terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Ezra Furman – Twelve Nudes (2019)


 

Voz cheia de distorção, gritos, reacção e crueza. Ezra Furman regressou com Twelve Nudes e talvez não seja nada do que estão à espera.

O disco anterior Transalgelic Exodus foi um dos lançamentos a descobrir no ano passado mas pelos vistos, Ezra Furman já estava noutra. A gravar este Twelve Nudes em apenas dois meses, entre fumo e álcool, segundo o próprio. Sem saxofones, com arestas cortantes em vez de canções polidas, a ideia foi fazer um disco áspero, com mensagem política num estado mais emocional que partidário, traduzido em rock rasgado a punk.

Com uns toques à Jack White na distorção vocal, várias progressões que lembram desde algumas baladas dos anos 50 até Lou Reed, Springsteen, Car Seat Headrest ou Sex Pistols, este disco está longe da qualidade cinemática do trabalho anterior mas nem por isso deixa de proporcionar uns bons momentos de escuta. Neste seu quinto álbum a solo, Furman criou o seu espaço na ambiguidade de género, na extrapolação de pronomes e quebra de normas. Do judaísmo à crise de identidade de género, Ezra encontrou uma forma de se exprimir entre a positividade da negatividade, como uma catarse na denúncia ou retrato dos Estados Unidos e de si mesmo. Em “In America” o cantor pede uma canção de amor pelo país denunciando as inconsistências, em “Rated R Cruzaders” fala sobre o conflito Israel/Palestina, em “Evening Prayer AKA Justice” incita à acção (Give yourself a physical record/Deliver that fire in the real world/And tell them that E Furman sent ya) e em “I Wanna Be Your Girlfriend” canta uma balada sobre ele próprio (Honey, I know that I don’t have the body you want in a girlfriend/What I am working with is less than ideal).

Ao longo de onze canções, Ezra Furman mantém o rock, a atenção e a intensidade, com a mais longa das músicas a ter apenas três minutos e vinte e nove segundos. O título do disco é uma homenagem à poetisa, filósofa e ensaísta Anne Carson que descrevia como “nudes” as visões e meditações que tinha para lidar com a dor na sua vida. Furman sentiu-se a tocar nas suas angústias, medos, raivas e ansiedades, daí os seus “Twelve Nudes”. Talvez ele ou nós sejamos esse 12.

Um disco por vezes lacerante mas agradável que nos quer lembrar que para ser ouvido, às vezes tem de se gritar.



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