Edge Records, 1975
Não há dúvidas de que Patti Smith quebrou com sua estreia, é notável a forma incrível que ela teve de tratar a contracultura com a mais delirante poesia e “Horses” é uma obra repleta de tudo isso. Ao mesmo tempo, ela se declarava antifeminista (apesar de estar sendo tão filosoficamente falando) e basta olhar a capa desse disco para perceber que, representada com roupas totalmente masculinas, desafiando a estética feminina e o slogan que mulheres rockstar devem mostrar seus atributos físicos para se destacar.
Musicalmente sabemos que Patti Smith odiava as classificações, o que resta dizer então é que não havia tanta força em um conceito como o dela, naquela época dizia-se que "ela era uma mulher com testículos". A força comovente de sua poesia misturada com claras influências de rock clássico como The Doors ou Van Morrison foi simplesmente brutal.
Mas claro, não demorou muito para ela se tornar uma mulher ícone do punk, a força de que falávamos foi captada na história e geração após geração naquela imensa demonstração de poder como 'Gloria', canção original de Van Morrison com letras reescritas com o verso transgressor "Jesus morreu pelos pecados de alguém / mas não pelos meus", o que lhe valeu um lugar em todo tipo de polêmicas que teve de enfrentar com muita coragem. Eram canções longas, até épicas, mas cheias de contracultura, animosidade subversiva e mensagens diretas.
Ele também teve o luxo de fazer um cover de uma ode punk como 'My Generation' do The Who e transformá-la em um hino de dupla geração. Em 'Free Money' ele iguala e supera os recordes de The Stooges, uma música que altera consideravelmente sua intensidade para explodir sua mente no seu ponto mais alto.
As referências ao poeta da geração maldita francesa Arthur Rimbaud ficam claras na trilogia »Terra: Cavalos / Terra das Mil Danças / La Mer (De)» que soa quase como uma homenagem ao seu ídolo. As colaborações de Allen Lanier da banda de rock psicodélico Blue Oyster Cult e Tom Verlaine da Television nos mostram como a ênfase deste álbum é orientada para uma espécie de cruzamento perfeito entre rock clássico e punk; que estava em pleno auge naqueles anos nos circuitos nova-iorquinos como a mítica casa de shows CBGB, berço e precursora de todo o movimento punk americano dos anos setenta e oitenta.
O sutil 'Redondo Beach', um reggae muito na linha do que o The Clash estava fazendo e as explorações do jazz como em 'Birdland' complementaram este trabalho de culto com nuances musicais muito diferentes. Sem dúvida o ponto de partida de um proto-punk finíssimo, sedutor, mas cheio de raiva e onde Patti Smith se destaca no movimento como uma mulher cheia de intelecto, integridade e força, e que seria apenas o início de sua grande Trabalho que não culmina até hoje, onde muito do rock de hoje tem como espelho esse grande ídolo de todos os tempos.
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