domingo, 24 de dezembro de 2023

Mike Patton & Jean-Claude Vannier – Corpse Flower (2019)


 

A colaboração entre Mike Patton e o antigo parceiro de Serge Gainsbourg dá-nos um disco surpreendente, elegante e dramático, feito de beleza e destruição insinuada

Em 2011, foi organizado um concerto na Califórnia destinado a celebrar a obra do mestre-maior da música francesa, Serge Gainsbourg. Ao leme do projecto estava Jean-Claude Vannier, antigo colaborador de Gainsbourg em discos como o clássico absoluto Histoire de Melody Nelson, de 1971. Entre os inúmeros vocalistas convidados a dar voz aos temas do músico francês, estava Mike Patton, e foi então que conheceu Vannier.

A relação não foi fácil. Vannier actuava como guardião da música do seu velho amigo e exigia o máximo de cada protagonista. Patton ficou de olho naquele velhote francês que dava lições de música como se falase de bola à mesa do café, e que não se intimidava por estar perante algumas das figuras mais conhecidas dos EUA. Então, ficou a conversa entre os dois, de que um dia haveriam de fazer um disco juntos.

Até que, no intervalo dos seus 500 projectos, Patton decidiu levar a sério esse acordo, e contactou Vannier, que embarcou na aventura. O resultado é este estranho mas lindíssimo objecto chamado Corpse Flower. Para a sua gravação, Vannier e Patton nunca estiveram juntos na mesma sala. Cada um ia trabalhando no seu canto, um em Paris, o outro em São Francisco, e trocavam as evoluções musicais, afinando, mexendo, até chegarem a algo que agradava a ambos. Do lado de Vannier, alguns músicos seus conhecidos, veteranos da cena musical francesa; do lado de Patton, este tinha a banda que acompanha Beck (que é também um fã de longa data de Gainsbourg e que trabalhou com muito sucesso com a filha daquele, Charlotte).

O resultado final desta bizarra combinação é um disco elegantíssimo, negro, que balança entre a beleza e a destruição, mas sempre de forma sóbria e delicada. Os temas e arranjos de Vannier mantêm toda a leveza e originalidade clássica que o caracterizam, destacando-se naturalmente o seu trabalho de cordas, sempre bonito e eficaz a dar o tom necessário, seja dramático ou leve, sério ou brincalhão. Patton alterna entre o inglês e o francês, vestindo-se de uma aura de Mefistófeles, um ser de perigo sempre implícito (pense-se numa mistura entre Nick Cave, Mark Lanegan e Serge Gainsbourg).

Corpse Flower habita o universo familiar de Vannier, que se mobila de música clássica e pop, num caldo de coros clássicos, cordas, baixo proeminente e guitarras subtis. Um disco no qual podemos viver vários meses, que se vai revelando a cada audição e pedindo regresso e novas descobertas.



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