Pages from the Sea' é o quarto álbum de estúdio do músico italiano Stefano Panunzi (também membro fundador da FJIERI). Nela participam grandes músicos do meio, entre eles Pat Mastelotto, Markus Reuter, Alessandro Inolti e antigos colaboradores como Jakko Jakszyk e Mike Applebaum. Profundamente enraizado no art-rock cinematográfico e progressivo, Panunzi mantém-se fiel ao seu estilo na musicalização das quatro histórias que aqui apresenta. Uma obra conceitual com toques de ambiente sinfônico, alguns arranjos jazzísticos e uma atmosfera melancólica que geram uma aventura musical de alto nível, delicada e com cadências interessantes.
O disco começa com ´Wach Truth ? ´, peça instrumental em que o flugelhorn de Mike Applebaum rapidamente se estabelece como protagonista. A interação entre teclado e guitarra complementa brilhantemente a seção rítmica, um leve aceno para King Crimson, mas pontuado por padrões jazzísticos adequados. O baixo de Fabio Trentini gira em torno da melodia principal, fundindo-se de forma surpreendente, sem se chocar e intensificando a sonoridade jazz fusion que caracteriza esta peça. Segue-se ´Not Waving but Drowning´, uma canção originalmente de FJIERI que foi refeita para este álbum. Uma bela melodia onde Jakko Jakszyk empresta sua voz. O canto suave e pesaroso é acompanhado por uma linha de baixo muito robusta e sem trastes, que confere a esta peça uma misteriosa melancolia. ´The Secret´ é outro instrumental cujo fator marcante é a eletrônica de Sunao Inami. A programação de electro jazz de Inami junta-se aos ritmos frenéticos da bateria e do baixo, que por sua vez são complementados pelos exuberantes harmónicos do teclado de Panunzi. As variações que são geradas dão uma sensação de tempestade, de plena tempestade em alto mar. Com ´O Mar´ vem a calma. Uma viagem onírica de Peter Goddard que, acompanhado pelas guitarras Fripp de Giacomo Anselmi, nos resgata daquela tempestade e nos traz de volta à terra com sua voz.
Em ´You and I´ a voz é comandada por Robby Aceto. Uma canção de amor comovente enfatizada pela aspereza de sua voz. O trompete de Peter Dodge tocando ao fundo dá a esta peça um pouco de jazz exploratório legal. ´Steel Waves´ é outra peça instrumental, mas nesta o protagonista é sem dúvida o teclado. O trabalho de Panunzi é simplesmente incrível. Destaca-se também a percussão de Cristiano Capobianco, seus ruidos intermitentes articulando-se muito bem com as melodias dos teclados e o spinning bass de Fabio Trentini. Impossível ouvir essa faixa sem fazer alusão a Porcupine Tree. ´Cada gota do seu amor´é a segunda música que Jakko Jakszyk canta, que se apresenta como uma peça em movimento. A letra é um pouco fraca e a guitarra é exagerada em alguns momentos, principalmente nos solos. Ainda assim, as melodias são lindas e a bateria de Pat Mastelotto é verdadeiramente notável. Em ´Swimming to Sea´ o microfone fica novamente a cargo de Robby Aceto. Possui uma sonoridade mais enfadonha, buscando enfatizar o desespero expresso na letra. A falta de bateria animada reforça essa intenção, embora haja uma faixa de percussão ao fundo. O piano e o violão nadam na tristeza e percebe-se uma espécie de desorganização musical, evidenciando o luto. ´Estou me sentindo tão triste´É um instrumental contundente e jazzístico, que novamente conta com a participação do flugelhorn de Mike Applebaum. É uma bela melodia, impulsionada por vários teclados lindamente executados. Os riffs de guitarra e a linha de baixo são sutis e a bateria de Capobianco forte e concisa. Uma composição madura e estimulante dentro do smooth jazz.
´Those Words (Words Are All We Have)´ é outra versão cover de FJIERI. Como na versão original, Jakko Jakszyk canta, sendo sua terceira aparição neste álbum. A seção rítmica é diferente, mas mantém a essência da peça original . 'An Autumn Day' é uma das canções mais poderosas do álbum. A voz de Renée Stieger é linda, combina muito bem com o conjunto e a guitarra Warr de Markus Reuter também deixa sua marca, com um ótimo espaço para seus solos. No min 3:55 há uma mudança repentina de motivos que, embora não se choquem, não me parecem nada de extraordinário. O álbum termina com ´The Sea Woman´, uma serenata em forma instrumental. Tem uma abertura cinematográfica bem estilo Ennio Morricone para dar lugar a uma sucessão de camadas de sintetizadores e um piano que se torna dominante ao longo de toda a música. É uma combinação muito agradável e descontraída, com um efeito aquático que torna esta despedida bastante encantadora.
Com a elegância de No-Man e a sensibilidade de Pink Floyd e Porcupine Tree, Stefano Panunzi mais uma vez nos proporciona uma bela experiência sensorial. Uma jornada musical que engloba uma variedade de influências do rock progressivo, art pop e jazz, juntamente com vozes encantadoras que o prendem como uma sereia e o envolvem em um véu terno e melancólico.
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