Everything Else Has Gone Wrong mas os Bombay Bicycle Club estão de volta, em plena forma e com um bonito disco, mantendo a habilidade de sempre de nos fazer dançar envoltos nos seus sons etéreos.
Se há coisa de que não podemos acusar os Bombay Bicycle Club é de se repetirem. Os quatro discos que lançaram entre 2009 e 2014 podiam parecer, ao ouvinte distraído, da autoria de quatro bandas diferentes, cada uma de seu género e com influências distintas. Contudo, não se pode dizer que em Everything Else Has Gone Wrong, o mais recente trabalho do quarteto inglês e o primeiro em seis anos (já lá vamos), a banda se volte a reinventar. Em vez disso ficamos com a ideia de que Jack Steadman e amigos convidaram as suas múltiplas personalidades musicais do passado a colaborar todas juntas. O resultado é um disco coeso que se mantém positivo quando tudo o resto corre mal o que, convenhamos, até calha bem por estes dias.
Em janeiro de 2016, pouco depois do lançamento do seu álbum mais bem-sucedido até então, So Long, See You Tomorrow, de 2014, os Bombay Bicycle Club surpreenderam os fãs anunciando um hiato por tempo indeterminado. Venderam o equipamento e foi cada um para seu lado, uns para desenvolver projetos a solo, outros para estudar e até iniciar atividade política nos conturbados tempos das negociações do Brexit. Na prática, experimentar a vida sem ser um membro ativo dos Bombay Bicycle Club, algo que não faziam desde o fim do liceu. Foi em 2019, quando já ninguém os esperava, que a banda reapareceu, aparentemente revitalizada pelo seu retiro, com o anúncio de que estaria para sair o seu quinto disco, ideia que surgiu quando se reuniram para discutir a tour de celebração dos dez anos do álbum de estreia, I Had The Blues But I Shook Them Loose, a ter lugar no fim do ano. Everything Else Has Gone Wrong foi lançado pouco tempo depois, em janeiro de 2020.
Logo à primeira audição, vêm-nos à memória sons a que os Bombay Bicycle Club já nos habituaram em discos passados e é inegável que estamos perante um disco da banda, como se não tivesse passado tempo nenhum desde a última vez que nos cruzámos com eles. Canções com letras simples, baseadas em repetições, guitarras que nos remetem para os seus primórdios do indie rock e sintetizadores herdados de So Long, See You Tomorrow em medidas iguais e, claro, a voz etérea de Jack Steadman. “Get Up”, a curta faixa que abre o álbum, é um ótimo exemplo desta mistura. Já estamos de pé. Seguem-se “Is It Real”, que nos traz guitarras nostálgicas de quem parece estar a ver a vida a passar demasiado depressa e, também, a faixa que dá nome ao álbum, “Everything Else Has Gone Wrong”. Esta parece ter ganho um novo significado nos últimos meses, não que o mundo estivesse particularmente certo antes da recente pandemia, mas há alguma alegria, ou, pelo menos, uma certa resignação positiva, em cantar no refrão “Keep the stereo on, everything else has gone wrong” enquanto damos por nós a bater o pé ou a balançar a cabeça ao ritmo do sintetizador. Coincidência ou não, outra canção que parece fazer agora todo o sentido, apesar de ter saído no verão de 2019 como single de apresentação do novo disco é “Eat, Sleep, Wake (Nothing But You)” que surge como um hino involuntário à quarentena, ao amor e ao distanciamento social a dois.
Falando agora de temas que não fazem lembrar contenção de doenças, “I Can Hardly Speak” e “Do You Feel Loved” são duas canções ótimas que vão buscar bastante à onda eletrónica do último álbum e cuja audição imagino ser ideal ao vivo, de preferência numa sala fechada, ambiente perfeito para mergulhar completamente nas camadas sonoras e cantar com eles “I’m floating in a dream”. Pelo contrário, “Good Day” soa aos Bombay Bicycle Club mais jovens e acústicos, conseguindo, no entanto, distinguir-se, talvez por ser da autoria de Ed Nash, baixista transformado em autor durante o hiato. Num tom alegre, a letra fala sobre a falta de tempo e de objetivos e, talvez, de um certo medo de envelhecer. Acaba concluindo que só o próprio é que se interpõe entre si mesmo e um “good day”. Quem nunca praticou o overthinking que atire a primeira pedra.
Finalmente, “Racing Stripes” é simples e delicada e fecha o disco num tom de esperança, com várias vozes a entoar “This light will keep me going”. É um fim bonito para um disco bonito que, contra aquilo que o título nos poderia levar a pensar, é bem disposto e tem uma mensagem feliz. Quando tudo à volta corre mal, mais vale dançarmos ao som destas leves canções de amor que se ouvem tão bem, ainda por cima porque a pausa parece ter feito bem aos quatro rapazes do norte de Londres que se apresentam em plena forma e, sobretudo, aparentemente satisfeitos. Agora é esperar por concertos futuros. Keep the stereo on, everything else has gone wrong.
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