Ao sexto álbum, e sem a presença do guitarrista de sempre, os Killers foram obrigados a reinventar-se. Imploding the Mirage, a novidade, é uma boa surpresa: o disco estreita a relação do grupo com os anos 1980, é entusiasmante e elegante. K.D. Lang e Weyes Blood dão uma ajuda, mas o mérito vai todo para os rapazes de Las Vegas.
Ali em meados da década passada, com o revigorar do indie rock em alta, os Killers foram à pop dos anos 1980 alargar horizontes e distinguir-se dos parceiros de então. Onde os Strokes faziam lembrar os Television ou os Interpol nos devolviam à memória os Joy Division, a banda de Brandon Flowers nunca se negou a ir à pouco consensual década da pop para recolher impressões digitais de uns Duran Duran ou da faceta mais festiva de Bowie. Tudo condensado deu Hot Fuss, primeiro e ainda hoje o mais emblemático – e melhor – disco do grupo.
Um par de anos depois, Sam’s Town baralhou os devotos. Trocava os sintetizadores por guitarras, a influência britânica por ascendência americana – Bruce Springsteen ou Tom Petty -, o resultado foi mais desigual mas a ambição estava lá toda. E em 2020, ao sexto disco de originais, essa continua a ser a marca de água da banda. Os Killers sempre foram ambiciosos, provavelmente demais para as canções que tinham. Se eu não gostar de mim, quem gostará?, pensará Brandon Flowers recorrentemente, apostamos.
É inegável que os últimos anos trouxeram algum apagamento da chama. Battle Born, em 2012, era arrastado e desinspirado, e o mais recente Wonderful, Wonderful (2017) também esteve longe de deixar marca. As perspetivas para o regresso do grupo também não eram favoráveis: o guitarrista Dave Keunig saiu da banda (embora tenha a porta aberta para o regresso, asseguram os resistentes), a pandemia de covid-19 levou a atrasos no lançamento do disco, e o primeiro avanço, “Caution”, esteve longe de unir os devotos.
Também por as expetativas não serem as maiores, Imploding the Mirage é um belo disco. Mas não só. O namoro de Brandon Flowers pelos anos 1980 transforma-se em casamento e a abertura, “My Own Soul’s Warning”, desarma pela grandeza: um refrão épico e toda uma desmesurada vontade de ser, mostrar, partilhar, entregam-nos a grande canção do disco e um momento marcante na carreira dos norte-americanos.
Mais à frente, K.D. Lang (lembram-se?) ajuda na delicada “Lightning Fields”, a coqueluche do indie Weyes Blood também pica o ponto, há “Running Towards a Place” a fazer lembrar os War on Drugs depois de uma passagem pela pista de dança, e, no global, há canções que, a cada nova escuta, parecem maiores e mais intensas.
Imploding the Mirage é a versão adulta de Hot Fuss. Aqui, os Killers deixam as festas de liceu e abraçam a idade adulta, ainda que a tensão juvenil, as ambições de grandeza e a procura da imortalidade, mesmo que numa canção, se mantenham intocáveis. Chegarão os Killers a novo público com o trabalho? Dificilmente. Mas os acólitos têm, surpreendentemente, diversos motivos de alegria. Já não é mau.
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