domingo, 24 de dezembro de 2023

Comet Gain – Fireraisers Forever (2019)

 

Os Comet Gain chegam, partem tudo, e não se demoram. O assunto apresenta-se deste modo: não há tempo a perder, e se houver algum de sobra, é apenas para se beber mais um copo ou dois.

Os Comet Gain já andam nas lides do rock há muitos anos, mas vão continuando a ser ilustres desconhecidos cá pelo nosso retângulo. Talvez seja desta que o punk-pop-rock da banda de David Christian vingue e se torne audível. Mereciam, sobretudo para os que apreciam ouvir um disco novo com inequívoco travo antigo.

Fireraisers Forever é para se ouvir com a pica de quem sai numa noite de sexta-feira para se divertir à grande e sem pensar na ressaca de sábado. Viver o  momento é o mais importante. Deverá estar à frente de tudo, sobretudo da eternidade sofrida do dia seguinte. É um disco para se ouvir com a rapidez de quem quer tudo, para se ouvir como quem deseja todos os prazeres possíveis, e que sejam muitos, intensos e bons. Há nele uma atitude punk-rock que não engana e, pelo meio, uma veia pop capaz de encantar com melodias certeiras, mas sem serem demasiadamente orelhudas. A produção ajuda a conseguir o que se deseja. É crua, rápida, sem rodriguinhos. Por isso é bom dar de caras com um disco assim, sobretudo quando nos parece que a banda inglesa há muito que não acertava tanto na mouche como agora. Provavelmente, desde Réalistes, álbum que data de 2002.

Vamos às canções, sem mais demoras. Um punhado delas a abrir as hostilidades. Tomem nota: “The Girl With the Melted Mind and Her Fear of the Open Door”, “Society of Inner Nothing”, “Victor Jara, Finally Found!”, “Werewolf Jacket” e “Mid 8Ts” são, cada uma à sua maneira, canções deliciosamente mal comportadas, embora sem exageros descabidos. Ritmo e linhas melódicas suficientes para nos encantarem, para nos desassossegarem o corpo e a mente. Ótimas para beber copos e para desperdiçar algum desse líquido enquanto nos abanamos, irrequietos e satisfeitos, no meio de uma qualquer pista de dança. Mas também as há (ligeiramente) mais tranquilas, é um facto. E bem bonitas, como é o caso de “The Godfrey Brothers” e de “I Can’t Live Here Anymore”, tema que encerra o álbum.

Fireraisers Forever destaca-se por ser um trabalho muito compacto, um bloco de som com personalidade muito concordante, não se dispersando por géneros ou ritmos distintos. Funciona como um todo. Por isso, sobretudo por parecer ter nascido de um espasmo criativo, espontâneo e bravio, é melhor que não nos alonguemos muito a escrever sobre ele. Não vale muito a pena, acreditem. É apenas um disco para se ouvir! Embora pareça estranho dizer tal coisa (não teremos de explicar as razões de tal exclamação, pois não?), é mesmo o que sentimos quando metemos “We’re All Fucking Morons”, a primeira malha do ábum, a tocar. Desde essa primeira faixa que tudo parece ser urgente, tudo vertiginoso, um abismo de som em que apetece cair, ir caindo (talvez seja mais isto do que aquilo), de preferência com a companhia certa, adivinhando que a noite possa vir a ser longa, voluptuosa e deliciosamente lasciva.



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