terça-feira, 24 de outubro de 2023

Crítica Jorja Smith: “Falling Or Flying”

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Crítica

Jorja Smith

 : "Falling Or Flying"

Ano: 2023

Selo: FAMM

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Amber Mark e NAO

Ouça: Little Things, Go Go Go e Try Me

Mesmo que cinco longos anos tenham se passado desde que Jorja Smith deu vida ao último trabalho de estúdio, o bem-recebido Lost & Found (2018), a cantora britânica em nenhum momento se manteve em silêncio. Além de colaborar com nomes importantes como IbeyiCalvin HarrisBurna Boy e FKA Twigs, a artista lançou há dois ano o EP Be Right Back (2021), ampliando ainda mais o próprio campo de atuação. É como um longo período de ensaio, diálogos com os mais variados parceiros criativos e instantes de sutil experimentação que culminam agora com a apresentação do aguardado Falling Or Flying (2023, FAMM).

Segundo e mais recente trabalho de estúdio da artista, Falling Or Flying pode até seguir de onde Smith parou no lançamento anterior, vide a ainda intensa relação com o R&B, porém, utiliza de uma abordagem completamente transformada. Não por acaso, antes mesmo do novo disco ser oficialmente anunciado, a cantora escolheu Try Me como a primeira canção do registro a ser entregue ao público. Da construção das batidas que apontam de maneira inusitada para a música árabe, passando pela imposição e maior fluidez das vozes, tudo soa como uma interpretação reformulada do fino repertório explorado no álbum anterior.

Mais do que isso, o sucessor de Lost & Found é um campo aberto às possibilidades. Sétima composição do disco, Go Go Go talvez seja o exemplo mais representativo disso. Soando como uma canção perdida do The Kooks na fase Inside In / Inside Out (2006), a faixa rompe com o R&B para aproximar a artista do indie rock dos anos 2000. É como um contraponto “britânico” ao mesmo direcionamento adotado por SZA em SOS (2022), vide o flerte com o pop punk em músicas como F2F. São momentos de maior libertação, mas que invariavelmente regressam ao mesmo território criativo que há tempos vem sendo explorado por Smith.

Em Little Things, por exemplo, apesar do breve diálogo com o jazz, difícil não pensar na canção como uma extensão natural daquilo que a artista havia testado em On My Mind, um dos primeiros sucessos de Smith. Outra que aponta para o passado é Broken Is The Man, um soul deliciosamente melancólico que destaca o aspecto confessional da cantora. O próprio encontro com Lila Iké, em Greatest Gift, é outra que poderia facilmente ser encontrada no repertório de Lost & Found. Um misto de passado e presente que evidencia um esforço lógico em avançar criativamente, porém, preservando traços característicos do disco anterior.

Se por um lado esse desejo em provar de novas possibilidades amplia significativamente os limites do registro e distancia Smith de um resultado formulaico, por outro, torna evidente a indecisão da cantora em relação ao próprio trabalho. É como se para composição capaz de destacar a versatilidade da artista em estúdio, outras duas faixas trouxessem o disco para próximo do material apresentado em Lost & Found. O resultado desse processo está na entrega de um álbum exageradamente longo e repleto e canções que se repetem tematicamente, vide a sequência de músicas que ocupam a segunda metade de Falling Or Flying.

Embora irregular, o segundo e mais recente trabalho de estúdio da artista inglesa está longe de parecer um álbum ruim. Mesmo quando se repete criativamente, Smith em nenhum momento diminui o nível da própria criação. Seja pelo uso sempre destacado das vozes, evidente força dos sentimentos e minucioso encaixe das batidas, cada nova faixa destaca o esmero da cantora. A diferença está no enquadramento dado ao registro, afinal, enquanto Lost & Found prezava pela completa homogeneidade, Falling Or Flying rompe com essa lógica, como um convite a se perder em um repertório marcado pelo caráter exploratório.



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