A longa digressão que levou à estrada o álbum “Purple Rain”, numa altura em que Prince ascendia à primeira linha do estrelato global, abriu terreno a várias descobertas pessoais, de um novo relacionamento com espaços do jazz a um interesse aprofundado por discos da cena pop/rock de finais dos anos 60, ou seja, tempos caracterizados pelas visões caleidoscópicas do psicadelismo. Estes terrenos entraram no seu mundo através do entusiasmo partilhado por duas instrumentistas que então integravam os Revolution: Wendy Melvoin e Lisa Coleman. E abriram horizontes de interesse pelos quais se foram materializando as ideias que conduziriam Prince a um novo álbum ao qual chamou “Around The World in A Day”.
O álbum, que editou em 1985, revelava um caminho diferente dos trilhos de diálogo e flirt com o grande público que marcara o anterior “Purple Rain” e desencadeara um fenómeno de vendas. E expressava, mais do que nesse disco de 1984, uma demanda por novas soluções tanto na escrita como na instrumentação. Se entre as temáticas há manifestações de continuidade, já na forma de pensar as canções e de convocar instrumentos para os seus arranjos observamos aqui um projeto mais arrojado. O psicadelismo lança ideias e desafios – como fica evidente no tema-título ou em “Paisley Park” –, mas não fecha em si as possibilidades em cena. De resto, mais do que em qualquer disco anterior, Prince concebe um manifesto de diversidade que encontra na sua voz, nas palavras, na guitarra e na presença da percussão sintetizada a base de uma gramática que depois sustenta as rotas de liberdade que brotam do alinhamento.
A pedido de Prince, e para estabelecer um contraponto para com o disco anterior, “Around the World in a Day” foi lançado com um esforço mínimo de promoção, tanto que até mesmo os quatro singles extraídos do disco – “Raspberry Beret”, “Paisely Park”, “Pop Life” e “America” – só começaram a entrar em cena cerca de um mês após o lançamento do álbum.
O disco chegou contudo num tempo em que Prince decidiu parar de tocar ao vivo e também sob o efeito de ressaca aos acontecimentos de 1984 que então se abateu um pouco sobre o músico. O patamar de fama alcançado abriu novas frentes de curiosidade para além do jornalismo musical… Prince contudo não pareceu muito incomodado. Nem com as notícias. Nem com os resultados mais discretos das vendas (mesmo assim com alguns feitos significativos). Afinal estava já a trabalhar num novo projeto, envolvendo (uma vez mais) um disco e um filme.
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