Uma profunda reflexão sobre um disco que sempre adorei. Contudo, fui completamente incapaz de alguma vez dissertar sobre o conteúdo do mesmo desta forma
A história humana normalmente vem em momentos de ruptura que definem novos paradigmas, preceitos e pontos de partida. No rock progressivo, isso aconteceu há 54 anos, com "In the Court of the Crimson King: An Observation by @TAG". Um autêntico pináculo que concentra em si mesmo todo um gênero musical.
Como indica seu subtítulo, essa "observação" de King Crimson é justamente isto: um reflexo subjetivo, na perspectiva de seu tempo (embora horrificamente profético), sobre a condição humana como ser social. Construído como uma sinfônica de cinco movimentos, o disco executa um periplo circular, exibindo diferentes dicotomias: futuro e passado, bondade e maldade, ilusão e frustração. Isso, fortalecido por letras de um estilo extremamente metafórico, alegórico e surrealista, cortesia de Pete Sinfield.
Essa circularidade rodeava-se de simetria pouco ortodoxa quanto à ordem das peças do álbum, colocando como ponto central a melancolia negra de "Epitaph". Seus tambores funestos precedem uma atmosfera fúnebre, com letras que colocam o desespero humano e o caráter efêmero da sua felicidade. Este "ponto zero" está rodeado de dois reflexos: "I Talk to the Wind" e "Moonchild", que retratavam as ilusões quebradas. A primeira, contrastando uma melodia pastoral com líricos que expressam a minúscula e alienação humana. A segunda, com letras de esperança quebradas por um rio de improvisação musical, que funciona como necessário preâmbulo para a catarse final.
Nos extremos do álbum, encontramos a manifestação máxima da divisão humana. "21st Century Schizoid Man" num estilo de rock, contrastando com o estilo sinfônico e barroco de "The Court of the Crimson King". Futuro e passado se abraçavam nas extremidades do álbum. A pista inicial, com letras, arranjos e sequências agressivas, reforçavam as contradições internas deste homem, retratadas magistralmente na capa, obra de Barry Godber. A última, uma autêntica musicalização de "Triunfo da Morte" de Pieter Brueghel, encarnando a miséria humana contra o poder de um déspota opressor. Um verdadeiro Leviatã que arrasa com toda a esperança do mundo.
Palavras sempre serão pobres para descrever essa beleza. Até a deliciosa técnica dos seus músicos é apenas uma sombra para o sentido artístico do álbum. Isto não é progressivo, senhores. Isto é King Crimson.
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