domingo, 24 de dezembro de 2023

Big Thief – Two Hands (2019)


 

Dois discos brilhantes num ano civil, eis a banda que importa reter de 2019, eis os Big Thief.

Editar dois álbuns no mesmo ano não é para qualquer banda. Os King Gizzard levaram a coisa a um extremo impensável com os seus cinco (sim, leu bem, 5, cinco) álbuns em 2017, que lançou os seus fãs em discussão acesa sobre qual seria o melhor deles nesse ano, debate naturalmente inconclusivo (sendo que no top Altamont ficou apenas o Sketches). Agora eis que em 2019 teremos novo debate sobre qual o melhor álbum dos Big Thief, entre U.F.O.F. e este Two Hands. E é aqui que começo a opinar, neste artigo que não deixa de ser de opinião – importará discutir isto, quando são ambos a roçar a perfeição? Quando são ambos fruto de uma banda num claro pico de forma, de uma simbiose tão natural entre os seus membros como mostra a capa do álbum? Será mais um debate inconclusivo, pelo que passemos ao próximo.

Two Hands tem um arranque suave e lento, “Rock and Sing”, música de abertura serve para mostrar ao que se veio – um disco cru, em estilo gravação ao vivo e no momento: “Hand me that cable / Plug into anything / I am unstable / Rock and sing‚ rock and sing”. Vamos a isso Adrianne! “Forgotten Eyes” versa sobre a indiferença das pessoas para com os sem-abrigo, virando cara e seguindo caminho, enquanto que “The Toy” vai ao pertinente tema das armas que proliferam nos lares norte-americanos. A sonoridade que acompanha ambas as canções é suave, a tradicional combinação guitarra, baixo, bateria, folk rock sem merdas acessórias, onde a voz de Lenker é o instrumento essencial. Passamos por “Two Hands” e “Those Girls” e eis que chegamos ao pico de intensidade do disco.

“Shoulders” é uma música que os Big Thief já vêm tocando ao vivo em várias ocasiões, e chega-nos agora a tão almejada versão de estúdio. Arranca como jam session, com o típico one two three four, e deixamo-nos logo arrepiar pelo timbre de voz, pelo pedido para que acordemos, para que lhe toquemos na pele, a força motriz de um “It’s in me, it´s in me” mais adiante que vem das entranhas. Termina e levamos logo com “Not”, música que marcará indelevelmente o ano em que nos encontramos (vídeo mais abaixo). Um portento de seis minutos, repartidos entre Lenker e o seu mantra intenso, e um tremendo solo intrumental de guitarra nos dois minutos finais, ponto a partir do qual nos damos por vencidos pelos Big Thief. Eis o Olimpo.

“Wolf”, “Replaced” e “Cut Your Hair” formam o trio final, que nos acompanha na ressaca de “Not”. As histórias que Lenker nos coloca à frente são sempre perspicazes e incisivas, e não requerem muito adorno para agarrar quem as ouve, pelo que qualquer uma delas sabe que nem ginjas no momento em que nos encontramos, derreados e convencidos.

Com uma mistura perfeita de força visceral e intimidade, Two Hands enriquece ainda mais a impressionante discografia dos Big Thief, que se torna cada vez mais profunda e inspiradora a cada novo álbum. Felizmente ouviram as minhas preces e teremos possibilidade de os ver ao vivo em sala própria, Lisboa ao Vivo 17 de Fevereiro e Hard Club (Porto) no dia seguinte. Imperdível.


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