// Um colapso emocional que traça diálogos entre o metal técnico progressivo e o jazz a partir de uma matriz instrumental.
Blacktorch é uma banda fundada em 2016 em Buenos Aires, Argentina, pelo guitarrista, compositor e líder Juan Polastri e pelo baterista Gabriel Pozzo. Em 2017 a formação cresceu, composta pela dupla Polastri e Pozzo + Matías Mena na segunda guitarra , Matías Amor nos teclados e Diego Landa no baixo. Com este grupo, no final de 2018 alçaram voo naquela que seria a criação do seu álbum de estreia, mas em todo o caso trouxeram à luz um pouco da sua imaginação em palco.
A verdade é que a sua construção já estava a tomar forma na mente de Polastri antes mesmo do início e, embora tenha contado com a ajuda dos companheiros, a viagem foi mais longa do que poderia imaginar. A pandemia de 2020 e 2021, embora tenha interrompido a vida dos shows, foi apresentada como uma oportunidade perfeita para fazer os últimos arranjos, terminar o álbum e assim finalmente lançá-lo no final de 2022 junto com o retorno aos shows e a substituição de Landa por Maximilia no Martín no baixo.
Esta estreia, que chamaram e conceituaram de “Colapso Gravitacional” como uma referência aos processos do fenômeno do colapso gravitacional e do colapso interno de um corpo estelar até formar um buraco negro, explora em seus aspectos sonoros as nuances mais sofisticadas e virtuosas de o metal progressivo em tom instrumental. É composto por 6 músicas e duração total de aproximadamente 32 minutos.
A abertura, “In The Beginning”, é introduzida com uma roupagem de rock melódico e folk com nuances de jazz, mudando subitamente o ambiente sonoro para um estruturado por composições complexas e virtuosas num estilo técnico-progressivo que mais tarde nos acompanhará durante grande parte do o emprego. É o início do caminho para o qual nos encaminham, mas também representa o início daquela ruptura de que os músicos querem falar.
“Angel of Darkness – Arrange” é uma interpretação precisa e fiel de “Angel of Darkness” do músico Andy James. [cuja abordagem da música, aliás, também abraça o virtuosismo do metal progressivo instrumental. ]
“Happiness” e “The Rage” aparecem como um díptico ou encontro de emoções contrárias. Enquanto o primeiro, baseado nos solos de guitarra melódicos, consegue refletir a felicidade a partir de uma visão um tanto tempestuosa, o segundo, por sua vez, experimenta looks com flashes de stoner metal para sugerir inequivocamente a raiva que ocupa o centro do palco no ar, raiva que em qualquer caso exibe seu lado completamente imerso na raiva mas também seu lado mais reflexivo e calmo, culminando com uma pequena passagem na linguagem hardcore – death metal.
“Transitions” analisa a paleta completa de cores que o álbum estava revelando. Entrando em cena como uma reprise dos tons pesados de “The Rage”, ele simultaneamente desenha diálogos com paisagens excêntricas, mas doces, e arranjos etéreos que se transformam em synthwave e dão um toque de ralternativa efêmera, mas -pé no chão- ao mesmo tempo.
“The Goodbye” é o ponto de viragem da viagem, sendo uma peça que se afasta quase completamente das cores progressivas, revelando com maior ênfase o rosto melancólico e introspectivo dos intérpretes. A pista é de facto o momento culminante que, ao mesmo tempo que fecha o círculo com a forma como a placa foi descerrada, proporciona um espaço para reflectir sobre o sucedido.
“Gravitational Collapse” surge como uma excelente carta de apresentação do quinteto para aqueles ouvintes de bandas como Animals As Leaders ou Liquid Tension Experiment e que gostariam de ampliar seu repertório diário. É um álbum que, como um vento que vai e vem, nos transporta das paisagens mais escuras e tempestuosas para as mais luminosas e serenas de um momento para o outro, no seu caminho, presenteando-nos com a expertise que cada um dos integrantes do a banda possui em seus respectivos instrumentos. A sua paleta é progressiva, é técnica e complexa, mas também harmónica e melódica, traçando assim diálogos entre o metal técnico progressivo e o jazz numa matriz sem voz.
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