Voltemos 15 anos atrás, ao momento em que os Sigur Rós mostraram que conseguiam também fazer música para um público mais alargado com Takk….
Não sei precisar se foi algo natural ou forçado, procurado pela banda, mas não há dúvidas que Takk… mostra uns Sigur Rós mais vivaços, mais festivos, libertando-se a eles próprios do rótulo de banda depressiva e mortiça que lhes foi colocado pelo trabalho dos álbuns anteriores nalguns segmentos da indústria e de seguidores. Injustamente, dizemos nós, dado que também há vida e magia na introspeção, tal como há água a correr dentro de glaciares. E glaciares é o que não falta na maravilhosa Islândia, como bem se pode comprovar mesmo não indo lá, através de Heima, documentário que acompanha os Sigur Rós na tour pelo seu país.
Depois do delicioso e magnânimo Ágaetis byrjun, a fasquia ficou bastante elevada, e os Sigur Rós refugiaram-se na experimentação pura de (), um álbum denso e portanto mais difícil de entrar, mas não menos intenso. Mas para se chegar ao coração desse terceiro disco da sua carreira, muito gelo foi preciso partir, sendo recompensado, quem a tal dedicou o seu tempo, com momentos únicos como Untitled #3 (“Samskeyti”) ou Untitled #8 (“Popplagið”). Inventivos como poucos, decidiram novamente mudar de rumo para o quarto álbum e chegamos assim a Takk…
Ao arranque, como sempre instrumental, segue-se “Glósoli”, uma amálgama de sons de relógios, um batuque cadenciado e constante, um baixo a marcar ritmo e a voz gélida e resplandecente de Jónsi a irromper nas entrelinhas, a irradiar luz em tudo até às explosão aos 4:40 quando se atinge a catarse da música, qual vulcão a explodir e a deitar lava por todo o lado. Dura só um minuto, voltamos aos relógios de corda, e depois entra “Hoppípola”, magia total, videoclip (mais abaixo) incluído, ondas de alegria a transbordar pelos violinos. A inclusão de um lado mais orquestral em todo o álbum é aqui facilmente demonstrada como tendo sido uma opção vencedora por parte da banda, que assim deu mais corpo e um lado épico às suas canções. O gelo derrete-se mais facilmente e assim se chega mais rápido ao coração dos Sigur Rós e da própria Islândia, tão ligados que estão banda e ilha.
Takk… é, na nossa humilde opinião, o álbum mais coeso de Jónsi e comparsas, todas as músicas com recantos luminosos e nunca baixando a fasquia, “Sé Lest” e “Andvari” pelo lado calmo e onírico, “Sæglópur” e “Gong” pelo crescendo e explosão que as músicas contêm, com “Mílano” algures no meio. Realce também para a canção que encerra o disco, a sublime “Heysátan”, somente Jónsi e piano, a dar o fim de festa ideal.
Mostrando uma banda na sua plenitude, Takk… é extático, partindo de uma base de tranquilidade tão característica à qual são adicionados momentos de pura alegria e catarse, conjugando-se na perfeição e levando os Sigur Rós a um público mais alargado, criando fãs incondicionais para a vida, como este que vos escreve. Venha quem vier.
Sem comentários:
Enviar um comentário