quinta-feira, 1 de junho de 2023

Sérgio Godinho – Campolide (1979)

 

Lançado no final da década de setenta, Campolide fecha com chave de ouro a primeira década de carreira de Sérgio Godinho.

No ano de 1971, ocorreu um Big Bang no que toca à produção musical portuguesa: Zeca Afonso lança Cantigas do Maio e José Mário Branco estreia-se, ao lado de Sérgio Godinho. Os Sobreviventes, disco irrepreensível, foi apenas o início de um período no qual se escreveram algumas das músicas mais emblemáticas da língua portuguesa: “Romance de um Dia na Estrada”, “A Noite Passada”, “Balada da Rita” e “O Primeiro Dia”.

Campolide continua este período dourado apesar de, talvez por não incluir nenhum hino óbvio, raramente ser incluído no cânone musical do seu autor. Não deixa de ser um grande álbum, a começar logo com “Parto Sem Dor”, uma carta de despedida de quem já o fez inúmeras vezes. A vertente de intervenção continua a permear a sua obra, como se pode ouvir em “Arranja-me um Emprego” e “Vivo Numa Outra Terra”, cuja letra, que inclui linhas como “Eu sei que na minha terra há gente a lutar/Quisera eu estar lá com eles sem ter que emigrar”, se mantém assustadoramente atual.

A sofisticação dos arranjos que se ouviu nos álbuns anteriores continua neste disco, no qual se ouvem instrumentos a partilhar protagonismo com a guitarra, como o acordeão em “Lá Em Baixo”, uma canção que, misteriosamente, nunca se tornou um hino e não figura nos concertos recentes do músico. “Os Conquistadores” inclui um solo áspero de violino que ilustra perfeitamente a tensão da letra. “Quatro Quadras Soltas” contém uma alegre secção de sopros e a distinção curiosa de incluir as vozes de outros titãs da música portuguesa: Adriano Correia de OliveiraFausto e José Afonso (o último com direito a props e tudo).

Campolide não interrompe o período dourado da carreira de Sérgio Godinho, mas nunca é falado com a mesma reverência que normalmente é reservada a À Queima Roupa ou Pano-Cru. Urge ser redescoberto e reavaliado, pois é um disco fabuloso de um dos músicos mais consistentes que este país produziu.



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