domingo, 11 de fevereiro de 2024

The Cure – Wild Mood Swings (1996)


 

Depois de três discos que os levaram ao topo do mundo, os Cure começam a perder o gás em Wild Mood Swings, que apesar desse facto mantém alguns pontos de interesse

Como diz o ditado, “tudo o que sobe tem de descer”. E foi isso que aconteceu aos Cure, depois de três discos que compõem talvez a sua sequência mais forte e comercialmente conseguida. Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me (1987), Disintegration (1989) e Wish (1992) viram a banda de Robert Smith crescer de popularidade de álbum para álbum. No início da década de 90, eram claramente um dos maiores grupos do mundo. E depois? Depois veio a queda.

Os Cure são famosos pelos tumultos internos e pelas alterações de membros, sendo Robert Smith a única peça que se manteve, ao leme, do princípio ao fim. Depois de Wish, do sucesso na MTV e de extensas digressões mundiais, as fissuras voltaram ao de cima. O guitarrista foi-se embora, veteranos que haviam saído, como Simon Gallup e Roger O’Donnel, voltaram, enquanto na bateria, enfim, ninguém sabia muito bem quem tocava. Para além disso, Smith estava ainda marcado pela longa batalha judicial com o antigo e influente membro Lol Tolhurst, que reclamava royalties não pagos.

Mas não eram só os Cure que tinham mudado. Em 1996, a febre britpop estava no auge, com a pátria de Smith cantando o “Common People” pelas ruas. A banda que há tanto tempo era uma das maiores exportações musicais do Reino Unido era agora vista como algo ultrapassado, a sua maquilhagem gótica contrastando com a cor das ruas da Londres de Parklife.

Os Cure nunca haviam demorado tanto tempo a lançar um disco. Wild Mood Swings aparece em 1996, quatro longos anos depois do anterior Wish, e na verdade estava tudo tão entretido com o que entretanto tinha acontecido em Seattle e no Reino Unido que, fracamente, ninguém parecia estar muito interessado em aplaudir avidamente o regresso dos Cure.

Smith estava esgotado criativamente e, para este disco, ignorou olimpicamente os prazos impostos pela editora. Demorou mais do que o costume a escrever as letras, a banda não estava em grande forma com as constantes mudanças de formação, e a mansão que arrendaram para ir gravar inspirou-os em vários sentidos, mas não apressou os trabalhos.

Depois do sucesso anterior, Smith precisava de agitar as coisas. O produtor David M Allen, parceiro de longa data da banda, foi deixado de lado, e para o substituir foram escolhidos vários produtores distintos, que iam mexendo em algumas canções cada. Wild Mood Swings tem boa parte da sua explicação no título: mudanças bruscas de humor, esquizofrenia estilística, depressão e euforia, inspiração e imitação de rotinas antigas.

Quando o disco chegou finalmente às lojas, a reacção foi maioritariamente negativa. A imprensa britânica, embriagada pelo britpop que ajudara a criar, olhava os Cure como uma relíquia chata e irrelevante. O primeiro single também não ajudou, com os fãs sem saber o que fazer da pseudo-salsa de “The 13th”. Os Cure já haviam antes surpreendido com fórmulas musicais inesperadas (como em “Lovecats”, por exemplo), e Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me também era composto por temas muito diferentes uns dos outros, e tinha sido um sucesso. Parecia que, em 1996, tudo o que havia antes funcionado era agora estranho, e motivo de causa para declarar o óbito.

Na verdade, e sendo justos, Wild Mood Swings está longe de ser um mau disco, embora seja sem dúvida uma obra menor na excelente discografia da banda. Há momentos que fazem realmente valer a pena: a abertura com “Want”, o som quase Madchester de “Club America”, o sol intenso da popíssima “Mint Car” ou o fecho com a densa e desolada “Bare”. Mas há também várias coisas irrelevantes e desinspiradas, num disco que ganharia se fossem cortadas algumas gorduras desnecessárias à sua mais de uma hora de duração.

Depois de uma carreira sempre a subir, Wild Mood Swings marca o início de uma certa irrelevância artística nas novas criações dos Cure, que passariam de certa forma a viver das enormes glórias do seu passado, mais do que do que pudessem trazer no presente.



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