Costumam dizer que as sequências não funcionam, mas estamos na presença de totalmente o contrário. Os garotos de Boston do Ok Goodnight publicaram seu segundo trabalho chamado The Fox and the Bird em 2 de junho, e o fazem de uma forma mais madura, mais elaborada e com uma ótima história para contar. Vale lembrar que a banda é formada por Casey Lee Wiliam (voz), Martin de Lima (teclados), Martin Gonzalez (guitarra), Augusto Bussio (bateria), Peter de Reyna (baixo) e com a participação especial de Elizabeth Hull.
Quando a banda lançou Limbo, seu primeiro álbum em 2019, chamou a atenção do público com suas sonoridades, mudanças de ritmo, a voz de Casey Lee Williams e a forma como constroem um álbum através do storytelling, ou seja, a construção de um história dividida em diferentes canções. A composição desse novo álbum levou dois anos, conta a banda em entrevista ao Good Noise Podcast, pois retratar tudo o que eles queriam não foi uma tarefa fácil. O tema está relacionado com a história entre uma raposa e um pássaro que têm de empreender uma viagem evitando obstáculos que os levarão ao extremo, muito semelhante a fábulas levadas ao cinema ou do mundo literário.
The Fox and the Bird tem uma mistura de diferentes gêneros, passam pelo rock matemático, jazzpop e metal essencialmente progressivo. A musicalização vai desde sons acústicos, teclados de Martin de Lima, bateria brilhante, ou solos de guitarra que nos fazem pensar que estamos a ouvir Dream Theater. Vamos falar sobre cada música.
O primeiro capítulo desta obra é A Seca (02:57), a introdução desta obra que contextualiza a história. Começa com alguns sintetizadores preenchendo o ambiente até que entra a poderosa bateria de Augusto Bóssio, o baixo avança junto com a voz de Casey. Vozes harmoniosas acompanhadas pela música principal, enquanto a bateria e o baixo continuam. A guitarra está presente junto com sons distorcidos com reverb.
The Fox and the Bird (04:40) é a segunda música do álbum e leva o nome do álbum. Com uma essência mais acústica, a história desta música transporta-nos por uma linha vocal bastante melódica que nos faz sentir como se estivéssemos a flutuar no espaço. Mais ou menos na metade do terceiro minuto, ocorre uma pausa que nos leva a um som mais sombrio, mas que nos faz retornar aos sons do início da música.
The Raccoon (and the myth) (04:58) é a terceira música e está carregada de mística com a história que a banda nos apresenta. Uma guitarra virtuosa que se move dentro do acústico e onde a voz de Casey brilha com todo o talento que ela tem. Uma balada calma e bonita para complementar ainda mais esse conto que está começando.
The Journey (02:09) é a primeira música disco instrumental e com uma ótima introdução no teclado de Bussio, entra a poderosa guitarra de Martin Gonzalez, nos dando um som muito parecido com o que ouvimos no Dream Theater. A viagem continua.
A Serpente (03:47) nos recebe com um teclado sombrio e uma voz com características semelhantes. Sem dúvida a cobra representa uma ameaça, a morte. Guitarras potentes e uma bateria no Bussio que ganha destaque pela sua robustez. A soma de todas essas peças nos arrasta para a loucura vocalizada por William.
The Nightmare (03:00) a segunda música instrumental do álbum. O sintetizador que prepara o cenário para que a bateria funky nos receba junto com o baixo de forma caprichada com notas baixas e rápidas. Sem dúvida, a bateria de Augusto mais uma vez rouba os holofotes. Mas não podemos negar que tanto Martín de Lima quanto Martin Gonzales nos dão uma imersão no pesadelo que nossos protagonistas estão vivendo.
The Falcon (06:12) mistura um pouco de tudo de bom. Entra com uma bateria jazzística, mas depois de alguns segundos a música começa a passar por diferentes estilos como math rock e metal progressivo. É um passeio que por vezes nos dá a sensação de que estamos a voar e que com passagens rápidas surfamos no céu. Vários estilos e melodias estão presentes nesta música, executada com grande virtuosismo e que, mais do que saturar, sugere que existe um grande trabalho composicional por trás dela. Com certeza uma das melhores músicas até agora.
The Dream (01:50) é a terceira música instrumental do álbum. É tempo de acalmar as águas. Uma melodia quente nos pega e nos faz desacelerar, mas segundos depois de terminar entendemos que vamos acordar desse sonho.
The Bear (05:06) é um dos singles deste álbum. Uma atmosfera aterrorizante é confirmada com aquele rugido de Elizabeth Hull (Atomic Guava) que faz sua primeira aparição. A voz de Casey brilha novamente em sua linha, enquanto Elizabeth faz os vocais de fundo. Um baterista presente com seus pratos, guitarras pesadas e um sintetizador que fecha o ambiente. As vozes guturais de Elizabeth são uma jóia. Nesta peça, a guitarra de Martin brilha tanto nos riffs quanto no solo.
The Crocodile (05:12) É difícil prever o que ele vai entregar. Você sabe que pelo som se torna um ponto complexo para os protagonistas da história. Você sabe que é perigoso, às vezes é caótico. A voz de Casey se destaca quando ela aumenta o tom, sendo um ponto alto da música. Do caos vem a calma para voltar ao caos como se fosse uma montanha russa. A guitarra com aqueles riffs pesados junto com a bateria, com suas mudanças de ritmo, me fez curtir muito. Se você não destruiu o pescoço cabeceando no último minuto, não sei se ouvimos a mesma música.
The Bird (03:07) uma última balada que nos faz sentir e sofrer tudo o que não pudemos sofrer até agora. Música bonita.
A Montanha (05:31) frenética desde o início. Esta é uma das canções de metal progressivo mais puro do disco. Elizabeth Hull marca presença novamente com seus guturais de partir o coração que entregam uma potência gigantesca, além do riff incessante de Martin junto com a bateria de Augusto. Além disso, o teclado De Lima faz um ótimo trabalho atmosférico. Estamos diante do clímax deste álbum, o ponto mais alto do sino que esta obra chamada The Fox and the Bird pode nos oferecer.
A Chuva (03:18) o último capítulo da nossa história. A chuva nos traz paz, um piano calmo junto com a voz de Casey nos diz que tudo acabou em uma catarse na floresta. Uma conclusão para tudo o que vivemos nesta experiência. Tudo vai para a água.
Ok Goodnight nos traz uma obra com um grau de maturidade e complexidade muito maior do que seu primeiro álbum. O fato de terem feito um álbum conceitual seguindo uma linearidade na história, que passa por diferentes fases e emoções, faz dele um dos grandes lançamentos que tivemos neste 2023. Uma diversidade de estilos e sonoridades. Dos acenos às lágrimas conseguimos experimentar. Ok Goodnight está, sem dúvida, caminhando para se tornar uma referência dentro do metal progressivo. E é porque a evolução que tiveram tem sido notória, dão-nos uma experiência que em muitos momentos nos surpreende com os seus sons e ritmos, e que estão dispostos a experimentar coisas novas. Um dos melhores lançamentos que temos neste 2023.
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