terça-feira, 11 de julho de 2023

O Que Você Sabe Sobre… John Weathers?

 

Gentle Giant com John Weathers no centro

John Weathers é um dos heróis esquecidos da era de ouro do Rock Progressivo. A habilidade de Weathers em manter um ritmo constante e denso que se desenvolvia ao seu redor fez com que as composições complicadas de uma das bandas mais originais do cenário tivessem uma sólida base. Trata-se do Gentle Giant.

Gentle Giant sempre esteve ligado a uma forma musical mais séria como a música litúrgica européia, a Renascença, a música medieval e a música clássica, uma grande parte da música da banda sempre esteve ligada ao rítmo nas suas variadas formas, de intrincadas melodias em contraponto, dedilhados em tempos estranhos à efeitos sonoros editados como os vidros sendo estilhaçados que criavam um padrão durante a introdução de ‘The Runaway’ do disco In A Glass House (1973).

Weathers habilmente executava padrões complexos nas composições do grupo, como nos esforços estelares de discos como The Power And The Glory (1974)Free Hand (1975)In’terview (1976) e no ao vivo Playing The Fool (1977), discos estes que foram remasterizados e relançados em CD e download através do selo da banda o Alucard. “Eu era um baterista de Soul e R&B”, diz Weather, 63 anos, diretamente da sua casa no País De Gales. “Eu sempre tentei priorizar a base da música. Se você floreia cada coisinha que surge numa música, acaba virando uma confusão.”

Há uma década atrás Weathers ficou chocado ao descobrir que estava perdendo algumas de suas funções motoras e não poderia mais tocar o bumbo da bateria. “Eu fui diagnosticado com Ataxia espinocerebelar (spinocerebellar ataxia), é grego e significa ‘andar como se estivesse bêbado’ ou algo assim, ” ele continua. “Um dia eu fui tomar banho e percebi que uma perna sentia a água quente e a outra não. Sentia a água fria. Foi ai que eu percebi que tinha algo errado comigo.”

John Weathers em foto recente...

Mesmo que Weathers admita que não é mais o baterista que já foi um dia, não o exclua da música. Nos últimos anos ele tocou com a Wild Turkey, sua antiga banda e também se apresentou em 2005 em uma convenção do Gentle Giant em Quebec no Canadá com uma Roland HandSonic HPD-15, um pad de percussão para se tocar com as mãos, junto com os outros membros do grupo Gary Green (guitarra) e Kerry Minnear (teclados).

“A convenção do Gentle Giant foi a primeira vez que eu vi aquele pad da Roland, eu inclusive peguei ele emprestado para aquele show,” diz Weathers. “Não é um kit de bateria completo, e eu estava apenas colocando as batidas na música, mas não esqueça que bateristas são como pugilistas. Eles são lutadores. Eles não lutam com outras pessoas, mas eles certamente batem muito em suas baterias em um palco.”

Tem sido com esse mesmo estilo ‘desligado’ que definiu o estilo de tocar de Weathers, que ele conduz sua carreira e vida. Nascido em Carmarthen, no País De Gales, ele foi seduzido logo cedo pela batida do rock ‘n’ roll e pelo skiffle britânico, isso inspirou John a “pegar agulhas de tricô e tocar em cadeiras de madeira, quando eu tinha 13,” até que ele ganhasse sua primeira bateria um ano depois. “Depois disso eu acabei me metendo com as pessoas erradas e ‘pegando carros emprestado’,” ele explica. “Não muito tempo depois, quando eu tinha 15, eu fugi de casa e fui viver com uns parentes em Liverpool.”

Não disposto a se render para a vida de crimes, Weathers começou a dedicar seu tempo para a bateria, tendo se apresentado com vários músicos de Liverpool, até que o pródigo percussionista resolveu voltar a Carmarthen e alcançou seu primeiro grande passo na carreira musical. “Eu já era profissional com 16,” ele relembra, “e acabei entrando numa banda chamada Eyes Of Blue que tinha ganho uma competição de música ‘beat’ da (revista) Melody Maker em 1966, o que nos levou a assinar um contrato com a (gravadora) Decca.” O tempo que Weathers esteve com a Eyes Of Blue, uma banda que se transformou de um conjunto soul para a psicodelia pop vigente na época, foi uma grande fundação para o trabalho posterior que faria com o Gentle Giant, que tinha evoluído de uma maneira similar ao Eyes Of Blue, vindos também da influência R&B/pop e que na época se chamavam Simon Dupree And The Big Sound.

Weather conheceu os irmãos Phil, Derek e Ray Shulman, e na época fazia parte do grupo Grease Band com o baixista Alan Spenner e o vocalista/guitarrista Henry McCullogh, ele se juntou ao Gentle Giant apenas temporariamente para a turnê americana de 1972. Ele iria substituir o baterista Malcolm Mortimore, que tinha quebrado os ossos da bacia, braços e pernas em um acidente de moto. Mortimore tinha uma visão mais jazzística para as músicas do Gentle Giant, Weathers se aprofundou na música da banda e aproveitando os seus talentos baseados no groove que aprendera nos anos de R&B e Merseybeat de Liverpool, foi rapidamente convidado a se juntar à banda permanentemente. “Eu tentava frasear o que eu achava ser importante e necessário para cada música, dessa forma o ouvinte não se perde dentro da canção,” Weather conta. “Essa foi uma das razões que me fez ser convidado para entrar na banda.”

