O Iron Maiden entendeu a realidade atual da música como poucas bandas foram capazes de compreender. Com a diminuição do consumo de mídia física em todo o mundo – com o Brasil na vanguarda do atraso, como sempre -, a banda inglesa passou a focar no lançamento de itens direcionados exclusivamente para a sua enorme e fanática legião de convertidos. Nights of the Dead, Legacy of the Beast: Live in Mexico City, décimo-terceiro álbum ao vivo do sexteto, é mais um exemplo disso: um souvenir feito sob medida para os fãs guardarem na coleção um registro da excelente turnê Legacy of the Beast. Quem não coleciona itens da banda achará o CD duplo totalmente desnecessário – e, para esse público, este review acaba exatamente aqui.
Nights of the Beast foi gravado nos dias 27, 29 e 30 de setembro de 2019 na Cidade do México, e traz o mesmo show que passou pelo Brasil no Rock in Rio e hipnotizou o público da Cidade do Rock em 4 de outubro do ano passado.
Os pontos fortes da Legacy of the Beast foram dois. O primeiro foi o resgate de clássicos há anos ausentes dos setlists do Maiden como “Where Eagles Dare”, “Revelations” e “Flight of Icarus”, além do retorno de hits recentes como “For the Greater Good of God” e “The Wicker Man”. As duas melhores músicas da era Blaze Bayley também estão entre os pontos altos, com performances arrepiantes de “Sign f the Cross” e “The Clansman”. O outro diferencial da tour foi a sua produção, o que transformou Legacy of the Beast no maior espetáculo visual da carreira do Iron Maiden, inclusive com a presença de um enorme avião no palco logo na abertura do show. Tudo isso foi deixado de lado com a decisão da banda de lançar o material apenas nos formatos de áudio (CD duplo digipack, CD duplo deluxe e LP triplo) e não dando aos fãs um registro profissional com todo o apelo visual do show, o que é uma pena. Resta torcer para que esse show seja disponibilizado pelo grupo no futuro em seu canal no YouTube ou em DVD e Blu-ray.
Há pontos discutíveis no setlist, com canções que já estão com o seu prazo de validade há muito tempo vencido, como é o caso de “2 Minutes to Midnight”, “Run to the Hills” e até mesmo “The Trooper”. Em compensação, clássicos eternos como “Aces High”, “The Number of the Beast” e “Hallowed Be Thy Name” seguem impressionantes.
Individualmente não há destaques, com todos os músicos apresentando a classe e a competência habituais. A solidez do Iron Maiden atual é elogiável, com uma performance irretocável. A produção, assinada por Tony Newton, é pesada e com um sutil toque de sujeira e aspereza, mas sem mergulhar nessas características como o ao vivo anterior do Maiden, The Book of Souls: Live Chapter (2017), também produzido por Newton. Não temos a produção cristalina de Maiden England (2013) e muito menos a crueza de A Real Dead One (1993), mas sim um resultado final que agrada bastante.
Nights of the Dead é mais um ótimo disco ao vivo da trajetória do Iron Maiden, e isso já era esperado. A se lamentar apenas a ausência de um lançamento em vídeo dessa turnê, que foi espetacular tanto musical quanto visualmente.
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