quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Ars Diavoli – “Clausura”

 

Ars Diavoli – “Clausura”

Lançamento: 2010

Sonoridade: Black Metal, Depressive Suicidal Black Metal

Editora: Bubonic Productions, BBP020

Produção: Vilkacis

Capa: Vilkacis, Ursula Mestre (foto)

Formato: CD (audição em streaming)

Lista de músicas:

1 - Súbito Vazio

2 - Retrato

3 - Devagar... Morre

4 - Momento Inerte

5 - Para lá do Silêncio

6 - Ausente

7 - Vertigem


A música erudita é valorizada enquanto cultura quer pela importância histórica, quer pelo equilíbrio e objetividade da estrutura formal da composição, assim como da precisão na interpretação. Enquanto a música popular se baseia em sentimentos ou práticas folclóricas, permitindo improvisação ou interpretações menos precisas. O facto é que se disseminou de forma abrangente, fazendo parte da cultura de massas e de consumo imediato. As ramificações da música popular são hoje incontáveis. Alguns géneros musicais tornaram-se mais elitistas, outros regionais, outros socialmente interventivos, enfim, a diversidade é fruto da criatividade. O que é que isto tem a ver com os Ars Diavoli e o álbum “Clausura”? Nada ou tudo! Isto porque a banda pratica Black Metal depressivo, um género de música popular muito específico e dirigido a um nicho muito restrito de apreciadores. O que me questiono é – que importância terá o Black Metal daqui a 50 anos ou mais? Será como o Punk? Ficará na história como um movimento cultural que influenciou muitas bandas, deixando rasto, mas que no fundo a sua essência foi perdendo significado? Será como o Jazz? Criará um crescente nicho de apreciadores, ganhando importância enquanto género. Passando de maldito a respeitado? Ou simplesmente cairá no esquecimento? A verdade é que o Black Metal tem vindo a crescer em número de bandas, músicos e seguidores. Há, sem dúvida, uma aura de culto em torno do género, o que o torna atrativo. O mistério, alguma sublevação, o exacerbar das características blasfemas do Heavy Metal, tudo isto criou uma empatia ou até uma subjugação ao estilo. Mas mais interessante é a diversificação estilística. É talvez o subgénero do Heavy Metal que mais denominações assume consoante os detalhes do contexto lírico e instrumental na atualidade. Por isso, sou levado a pensar que o Black Metal poderá assumir um papel de maior relevo na história da música daqui a muitas décadas!

Todo este discurso foi inspirado na audição do álbum “Clausura” de Ars Diavoli, um projeto de um só músico, Vilkacis. Esta insularidade artística é comum no Black Metal. Um só criador assume todas as componentes criativas e interpretativas. É este o caso. “Clausura” é o segundo longa duração do projeto oriundo de Faro. Uma onda negra e depressiva atravessa todas as sete músicas, em agonia e maldição. Baixo soturno em suplicação, bateria prostrada à melancolia das guitarras que definham em acordes repetitivos. Uma voz em comiseração arrasta-se em lamentos possessos. Aqui e ali umas sombras de sons taciturnos que as guitarras deixam a pairar devido ao reverb. Uma produção de baixa fidelidade, também algo muitas vezes acarinhado pelos protagonistas da cena Black Metal, adoradores dos sons crus. Esta peça de DSBM (Depressive Suicidal Black Metal) exorta as particularidades do género já exploradas por bandas como: Silencer, Nargaroth, Forgotten Tomb, Abyssic Hate, Bethelem, entre outras. Um som mórbido, depressivo, que eventualmente encontra paralelo nas líricas muito sentimentais, tristes e desesperadas (não consegui acesso às mesmas). Raramente o ritmo acelera, excetuando apontamentos de duplo bombo ou um ritmo mais acelerado em passagens na música “Momento Inerte”. Na generalidade o ritmo é down tempo arrastando-se para a morte. O último tema “Vertigem” é talvez o mais exploratório em termos de sonoridade, abrindo a porta a um final misterioso. Um álbum de harmonias simples a contrastar com a complexidade sentimental. Uma proposta para apreciadores e um desafio para o futuro.


Músicos (que gravaram o álbum)

Vilkacis - todos os instrumentos e voz


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