quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Crítica Pangaea: “Changing Channels”

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Crítica

Pangaea

 : "Changing Channels"

Ano: 2023

Selo: Hessle Audio

Gênero: Eletrônica, Techno, House

Para quem gosta de: Floating Points e Daphni

Ouça: Installation, If e Hole Away

Produtor conhecido pela criação do selo Hessle Audio, por onde passaram artistas como Olof DreijerAnz e Shanti Celeste, Kevin McAuley está de volta com mais um novo trabalho de inéditas como Pangaea. Com o título de Changing Channels (2023), o registro de sete canções se apresenta por completo logo nos minutos iniciais, em Installation. São pouco mais de três minutos em que o artista londrino destaca a construção das batidas enquanto espalha fragmentos de vozes e camadas de sintetizadores que apontam para a produção da década de 1990 sem necessariamente corromper a identidade criativa e a própria originalidade.

São movimentos rápidos, sempre calculados, como uma fuga das criações extensas que tradicionalmente embalam obras do gênero. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada da canção seguinte, Hole Away. Tão imediata quanto a composição que a antecede, a faixa marcada pela firmeza das batidas e vozes ritmadas funciona como um aceno para a cena eletrônica inglesa. Instantes em que McAuley evoca nomes como MJ Cole a Disclosure em uma abordagem que destaca o lado acessível e dançante do artista. É como uma simplificação de tudo aquilo que o produtor havia testado no trabalho anterior, In Drum Play (2016).

Embora descomplicado e capaz de dialogar com uma parcela ainda maior do público, Changing Channels em nenhum momento deixa de encantar o ouvinte pelos detalhes. Exemplo disso fica bastante evidente em If. Um pouco mais extensa do que as canções que a antecedem, porém, marcada pelo mesmo dinamismo, a faixa chama a atenção pela forma como McAuley lida com a sobreposição dos elementos. São incontáveis camadas de sintetizadores e texturas que ampliam os limites da composição sem necessariamente reduzir o destaque dado aos vocais, componente que continua a reverberar mesmo após o encerramento da obra.

Vem justamente desse maior aproveitamento das vozes o estímulo para a composição seguinte, The Slip. Partindo da voz como um elemento de marcação rítmica, McAuley garante ao público uma criação talvez simplista quando próxima de outras músicas apresentadas ao longo do disco, mas não menos interessante. É como uma interpretação particular daquilo que os conterrâneos da dupla The Chemical Brothers haviam explorado no ainda recente For That Beautiful Feeling (2023), vide a forte similaridade com músicas como No Reason e todo o potente repertório assinado em conjunto pelos produtores Ed Simons e Tom Rowlands.

Com a chegada da própria faixa-título do registro, McAuley mantém a fluidez dos elementos, porém, utiliza de uma abordagem completamente distinta em relação ao restante da obra. É como se o produtor deixasse de lado o caráter emergencial e dinamismo explícito na abertura do trabalho para investir em uma canção marcada pelo caráter imersivo, por vezes íntima das criações de The Field e outros nomes do gênero. Não se trata de uma composição ruim, mas de uma quebra em relação ao restante do material. Nada que Squid, vinda logo em sequência, com suas batidas e sintetizadores sempre em destaque, não dê conta de resolver.

Esse mesmo direcionamento criativo, porém, partindo de uma abordagem totalmente reformulada, acaba se refletindo na música de encerramento do disco, Bad Lines. Enquanto parte da canção dialoga com os mesmos elementos incorporados ao bloco inicial do trabalho, difícil não perceber no caráter eufórico dos sintetizadores e vozes uma forte similaridade com a obra de Two Shell e demais representantes da nova cena inglesa. É como se McAuley proporcionasse uma viagem musical que vai dos primórdios da produção eletrônica ao presente cenário em uma excitante combinação de estilos, diferentes ritmos e referências.



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