domingo, 11 de fevereiro de 2024

The Cure – The Cure (2004)


 

Na ressaca do sucesso do nu-metal, os The Cure acrescentaram o peso certo à sua melancolia, participando na ressurreição do rock. O disco homónimo tem grandes canções mas foi eclipsado por novidades desse ano, como os Arcade Fire, Franz Ferdinand e Killers.

“Se não gostares deste disco, não gostas de nós.” Foi desta forma que Robert Smith preparou os seus ouvintes para o disco homónimo que viriam a lançar em 2004: é mais pesado e dissonante que os antecessores, sem abandonar a fórmula The Cure. Com a produção de Ross Robinson, que então trabalhava com Korn, Slipknot, At The Drive-In outros nomes conhecidos do nu-metal, então no auge da popularidade, os The Cure acrescentaram o peso certo à sua melancolia.

“Lost” abre o disco com Robert Smith a cantar, mais tremido e sofrido que o costume, que “não se consegue encontrar a si próprio”, acompanhado por um crescendo distorcido e poderoso de guitarra-baixo-bateria, que culmina no  frontman a gritar tão alto que chega a arranhar o growl. Os The Cure davam o mote para o que resto do disco: 12 bangers ruidosos e negros, mais próximos dos Placebo do que dos Buzzcocks, mas ainda distantes dos Limp Bitzkit, atenção. Os The Cure estavam a ser produzidos por um produtor de Nu-Metal, mas não ficaram a soar a Nu-Metal, como acontecera com os Metallica em 2003, um ano antes, com com o infame St. Anger.

Não que o produtor não quisesse. Em entrevista à Mojo, Smith revelou que o produtor tinha em mente um lineup de canções diferente, que incluiria canções mais negras que a banda decidiu deixar de fora. “Durante a gravação, fizemos cerca de 20 canções no total. Inicialmente, 15 delas foram escolhidas [para fazer parte do disco]. Dessas, mais três foram postas de lado – eram das canções mais deprimentes que já fizemos. O Ross ficou angustiado por as tirarmos do disco, e por isso ele fez um álbum de oito canções, todas elas as mais grandiosas, negras e tristes”, disse. Smith e Robinson compararam os respetivos lineups e… prevaleceu o disco do frontman dos The Cure. “Eu faço as decisões”, atirou o britânico. Hoje em dia, sabemos que canções foram deixadas de fora: as incríveis “Please Come Home”“A Boy I Never Knew” e “Strum”.

Não é por isso que faltam canções ao homónimo dos The Cure. O single escolhido (e bem) é o clássico instantâneo “The End of The World”, de melodia e hook viciante, cujo baixo acompanha a melodia da voz. “I couldn’t love you more”, repete Robert Smith vezes sem conta, como o fizera em The Head and The Door com “Inbetween Days” ou em Wish com “Friday I’m in Love”. É provavelmente uma das últimas canções-hino produzidas pelos The Cure e que ainda hoje em dia faz presença habitual nos concertos.

Dreamy e em vários tons de cinzento, ora preso num pesadelo (“Us Or Them”) ora num sonho (“I Don’t Know What’s Going On”), The Cure explora as intensidades que uma emoção pode ter numa canção. E só não é um dos melhores discos de The Cure porque… não é: faltam hits e coesão entre canções, como é DisintegrationO disco também pode ter sido eclipsado pelos concorrentes: com o rock ressuscitado três anos antes pelo Strokes, 2004 foi o ano de estreia dos Arcade Fire, The Killers e Franz Ferdinand, tal como o segundo disco dos Interpol.

No final do dia, é um disco de amor. Talvez por isso a capa do disco é feita dos desenhos dos sobrinhos de Robert Smith, após pedir-lhes rabiscos de um bom e mau sonho que tenham tido.



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