Weathers não só começou a explorar novos ritmos mas também começou a dar maior prioridade a sua musicalidade, especialmente no palco. As deslumbrantes performances do Gentle Giant ao vivo eram lendárias, em parte pela habilidade de todos os músicos da banda tocarem mais de 1 instrumento. De fato, Weathers frequentemente tocava xilofone e violão, demonstrando a profundidade da competência técnica dentro da banda. “A mudança de instrumentos fazia parte do que era a banda, e era muito divertido,” ele diz. “Nós queríamos que as pessoas que nos assistiam se divertissem tanto quanto nós.”

Nos discos de estúdio da banda, especialmente em Octopus (1973) – o primeiro ‘grande’ passo do baterista no Gentle Giant, ele vislumbrava pela primeira vez a estranha e engenhosa versatilidade do grupo. “A música ‘River’ tinha 3 de nós tocando percussão nela – eu, o tecladista Kerry Minnear, que é graduado em percussão e o Gary Green, que começou na música como baterista, “Weathers conta. “E também traz uns sons estranhos que eu gravei através de um truque que eu aprendi. O que eu fiz foi conectar uma mangueira plástica na saída de ar de um dos tambores da bateria, um tom de 13′, e soprava através da mangueira. Dessa maneira, eu criei esse som com efeito ‘iô iô’ – a afinação da bateria subia e descia quando eu fazia as viradas.”

... e no palco nos anos 70 com o Gentle Giant

Conseguir os resultados que se queria no estúdio não era nada fácil. Weathers lembra das primeiras sessões de gravação como estressantes e exigentes. “Quando Ray Shulman chegou com ‘The Boys In The Band’ para o Octopus (1973), eu quase morri,”ele relembra. “Eu disse, ‘O que você esperava que eu faça aqui?’ Ele respondeu, ‘Toque.’ Eu disse, ‘Me dê três semanas!'”

“Um dos problemas em gravar o Gentle Giant era a natureza complexa dos arranjos das músicas,” diz o produtor Martin Rushent, que trabalhou como engenheiro de gravação no disco Octopus (1973). “Musicalmente tudo é perfeito no papel. Mas a não ser que você grave as faixas de bateria perfeitas, tudo soa como bagunça, por culpa de todos os instrumentos que seriam colocados mais tarde em overdub. Refazer a bateria no meio de uma gravação seria um pesadelo. Por isso, John tinha que ser preciso. E ele era.”

Nos anos 70, o Giant atraiu um culto de seguidores com sua direção artística inflexível e shows direcionados à músicos, em grande parte graças aos pés e mãos firmes de Weathers. É dito também que o baterista ajudou a manter o grupo junto quando Phil Shulman, uma das principais forças criativas do Gentle Giant, decidiu deixar a banda ainda em 1973. Aparentemente as turnês sem fim e a natureza do comércio musical fizeram com que Phil parasse. Pressionados pela sua gravadora na época para escrever singles, e ficando cansados de verem seus compatriotas progressivos alcançando sucesso comercial, o Gentle Giant condensou e temperou sua música com essa intenção nos lançamentos futuros como The Missing Piece (1977)Giant For A Day! (1978) e o quase new wave Civilian (1980). “Eu me lembro que no The Missing Piece (1977), a maioria das músicas foi gravada em um só take,” Weather diz. “Nós ensaiamos muito aquele material, mas acabou ficando um pouco sem graça, eu acho.”

O tempo foi gentil com o Gentle Giant nos últimos anos, mas no fim dos anos 70 a banda estava completamente fora do mainstream musical. Até mesmo os fanáticos pela banda achavam que eles tinham alcançado o máximo da criatividade alguns anos antes. No fim, em 1980, o Gentle Giant encerrou as atividades. Cada integrante foi atrás de seus próprios interesses. O vocalista/saxofonista Derek Shulman, por exemplo, se transformou em um dos ‘maiorais’ de gravadoras, responsável por assinar com bandas de sucesso comercial como Nickelback, Pantera, Cinderella, Dream Theater e Bon Jovi. Weathers continuou ocupado com a música durante os anos 80 e 90 com a reformada banda Man e se apresentando e gravando com vários músicos locais e para a tv galesa.

Embora o novo miênio tenha trazido novos desafios, Weathers aprendeu valiosas lições com o tempo: “Eu aprendi a aceitar minha condição física atual,” ele diz. “É o que é. Uma das minhas coisas mais preciosas é um kit Ludwig Superclassic rosa do meio dos anos 60 que eu comprei quando era do Eyes Of Blue, ela já viu dias melhores e hoje está guardada no segundo andar da minha casa. Aquela bateria tem história. Eu simplesmente não consegui me desfazer dela antes. E ela nunca estragou de verdade. Eu estou planejando dar ela ao filho do Kerry Minnear, que também é baterista. É algo que eu quero fazer. E seria ótimo ver outra pessoa tocando aquela bateria mais uma vez.”



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