Numa altura em que vários membros de Linda Martini lançam trabalhos a solo, o álbum de André Henriques é um olhar intimista e despido nas orquestrações, em que a letra carrega toda a música.
André Henriques disse uma vez em entrevista que as letras eram secundárias no trabalho dos Linda Martini. Mesmo não concordando, em Cajarana, o seu primeiro trabalho a solo, a poesia assume claramente o lugar principal.
Logo na primeira faixa o ambiente parece uma demo, pelo eco de toda a sala e apenas voz e guitarra. Coerente e equilibrado, é difícil escolher as músicas mais marcantes em Cajarana. “E de Repente” é uma excelente história sobre o amor num assalto, logo seguido de “Uma Casa na Praia” em que o musico canta “às vezes eu não chego para seres feliz. E se a gente fugisse para longe daqui”. Com 40 minutos espalhados por 12 canções, tem a duração considerada perfeita para estarmos com atenção à música que toca. E neste disco isso é um factor importante.
“As melhores canções de amor já foram escritas” e “as melhores canções de amor são as mais tristes” são duas frases cantadas em “As Melhores Canções de Amor”, às quais se segue “mas tu fazes-me sorrir”. Este tom algo depressivo com um optimismo de fundo não é dissemelhante aos temas abordados pelos Linda Martini mas esta abordagem despida de distorções permite ao autor uma maior elaboração, agora que as letras deixam de ser estar afogadas em instrumentos.
Um toque mais electrónico surge em “Pais, Mães e Bichos”, um tema que poderia ter um bom remix-pista-de-dança e que acaba numa folk com coros. A mais rápida de todas as canções é “De Tudo o Que Fugi”, com umas tímidas distorções a acompanhar. A última faixa de Cajarana, “Pese Embora” dá a volta e relembra a primeira música mas com mais voz que acompanhamento. “Pese embora a vontade eu nem sou nem metade do que vês em mim”. O que salta à vista é que em todo o disco as letras e histórias fluem sempre sem sair forçadas, que será o melhor elogio para quem as escreve. Com profundidade, sentido e emoção, André Henriques transporta-nos de tema em tema, até bom porto.
Está na altura de reconhecer André Henriques como um dos melhores letristas em Portugal.
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