terça-feira, 14 de novembro de 2023

Donovan – Sunshine Superman (1966)

 

Se, no início da carreira, Donovan era visto como a resposta britânica a Bob Dylan, em Sunshine Superman, o músico escocês mostra o seu lado pastoral e psicadélico, distanciando-se definitivamente da sombra do norte americano.

A carreira de Donovan Philips Leitch começou a ascender em 1965 com o lançamento de “Catch The Wind”, música folk retirada do seu disco de estreia, What’s Bin Did and What’s Bin Hid. No entanto, a vinda de Bob Dylan ao Reino Unido, no mesmo ano, fez com que a imprensa começasse a considerá-lo como apenas um clone britânico deste, um termo que Donovan recusava e tentava sacudir a qualquer custo.

Felizmente que, nesse mesmo ano, Donovan travou conhecimento com Mickie Most, que havia produzido músicas dos Animals e Herman’s Hermits, tendo juntado uma banda de apoio para as sessões de gravação da qual faziam parte Jack Bruce, futuro membro fundador dos Cream e John Paul Jones e Jimmy Page que viriam a criar os Led Zeppelin.

Destas sessões, cheias de gente com tanto talento, veio ao de cima toda a qualidade de Donovan, ele que até foi publicamente elogiado por John Lennon e Paul McCartney aquando do retiro na Índia, em 1968, por lhes ter ensinado uns truques na guitarra, os quais foram visíveis nas faixas do Álbum Branco.

Determinado em fugir ao rótulo de clone de Dylan, libertou-se nas sessões de gravação de Sunshine Superman e fugiu do tradicional folk, fundindo-o com outros géneros musicais como o jazz, blues e a pop psicadélica, salpicando tudo isso com influências orientais. Estas gravações foram tão frutíferas que sobraram canções que acabariam por ver a luz do dia nos discos seguintes.

Para os detratores, Donovan não quis deixar qualquer dúvida. O seu terceiro longa duração, que abre com a canção título, cedo coloca um ponto final na comparação entre o escocês e Bob Dylan. “Sunshine Superman”, com as suas pinceladas psicadélicas, guitarras gravadas de forma inversa e letras coloridas, é um belo cartão de visita para o álbum que alarga os horizontes folk de Donovan, transportando-o para a pop.

“Sunshine Superman” é, certamente, a melhor canção do disco homónimo e, provavelmente, a melhor da carreira de Donovan, com participação especial de Jimmy Page e John Paul Jones, os “apenas” músicos de estúdio. No entanto, o álbum vai muito além da faixa título, com o lado psicadélico a continuar a sentir-se, como se pode constatar em “Three King Fishers” através da utilização de uma sitar, instrumento que ainda era algo inusitado na pop pré-1967. Já na faixa que a precede (“Legend of a Girl Child Linda”), Donovan recorre ao cravo e outros elementos da música barroca para lhe dar um ambiente surreal, som que algumas bandas britânicas, particularmente os Zombies em Odessey & Oracle,  também abraçariam poucos anos mais tarde.

Antes de acabar o primeiro lado do álbum, Donovan dá-nos outra canção com influência indiana – “Ferris Wheel”, mostrando, novamente, a sua queda para paisagens etéreas, enquanto“Bert’s Blues” homenageia Bert Jansch com o seu lado mais jazzístico e obscuro.

Quando viramos o disco de lado, a canção que nos aparece de seguida é a excelente “Season of The Witch”, outro dos marcos de Sunshine Superman. Aqui, Donovan sai do registo paz e amor para nos entregar uma visão mais apocalíptica do mundo, onde beatniks estão à procura de dinheiro e não de conhecimento e de outros que não saem da cepa torta: “rabbits running in the ditch”. Estas letras mais negras vêm acompanhadas de uma guitarra baixo e teclas de tons mais assombrosos e fazem a estreia de Donovan na guitarra eléctrica.

Continuando numa toda mais áspera, Donovan relata-nos uma “trip” de LSD durante uma estada em Los Angeles. A canção, justamente denominada “The Trip”, fala-nos de Fellini, de Merlin, de Dylan e Joan Baez, enquanto percorremos a cidade da Califórnia a uma velocidade estonteante.

Nas últimas três canções, Donovan acalma o registo e volta a uma toada mais branda, seja novamente no registo barroco com “Guinevere”, no regresso às tradições hindus em “Fat Angel”, canção que homenageia Cass Elliott, cantora dos Mamas & The Papas ou na belíssima e doce “Celeste”, canção mais próxima do conceito de balada. Nela, Donovan dá-nos a sabedoria de que é mais fácil de ultrapassarmos as dificuldades da vida se tivermos alguém com quem as enfrentar.

Com isto chegamos ao fim do disco e conseguimos, claramente, verificar a distinção entre Donovan e Dylan. Enquanto o segundo é movido pelo realismo e tem uma postura mais crítica em relação à sociedade, o primeiro é um filho da geração flower power, muito mais místico e optimista, tendo abraçado o movimento psicadélico, sendo este Sunshine Superman um álbum clássico que apanha toda essa essência. Um disco essencial no catálogo de todo o entusiasta dos anos 60.

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