em tempo integral se tivessem seguido. Boa melodia com reivindicações de rádio para os EUA, nada secreto. E um conjunto de guitarras de dupla palheta que reafirmam seu bom gosto. "Fast Lane" tem no seu espírito uma mistura de Boston com Dokken que continua a surpreender pela sua precocidade ao que será o som da América. A propósito, o trabalho de produção é extraordinário, parecendo muito mais caro do que deveria ser.

"Heartland" fecha o álbum com outro momento melódico difícil que faz você pensar em Ratt com um cantor melhor, (você vai me perdoar, mas eu não suporto a voz de Stephen Pearcy). Um disco realmente exitoso, e com um segundo lado mais do que estimável, o que não lhes adiantou muito.

Ninguém sabe ao certo quando Chinawite se separou ou o que aconteceu com eles. Se alguém quiser me pagar pela investigação, estou indo para Sheffield para desvendar o mistério em um instante. 



E não, não são o China White que virou Strangeways, justamente a partir de 84. Uma estranha coincidência que me deixa perplexo e pensativo, pensando em multiversos, universos paralelos e várias teorias de cordas. "Run for Cover" não entrará para a história, mas funciona, (mesmo agora), muito melhor do que alguns que o fizeram. Eu aconselho você a ouvir com atenção. 


            

Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

MUSICA PORTUGUESA

  Rão Kyao - Malpertuis [1976] [Remastered 2021] MUSICA&SOM JP Simões Canta José Mário Branco [2024] MUSICA&SOM