I Am Easy To Find será, provavelmente, o disco em que os National mais arriscam, com sucesso, em que mais saem da zona de conforto, oferecendo um trabalho consistente, embora sem nenhum rasgo de genialidade.
Em todas as entrevistas os The National têm repetido que este disco nasceu por acaso. A banda estava preparada para uma pausa até que foram contactados pelo realizador Mike Mills, que queria colaborar. Foi dessa vontade (com vários passos intermédios, nomeadamente o envio de uma série de canções que não entraram no disco anterior) que acabou por surgir este I Am Easy to Find, anunciado de repente e acompanhado de uma curta-metragem de 26 minutos, com Alicia Vikander.
É, como diz a própria banda, um trabalho de colaborações, sobretudo femininas: além do filme com Vikander, cantam nomes como Sharon van Etten, Mina Tindle, Lisa Hannigan, Kate Stables (This Is The Kit), Eve Owen e o Brooklyn Youth Chorus e que conta ainda com a mão de Gail Ann Dorsey, que trabalhou com David Bowie desde 1995.
Este é o oitavo trabalho de estúdio do grupo norte-americano e o disco pega onde acaba o trabalho anterior, Sleep Well Beast. “You Had Your Soul With You”, o primeiro single que começou a rodar nas rádios, tem a energia de “The System Only Dreams in Total Darkness” mas sem os repentinos ataques nervosos libertos na voz de Matt Berninger.
Logo aqui os The National nos mostram o que vai ser este disco, cheio de vozes femininas, não apenas como suporte mas a preenche-lo, a enche-lo, a dominá-lo, com a voz rouca e profunda de Berninger muitas vezes em segundo plano. Nesta primeira faixa do disco a voz límpida de Gail Ann Dorsey surge de repente mas canta a frase mais emblemática da canção – “You have no idea how hard I died when you left”, e quantos de nós não pensámos já isto.
A escrita continua a soar a The National, as frases depressivas, a forma complexa de dizer o que se diria em poucas palavras. Desta vez, Carin Besser, a mulher de Berninger, teve um papel mais interventivo na escrita das letras embora essa maior intervenção não tenha feito o disco perder a identidade nas palavras atiradas por Berninger e cantadas pelo rol de presenças femininas ao longo das várias faixas:
Segue-se “Quiet Light”, uma balada ao estilo The National, que também já anda a rodar nas rádios, deliciosamente desarmoniosa como a banda tão bem sabe ser. Em “Roman Holiday” há referências a Patti Smith, outra grande figura feminina. “Oblivions” é uma doçura, uma dança entre a voz feminina (a mulher de Bryce Dessner, Pauline de Lassus) e masculina, pautada pelo martelar do piano e a bateria quase militar. Outros temas soam mais ou menos a The National, como “The Pull of You”, mas a voz feminina faz estranhar o som tão característico da banda. “I Am Easy to Find”, que dá nome ao disco, entranha-se calmamente e fala sobre abandono e espera. E pelo meio há interlúdios do Brooklyn Youth Chorus, como “Her Father in the Pool”, com pouco mais de um minuto de duração, e “Underwater”.
“Where Is Her Head” segue a ritmo desenfreado, com Eve Owen, e é dos temas que mais se destaca, quase pop; “Not in Kansas” começa como uma lengalenga e vai ganhando densidade, uma faixa longa, com 6:44, que inicialmente tinha cerca de 10 minutos. Destaque ainda para “Hairpin Turns”, uma das mais bonitas faixas do disco, e “Light Years”, que fecha o disco e é um dos momentos altos de toda a composição
Este é o trabalho mais longo da banda: 16 músicas, mais de 60 minutos – e talvez vivesse bem sem uma ou duas destas faixas. E apenas “Rylan” é tipicamente The National: as outras faixas são experiências e assumidamente colaborativas e, por exemplo, dispensaríamos bem “Hey Rosey” ou “Dust Swils In Strange Light”.
Explorando e arriscando os The National acabam por cair naquilo que as vozes críticas mais frequentemente dizem: fazem discos aborrecidos. Neste I Am Easy To Find não há músicas que se destaquem de sobremaneira ou que ecoem ainda não longínquo Boxer ou ao mais distante ainda Alligator. Se em Sleep Well Beast tínhamos, pelo menos, “Turtleneck” aqui não há nada que liberte a energia e tensão que fica concentrada sob a voz densa de Berninger e a composição abafada que precisa de explodir.
Este será provavelmente o disco em que a banda mais arrisca, com sucesso, em que mais sai da zona de conforto, oferecendo um trabalho consistente, embora sem nenhum rasgo de genialidade. Para mim, que tenho os The National como banda de eleição desde Boxer, há um grande reconhecimento do que aqui foi tentado fazer, aliado à desilusão de se ouvir tão pouco Berninger, de por vezes soar tão pouco a The National. Arriscaram, sim, e merecem o reconhecimento de terem produzido um bonito disco – mas não chega a excelente.
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