terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Yukihiro Takahashi “Neuromantic” (1981)

 Editado em 1981 o terceiro álbum a solo de Yukihiro Takahashi (que integrava por aqueles dias a Yellow Magic Orchestra) tece pontes entre linguagens e geografias. 

Nascido em Tóquio em 1952, com um percurso inicial que o fez passar pela Sadistic Mika Band que, depois de algumas convulsões internas passaram a apresentar-se como The Sadistics, Yukihiro Takahashi estreou-se a solo em 1978 com Saravah!, um álbum pelo qual expressava uma curiosidade por ecos da cultura ocidental, em particular os universos da música lounge, todavia juntando à equação a presença dos novos sintetizadores e teclados elétricos… O seu percurso cruzava-se já, por esses dias, com o de dois outros músicos japoneses igualmente interessados pela exploração da música feita com nova tecnologia, entre os três nascendo então a Yellow Music Orchestral, que em breve e seria apontada no mapa mundo dos pioneiros da eletrónica nos espaços da música popular. Tal como aconteceria com os dois companheiros, o músico divide então o seu tempo entre o percurso a três e a continuação de uma obra a solo, editando em 1980 o álbum Murdered by The Music que assinala um repontar de azimutes aos caminhos da canção pop, vincando ao mesmo tempo a vontade em manter vivas as ligações à cultura ocidental (através não apenas da assimilação de formas musicais mas também com colaborações).

Editado em 1981, Neuromantic, terceiro álbum de Yukihiro Takahashi, corresponde ao momento maior de afirmação de uma linguagem pop made in Japan onde se conciliam cruzamentos entre os sinais dos tempos da cultura pop/rock global com marcas de identidade que, através dos primeiros discos da Yellow Magic Orchestra, tinham aberto possibilidades diferentes para uma cena pop eletrónica que então tinha a Europa como epicentro maior dos acontecimentos. Com afinidades com o que era então o som da Yellow Magic Orchestra (que nesse mesmo ano edita o álbum Technodielic), este terceiro álbum de Yukihiro Takahashi pode na verdade ser visto como o acentuar dos pontos de vista pessoais de um dos três ângulos do trio japonês. E sem que tal implique uma rota de divergência face ao trabalho do grupo, já que tanto Ryuichi Sakamoto como Haruomi Hosono estão aqui presentes, não só como músicos mas até mesmo como autores, cada qual assinado uma das canções deste disco.

Além desta visão japonesa (e pessoal) sobre as possibilidades que então se abriam para a canção por, Neuromantic não abandona o gosto em manter firmes as pontes para com a cultura ocidental (que na verdade recuavam, em Takahashi, aos dias da Sadistic Mika Band). Desta vez entram em cena nomes como os de Tony Mansfield (dos New Musik) e Phil Manzanera e Andy MacKay, respectivamente guitarrista e saxofonista dos Roxy Music. Do encontro entre todos, sob produção do próprio Takahashi, nasce um disco que explora os sabores e caminhos da pop então em voga entre os discípulos de Bowie (e das Bowie Nights londrinas), sugerindo o próprio título do disco um piscar de olho aos “new romantics” que então davam que falar. O alinhamento traduz visões em vários sentidos, do fulgor pop mais dançável de Connection (título usado nas edições internacionais) ao elegante Drip Dry Eyes, com espaço ainda para explorar alguns momentos instrumentais. Apesar de algo esquecido pela distância, pela sobra da própria Yellow Magic Orchestra e pelo passar dos anos, Neuromantic é pérola a juntar a discos de nomes como os Visage, Ultravox, Devo, Taxi Girl, Duran Duran ou Heaven 17 para desenhar um retrato mais amplo do alargar de visitas que a música pop conheceu na aurora dos anos 80.




Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

João Donato - Bluchanga [2017]

  MUSICA&SOM Bluchanga, um lançamento da Acre Musical em parceria com a  Mills Records . Ouça "The Mohican and the great spirit&quo...