segunda-feira, 12 de junho de 2023

Romançário - 1996 - Antonio Madureira e Rodolfo Stroeter

 


1 - Romançário
Antonio Madureira
2 - Valsa de fim de tarde
Antonio Madureira
3 - Valsa de Salão
Antonio Madureira
4 - Acalanto
Rodolfo Stroeter
5 - Cantiga
Rodolfo Stroeter
6 - Estrela Brilhante
Antonio Madureira
7 - Ecos
Antonio Madureira
8 - Solidão
Antonio Madureira
9 - Rugendas
Antonio Madureira
10 - Vaga Música
Antonio Madureira
11 - Alma
Antonio Madureira
12 - Mira
Antonio Madureira
13 - Aiuasca
Antonio Madureira

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Reproduzo o texto de Agnaldo Farias, presente no encarte desse CD, uma concisa análise dessa obra.

"A economia de meios, o caráter despojado e exato com que as composições de Antonio Madureira saem da tradição, da suave inércia das melodias que estão impregnadas em nossa memória, para se lançarem em direção as fronteiras da linguagem musical, demonstram a transcendência do "movimento armorial", do qual ele foi um dos protagonistas. Embora concisa, não nos enganemos, trata-se de uma poética polifônica, que se plasma em várias vozes. E certo que neste Romançário só duas comparecem: o violão do próprio Madureira e o contrabaixo de Rodolfo Stroeter. Vozes à primeira vista inconciliáveis, dado que em resposta à seiva oferecida pela cultura popular nordestina trazida por Madureira, seiva que o levou ao memorável Quinteto Armorial, Stroeter apresenta o ecletismo voraz paulistano. O interesse disparado sobre as mais variadas culturas musicais do mundo, sempre feito sob as bases de um conhecimento sólido de nossa própria música, como, aliás, bem demonstra seu trabalho junto ao grupo Pau Brasil. Por isso é que é tão fascinante a maneira como se enlaçam, como o som produzido por ambos vão se confrontando no espaço e no tempo, num jogo em que a conjura entre ambos oscila entre a mescla uníssona e a distância irremissível.

Frequentemente cada composição tem seu início em temas evocativos, com o violão trazendo à tona cantigas vagamente familiares, pertencentes a um fundo atávico, evocações de um tempo em que o Brasil ainda se definia pela sua intensa geografia e por cidades moldadas na cordialidade entre as pessoas. Valsas e modas vão assim se construindo em frases cuja singeleza crispa-se levemente com o timbre metálico do violão. Os fios metálicos vão se entretecendo e enquanto se projetam para o alto, vergam-se sob o peso das notas do contrabaixo. Seja como um tecido inconsútil, enredado pelo atrito entre os fios do arco e as cordas do instrumento, seja como degraus fabricados pelos pizzicatos para que o som desça contaminando-se de silêncio, por esses momentos nada que o contrabaixo produz indica distâncias. Durante esses primeiros momentos a música vai avançando lisa, entoada por vozes enleantes. 

Quando então a harmonia se rompe. Do âmago do que já conhecíamos, daquilo cujo andamento já mentalmente adivinhávamos, irrompe, brusco, o inaudito, o surpreendente. As vozes afastam-se em dissonâncias e em superposições onde cada uma não quer mais a mistura, a fusão na outra; espelho que se recusa ao fabrico do igual. Agora é comum o contrabaixo recusar-se a criar o fundo onde o violão finca suas pegadas. Como também assistimos ao deliberado emaranhamento dos fios que o violão vai desenovelando no espaço. Esta, talvez, a lição de Madureira e Stroeter: de como, palmilhando o tranquilo caminho da memória, é possível topar-se de súbito com o impossível. Venha ele sob a forma de uma melodia que ainda não conseguimos apreender, venha ele sob o forma de silêncio."

MUSICA&SOM



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