terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Grateful Dead – Live/Dead (1969)

 

O documento definitivo da era psicadélica dos Grateful Dead e um dos melhores discos ao vivo dos anos sessenta.

O ano de 1969 foi decisivo na carreira dos Grateful Dead: O desastre comercial do seu último disco Aoxomoxoa deixou-os endividados para com a editora. A solução? Gravar um disco ao vivo no Fillmore West. Era barato e permitia ao grupo finalmente demonstrar a sua versatilidade musical, tão frequentemente castrada pelas imposições comerciais dos seus discos de estúdio. O resultado é um dos discos ao vivo definitivos dos anos sessenta.

É impossível, volvidos cinquenta anos, escrever algo de novo sobre esta versão monolítica de “Dark Star”. Com vinte e três minutos, a canção dá ampla oportunidade aos músicos de exibirem os seus dotes musicais. As linhas melódicas de Jerry Garcia fluem pelo espaço, sempre acompanhadas pela harmonia aventureira de Bob Weir, enquanto Phil Lesh no baixo e Tom Constanten no orgão fazem a cama musical. Após o seu segundo verso, a música metamorfoseia, transformando-se em “St. Stephen” que, após uma breve ponte, dá lugar a uma versão clássica de “The Eleven”, sem dúvida a canção mais jazzística de todo o disco, graças às baterias elásticas de Bill Kreutzmann e Mickey Hart e ao riff em espiral de Jerry Garcia. Esta sequência termina com o maior contributo de Pigpen à música dos Grateful Dead, a versão definitiva de “Turn On Your Love Light” que inclui tudo aquilo a que temos direito: secções de call and response, interações com o público e, claro, uma dose saudável de improvisação.

Estamos em 1969 afinal de contas, e a sequência Dark Star->St. Stephen->The Eleven->Turn On Your Lovelight é o núcleo de cada concerto dos Grateful Dead, uma rampa de lançamento para a banda se atirar de cabeça para o desconhecido. Mas se há coisa que define a carreira dos Grateful Dead é a variedade da sua música. Apesar de serem considerados A banda psicadélica, o R&B e principalmente o blues foram formativos no período em que o grupo estava a dar os seus primeiros passos. “Death Don’t Have No Mercy” é um testemunho dessa influência. Esta canção, originalmente escrita por Reverend Gary Davis, é um blues soturno, dominado pelo teclado apocalíptico de Pigpen e os murmúrios sorumbáticos de Jerry Garcia. Pouco tempo depois, como se a própria morte descesse ao Fillmore, os guitarristas apontam as suas guitarras para os amplificadores, enchendo a sala de feedback destrutivo. No final, sobram apenas as vozes dos músicos para cantar “And We Bid You Goodnight” uma canção de embalar para nos trazer de volta à terra depois do excesso a que fomos submetidos na última hora.

Passaram cinquenta anos desde que Live/Dead foi editado mas podemos sempre voltar a ele e encontrar algo de novo no emaranhado denso da sua música. Foi o primeiro sucesso dos Grateful Dead e, possivelmente, o disco que iniciou o culto à banda que se mantém até hoje.



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