Ángel Ontalva - 'A Haunted, Hidden World of Caves'
(3 de março de 2023, OctoberXart Records)
Temos o enorme prazer de apresentar esta obra fonográfica da estrela espanhola ÁNGEL ONTALVA intitulada “A Haunted, Hidden World Of Caves”, que foi publicada na sexta-feira, 3 de março deste ano de 2023, pelo selo OctoberXart Records. Com o passar dos meses, revela-se um trabalho muito marcante até agora este ano dentro da produção progressiva mundial realizada em Espanha, o que não é novidade porque, seja como membro do OCTOBER EQUUS ou como solista ou associado a outros, Praticamente tudo o que este homem produz revela-se uma maravilha (sempre enquadrado no rock e jazz de vanguarda, ou na experimentação de formas livres). Pois bem, este álbum, segundo o próprio ONTALVA, inclui composições inéditas, outras que foram relegadas por não terem encontrado lugar adequado nos álbuns anteriores, três que se destinavam a um projecto de grupo que nunca se concretizou, e ainda, uma versão remodelada de uma peça de um antigo álbum solo que, nesta ocasião, recebeu um arranjo especial do maestro John Falcone. Em “A Haunted, Hidden World Of Caves”, ONTALVA multiplica seus papéis como guitarrista e baixista. Seus colaboradores incluem Víctor Rodríguez (teclados), Ivan Fedotov (bateria e percussão) e o já mencionado John Falcone (fagote, clarinete e sax tenor); outros são Vitay Borodin (violino) e Markus Breuss (trompete). Vemos figuras de OUTUBRO EQUUS e VESPERO nesta lista. Como de costume, ONTALVA ficou responsável pela composição do material, pela produção do álbum e pelas ilustrações que compõem a arte gráfica. Preciso repetir que ele também tem um grande talento para as artes plásticas? Em particular, esta capa revela imagens mais suntuosas e perturbadoras do que outras capas feitas pela ONTALVA. Os processos de mixagem e masterização ficaram a cargo dele e de Amanda Pazos Cosse, enquanto Francisco Macías atuou como produtor executivo. Pois bem, vamos de uma vez por todas revisar os detalhes do repertório deste lindo álbum.
O início de tudo é trazido por ‘Golden Path’, uma peça de pouco menos de 3 minutos de duração que exala uma agilidade única e vibrante onde a tensão inerente ao desenvolvimento temático é tratada com vigor palaciano. A exuberância incansável da bateria proporciona um contraponto muito interessante aos fraseados ousados do violão, que atingem um paroxismo peculiar em seus momentos finais. Segue-se então a dupla 'Stone Trees' e 'The Smoke Of Your Fires', duas músicas que estabelecem diretrizes importantes para o desdobramento de uma versatilidade operacional que joga a favor do bombástico do álbum como um todo. A primeira dessas músicas mencionadas é a mais longa do álbum, com duração de mais de 5 ¾ minutos. Expande-se numa aura de serenidade contemplativa que permite a construção de um eficaz caminho jazz-progressivo pavimentado com um lirismo delicado, que depois é enriquecido pela presença do violino, que entra em acção precisamente no momento em que o piano começa a tocar. adornar a sua posição dentro do elegante quadro colectivo. Em geral, aqui respira-se um ar crepuscular com certas nuances acinzentadas, mas também com recursos de remanso bem definidos. Por sua vez, 'The Smoke Of Your Fire' é orientado para uma confluência de rock de câmara e RIO onde se notam as conexões estilísticas com o HENRY COW do último álbum e o padrão FORGAS BAND PHENOMENA, além de algumas arestas do ECLECTIC MAYBE BANDA. Tudo flui de uma forma muito natural e controlada enquanto algo perturbador se espalha armado com o seu próprio mistério sob a superfície. Com o seu protagonismo, o fagote parece dirigir o desenvolvimento temático até chegar à secção do epílogo, que se volta para algo que parece onírico mas que, pelo contrário, se revela nebuloso. 'Tunnels' estabelece um cruzamento muito inspirado entre a serenidade imponente da segunda faixa do álbum e a exuberância majestosa da primeira, com especial destaque para a primeira. Existe uma vitalidade extrínseca que permite que as cores fornecidas por cada instrumento performativo se unam numa tela sonora mágica, que se situa entre o evocativo e o assertivo através de uma densidade oportunamente contida. Um grande apogeu do álbum. 'Eye Of The Desert' eleva-se para uma cerimónia que se sente confortável em expandir-se num ambiente cósmico onde o psicadélico e o fusionesco unem forças para concretizar e enriquecer o esquema temático desenhado para a ocasião. A natureza flutuante da engenharia de grupo não impede que alguma força apareça em certas passagens estratégicas.
