Editado em 1978, nascido da única parceria assumida entre os italianos Romano Musumarra e Claudio Gizzi, “Automat” é peça de referência do space disco de primeira geração.
Em finais dos anos 70, do flirt então vivido entre as possibilidades instrumentais levantadas pelos novos sintetizadores, o boom do disco sound e sonhos temáticos futuristas, num tempo em que o sucesso de Star Wars e Encontros Imediatos de Terceiro Grau abria uma nova etapa na história pop(usar) do cinema de ficção científica, nascia uma música de dança com sabor sci-fi.
Com as suas primeiras expressões há cerca de 45 anos, o space disco na verdade não foi um caso arrumado na história da música de dança. E basta ver os exemplos, já no século XXI, da obra de um Lindstrom, o renovado interesse maior pelo legado de Patrick Cowley, o surgimento de novas antologias e opções na banda sonora de vários filmes (entre eles Uma Nova Amiga, de François Ozon), para reparar como este universo continua a cativar atenções.
Um dos mais significativos projetos em álbum no universo do space disco de primeira geração, Automat é na verdade uma aventura a duas vozes, juntando o trabalho dos italianos Romano Musumarra e Claudio Gizzi. Ideia do primeiro, o disco foi produzido em 1977 ainda sob o impacte das primeiras visões sci-fi que Star Wars lançou na música e teve da Harvest (etiqueta da EMI) uma opinião favorável, quando tudo parecia indicar que a edição de um álbum instrumental do género seria muito arriscada. Curiosamente um dos primeiros a escutar o álbum, ainda antes de editado, foi Jean Michel Jarre.
O álbum, todo ele instrumental, nasceu das possibilidades lançadas pelo protótipo de um novo sintetizador analógico monofónico, o MCS70. O disco está dividido em duas partes, literalmente correspondendo queda qual a uma das suas faces. No lado A, assinado por Musumarra, a ‘suite’ que dá título ao álbum evolui, em três partes, ao longo de quase 17 minutos. O lado B junta mais três faixas, estas assinadas por Gizzi. A juntar ambas as faces uma narrativa centrada na ideia de que “no princípio havia a máquina”, o ponto de partida para um cenário sci-fi que a própria capa depois ajudava a materializar. A música ajudava depois a transportar as geometria mais metrológicas de algum krautrock para dimensões onde um melodiomo pop e a pulsação dos ritmos desenharam momentos que de certa forma ajudariam a lançar bases para linguagens que depois se tornaram dominantes entre finais dos anos 70 e a alvorada dos 80.
Gravado em apenas quatro semanas, Automat acabaria por ser a única parceria registada pelos dois músicos. O disco gerou algum impacte no momento do lançamento, mas com o tempo a sua memória acabou arrumada nas prateleiras do quase esquecimento. Houve apenas uma primeira reedição em CD já depois da viragem do milénio e uma segunda, mais recente, em 2019, a coincidir aí com uma nova prensagem em vinil na Itália. Droid, o tema que abre o lado B, foi editado como single, conquistando então alguma visibilidade que, contudo, acabaria destinada àquele espaço em tempos usado como separador de televisão ou trilha… Mecadance, que fecha o lado B, nota afinidades com minimalistas americanos (em particular Philip Glass). Já a suite que dá título ao álbum é um dos grandes monumentos da eletrónica (pop) dos anos 70. À distância de todo este tempo, vale a pena reencontrar este disco como um dos mais sólidos do space disco de primeira geração.
“Automat”, da dupla Automat, teve edição original em 1977, pela EMI.
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