Gooey é o primeiro álbum de Miguel Vilhena a solo, sob o nome Niki Moss. Não sendo um nome que à partida desperte muita simpatia, já que remete imediatamente para coisas verdes que se agarram a árvores e pedras, parece ser uma homenagem a dois pilotos de F1, o que vale logo um ponto nesta corrida por discos do ano.
Não que o multi-instrumentista precise deste ponto em questão, tendo em conta que o disco vale por si. Em boa medida electrónico e rock sem ser abertamente de nenhum dos lados da barricada, Gooey arranca com dois singles que rodam em rádios nacionais. Um feito de Niki Moss, que no primeiro disco consegue inserir-se nas playlists das rádios com bom gosto com quatro temas. Até chegarmos ao outros dois passamos por “Standing in The Dark”, tema com uma boa e simples linha de baixo que domina a música pontuada de efeitos de sintetizador no refrão.
A continuar a analogia do início, os singles serão as rodas do carro porque são quatro ou o chassis que sustenta o disco. De qualquer forma parece que estamos a levar a figura de estilo demasiado a peito sem qualquer fundamento. Voltamos à música.
Sobre os singles não haverá muito a dizer que não seja já conhecido dos ouvidos do público. “Soylent Green” flui suave até ao refrão marcado na bateria, “GP Motorcycle Racing” não lembra auditivamente a adrenalina das corridas na parte musical mas exalta os feitos da velocidade que ele admite nunca ir sentir. “There Must Be Something In The Water” é dominada pelas guitarras e será a mais parecida com a banda de Vilhena, os Savanna, com o refrão isolado com quebras sempre surpreendentes. Ainda assim é uma aproximação forçada, já que Niki Moss tem a sua própria identidade musical. Em termos de tom, Vilhena consegue uma coisa sempre deslumbrante que é a capacidade de mudar de tom de forma nunca previsível, na voz e na música, com um excelente e trabalhado jogo de pausas que destacam precisamente o que é importante.
“Avalanches” é o último dos singles deste disco, cronologicamente e em número de faixas, exactamente no meio de Gooey. Dentro dos singles é a mais anódina, com uma boa quebra no fim do refrão, antes de um solo que nos faz abanar a cabeça levemente. Na letra é das mais engraçadas com Niki Moss a cantar “Avalanches, people falling everyday”. Liricamente as canções aguentam-se todas, com piada e sentidos múltiplos, nunca soando forçadas durante todo o disco.
“Dynoflier” é um enchimento de um minuto e 18 segundos, um bom riff que não chega a ir a lado nenhum e deve ser óptimo em concertos se for mais esticado. Esta cai claramente do lado do rock. Já a seguinte, “Brainman”, puxa mais ao electrónico, numa onda animada que lembra Kinks, mais na maneira de cantar do que no som, se bem que a guitarra que aparece, cristalina, e o piano a seguir, ajudam sustentar a semelhança.
Nesta altura se não estamos permanentemente embalados e a abanar ligeiramente o corpo devemos estar surdos de vez. “The Rites of Spring” é sucedida por “The Bend of The World”, talvez a mais surpreendente música do disco, com coro à “Wall of Sound” no início, um refrão que nos põe fora de pé e devolve gentilmente ao caminho, pontuado de nuvens negras no meio da música. Por fim, “Watching The Paint Dry”, onde Miguel Vilhena grita silenciosamente sobre o aborrecimento, coisa que nunca sentimos ao ouvir Gooey, disco que melhora a cada vez que se ouve e tem pontos suficientes para o campeonato de melhores álbuns do ano. Se o mundo acabar ao som de Niki Moss vamos todos embalados e felizes.
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