'The Lure And The Coordinates' é a segunda faixa mais longa do álbum (também com pouco mais de 5 ¾ minutos) e acaba sendo outra passagem particularmente destacada do álbum. ONTALVA e seus comparsas regressam plenamente ao caminho do lirismo que brota do jardim musical habitualmente cuidado por este homem. As ondas do piano e as linhas sedutoras do violino criam um enquadramento marcante que é enriquecido pouco depois pelos sugestivos solos de guitarra, que exorcizam as influências de Henry Kaiser e Fred Frith. No final das contas, esta peça cumpre plenamente a função de levar o álbum ao clímax da maestria do jazz progressivo. 'Beehive On The Wall' segue, em parte, o caminho traçado pela peça anterior, acrescentando nuances e texturas semelhantes aos recursos de exuberância pletórica que já percebemos em outros itens do repertório. 'Free In The Dark Hills' é uma música divertida com uma abordagem marcada de jazz-rock e certas referências ao padrão do rock psicodélico do final dos anos 60 em termos de seu groove principal. Quanto à melodia, aventura-se na fusão com elementos orientais exóticos. Na seção do epílogo, a trombeta cria uma elegia à folia que já se extinguiu. 'A Wide Vessel' estabelece, nos seus pouco menos de 4 minutos de duração, uma viagem invulgarmente quente por uma área de calor envolvente e progressivo. As orquestrações de sintetizadores abrem a porta para um swing elegante que, devido a uma intervenção posterior da guitarra, adquire recursos momentâneos de tensão. De qualquer forma, não demora muito para que a peça retorne ao seu swing original e, a partir daí, se prepare para pousar num enclave sonhador e cósmico. (Talvez este fosse o caminho que KING CRIMSON de 1971 poderia ter seguido se tivesse se aventurado mais nas pradarias de Canterbury.) Com pouco mais de 2 minutos e meio, 'The Place Where You Were Born (Without A Trace)' fecha o repertório. É uma peça que retoma e remodela aquela que encerrou o álbum “Songs To Say Goodbye”, editado em fevereiro de 2021. O tenor elegíaco que marca a essência desta composição revela certos vestígios de agilidade (um tanto contida, mas não escondida) pelo trabalho e graça dos graciosos arranjos de sopros, que também abrigam alguns breves solos de guitarra em meio ao seu enquadramento bem definido.
Tudo isto foi “A Haunted, Hidden World Of Caves”, um novo trabalho notável dentro da extensa discografia de ÁNGEL ONTALVA, solista ou não. Pois bem, este é um álbum a solo e exibe uma nova efusão de engenho musical através dos vários recantos que se revelam nesta caverna artística deste mestre, uma caverna cheia de feitiços musicais. Tendo em conta o número de meses que se passaram desde a publicação de “A Haunted, Hidden World Of Caves”, teríamos preferido terminar esta revisão muito mais cedo, mas bem, como dissemos no primeiro parágrafo e repetimos agora, temos neste álbum uma das referências mais notáveis da produção progressiva espanhola deste ano de 2023. Não devemos perder de vista o incansável ÁNGEL ONTALVA, que tem outro álbum deste mesmo ano com o título “Black Pyramid”, além de ser preparando aquele que será o novo trabalho de estúdio do conjunto hispano-russo SEAORM (sem contar um álbum ao vivo do grupo em questão publicado em outubro passado e outro álbum solo ao vivo alguns meses antes). Focando exclusivamente em “A Haunted, Hidden World Of Caves”, só podemos concluir que é totalmente recomendado em qualquer boa biblioteca de música contemporânea.
- Amostras de 'A Haunted, Hidden World of Caves':
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