Mais de cinco anos de silêncio já preocupavam os californianos da Rádio Moscou. Pode me chamar de má ideia, mas Parker Griggs reaparecendo agora com o nome da banda mudado (sempre foi ele), me parece que tem a ver com não fechar portas, por causa de "Moscou". Que o mundo anda muito babaca ultimamente. Isso não me afeta. Agora O Cachorro, bem O Cachorro. Provavelmente no dia seguinte que você ler isso, estarei vendo esse vira-lata canibal... Conto as horas. Seu "primeiro" é chamado de "Cabelo de" e enriquece o glorioso velório deixado como Rádio Moscou. Um velho amigo da época, Lonnie Blanton (bateria), Shawn Davis (baixo), Holland Redd (guitarra base) e o maldito mestre Parker Griggs (guitarras, vocais, percussão, música, letras e produção canina).
À primeira vista, há mais funk e sensação latina. Banda de Gypsys+Funkadelic+primeira Santana. Mas vamos analisar a jogada de todos os seus ângulos. "The Mold" entra com um ambiente erótico de blues & psych que logo se transforma em uma explosão hendrix, em um reinado feroz e implacável de Wah Wah. Afinal, este Cão ainda é um moscovita. É uma reminiscência de "What's Next" de Frank Marino & Mahogany Rush em produção. Blues pesados mais corrosivos como um tiro de salfumán em "No Harm" (5'48), onde Parker Griggs trava um duelo de morte com sua seção rítmica. Que quilombo essas feras andam! Volto a ouvir Tito Frank, mas aquele da febre pós-Hendrix. E estou transbordando de alegria e entusiasmo adolescente. Percussões latinas entre uma cerca de arame farpado eletrificada em space blues perto da primeira Santana. Como uma saída de "Axis: Bold as Love", também é "Take me Away". Blues ácido atmosférico de pedigree impecável e apelos Blue Cheer de sincera homenagem. Big Voice ajuda, é claro. "K. Mt" remete-nos para o segundo álbum de Captain Beyond ou Blues Image, com aquele indomável acid rock latino hendrixiano e santanero. Uma confusão de elegância elétrica, classe A. Perfume percussivo selvagem de limões caribenhos (você vai ter que ter idade para entender isso!). Um instrumental apaixonante e vulcânico.
Abrindo o lado dois, "Breaking Free" tem intuições Funkadelic com uma voz de David Clayton Thomas. E uma guitarra digna de Terry Kath, Mike Pinera e para sempre, Frank Marino. Bendita trilogia. Em "Crazy Legs" eles aparecem novamente, como um milagre mariano de heavy psych gorduroso e sujo. Randy Holden junta-se à folia. muito brutal.
O título já diz, "Sitar Song" emula o dispositivo hindu com o machado, porque este é El Perro. Sem contemplações excessivamente místicas (apenas o suficiente). E morder. O soco do brontossauro de Lonnie Blanton está em exibição ainda mais, se possível, no final apocalíptico de "Black Days" (12:00). Uma vodu-jam que te assusta com sua selvageria nativa de jíbaros loucos. Hendrix dá sua aprovação cum-laude do outro lado, para esta psicofonia digna de Electric Lady Studios. E o "Lotus" de Carlitos revive com a mesma ferocidade incontrolável em um sacrifício sangrento em um altar asteca. Para aqueles que conseguirem o cd, ainda encontrarão a curta, mas raivosa, "O Grace". Um plágio (peguei, Sr. Griggs!!) da "canção de despedida" de Reddog. Eu o perdoo.
Este é outro monstro-artefato para um esplêndido e generoso ano Jurássico em maravilhas atemporais. Cuidado com o cachorro. Ele anda livre, solto e espalha sua raiva.
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